Radiografias do golpe
Diário da Manhã
Publicado em 18 de janeiro de 2018 às 23:19 | Atualizado há 7 anos
A intelectualidade brasileira começou a produzir obras esclarecedoras do Golpe Civil de 2016. Já não era sem tempo. A maioria do povo brasileiro sofreu, desde o início da trama, a influência perversa da grande imprensa que ajudou – e muito – a ascensão ao governo do país da escória da política brasileira. A quase totalidade dos formadores de opinião conseguiu massificar a opinião pública, inculcando-lhe a convicção de que o afastamento da presidente se justificava. A base jurídica que os golpistas arquitetaram foi, primacialmente, a de caracterizar a chamada “pedalada fiscal” como crime de responsabilidade. Não é preciso argumentar copiosamente que tal caracterização foi uma farsa. O próprio comportamento da Câmara dos Deputados no mesmo dia em que se aprovou o impeachment, significa um auto desmascaramento, porque ela, a Câmara Federal aprovou proposição no sentido de que “pedalada fiscal não é crime”. Foi um ato de quase inacreditável cinismo, mas que a imprensa nacional – televisiva, revistas e jornais; e emissoras de rádio – não atacou, não criticou e, pelo contrário, com essa omissão, convalidou. Pode-se dizer então que a grande maioria do povo brasileiro foi objeto de uma mistificação.
De poucos meses para cá, no entanto, brilhantes valores da intelectualidade brasileira já produziram excelentes obras de denúncia, sustentada em razões irrefutáveis, de como e para que se concretizou o Golpe Civil de 2016. O primeiro deles é o sociólogo e jurista Jessé de Souza (Jessé José Freire de Souza), com A radiografia do golpe editado pela Leya, editora paulista, 142 páginas, ano 2016.
A esse excelente livro se sucederam, com a mesma finalidade de conscientizar o povo brasileiro a respeito do golpe civil de 2016, várias obras interessantíssimas: Enciclopédia do golpe – Vol. 1, da qual são coordenadores Giovanni Alves, Mirian Gonçalves, Maria Luiza Quaresma Tonelli, Wilson Ramos Filho; A resistência internacional ao golpe de 2016, organizado por Carol Proner, Gisele Cittadino, Juliana Neuenschwander, Katarina Peixoto, Marilia Carvalho Guimarães. São 494 páginas de irrefragável conteúdo a desnudar a trama cujo resultado final foi a vitória do impeachment. A edição é do Projeto Editorial Praxis.
De igual porte é o livro intitulado O golpe de 2016 e a reforma da previdência, cuja coordenação tem como responsáveis quatro intelectuais: Gustavo Teixeira Ramos, Hugo Cavalcanti Melo Filho, José Eymard Loguercio, Wilson Ramos Filho, também edição da Praxis.
Igualmente pelo Projeto Editorial Praxis, tendo como organizadores Carol Proner, Gisele Cittadino, Gisele Ricobom, João Ricardo Dornelles, está nas livrarias a obra Comentários a uma sentença anunciada – O processo Lula.
Merece citação e indicação ao leitor O golpe de 2016 e a reforma trabalhista, coordenado por: Gustavo Teixeira Ramos, Hugo Cavalcanti Melo Filho, José Eymard Loguercio, Wilson Ramos Filho, também editado pela Praxis.
Comentarei essas obras em próximos artigos. Por enquanto, para fecho deste limito-me a reproduzir este tópico de A radiografia do golpe:
“Ao escrever este livro, meu interesse é possibilitar o entendimento por parte de qualquer pessoa com formação média e boa vontade para compreender como e por que a sociedade brasileira foi enganada em um dos golpes de Estado mais torpes de nossa história.
“Como o mundo sempre nos é exposto em fragmentos, nossa compreensão tende a ser sempre confusa, localizada, personalizada, dramatizada e, o que resume tudo, “novelizada”. Enxergamos apenas pessoas separadas em boas e más, e nunca percebemos os “interesses” que as movem. Contrapor-se a essa leitura dominante e superficial do mundo, que é reproduzida em praticamente em todos os nosso jornais e canais de televisão, é o fito deste livro. Meu desafio foi articular e tornar compreensível a complexa rede de interesses impessoais que, a exemplo do teatro de marionetes, prende os fatos que permitem criar o drama reproduzido pelas pessoas no palco da vida”.
(Eurico Barbosa é escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista e escreve neste jornal à sextas-feira. E-mail: eurico_barbosa@hotmail.com)