Opinião

Ratos, seus rabos e a Lava Jato

Diário da Manhã

Publicado em 31 de maio de 2017 às 03:01 | Atualizado há 8 anos

A Lava Jato escancarou o que já fedia há tempos: o congresso (Legislativo), a presidência (Executivo) e a justiça (Judiciário), os três poderes da república, estão infestados de ratos. Eles corroem nossos pés. A ninhada faminta organiza nas sombras os ataques à saúde, à educação, à produção de alimentos, ao transporte, à produção de fontes de energia (petróleo etc.), aos direitos trabalhistas… Está determinada a roer as férias, a aposentadoria, os salários, o FGTS… A fome da ratazana não poupa nada, não se contenta com altíssimos salários acima do teto “legal” como os que os “deuses” do judiciário recebem.

O teto dos salários no serviço público está em torno de 19 mil. Os juízes do Supremo Tribunal Federal (a nossa suprema corte) recebem mais de 30 mil. Enquanto quem produz alimentos e limpa a sujeira (famílias camponesas, quem trabalha nas indústrias de processamento de alimentos, quem cata lixo ou limpa as casas) tem dificuldades em conseguir um salário mínimo de menos de mil reais. Salários que a rataziada, manipuladora de inflação e juros, corrói. Uma pequena compra consome grande parte desse mínimo salário.

Os ratos se escondem atrás do voto. Se dizem representantes eleitos e, portanto, legítimos. A Lava Jato escancarou a quem os ratos representam: as grandes empresas. Construtoras, indústrias de alimentos, indústrias de entretenimento como a Globo. No mínimo! Os rabos dos ratos estão nas mãos dos proprietários dessas empresas, os empresários. Estes que fazem a festa e correm para Miami. As grandes empresas pagam fortunas aos ratos para nos convencerem de que vão nos representar no congresso, representar nossos interesses. Uma vez eleitos, os ratos fazem aquilo que seus financiadores mandam.

O empresariado também é um tipo de rato que rói os nossos pés. Patrões querem que trabalhemos mais e mais, sem parar, a vida toda, até morrer, sem férias, com salários que mal dá pra comer, morar, vestir… Estudar, passear, viajar…!? Não querem que tenhamos tempo pra ver e pensar no que fazem em seus esquemas. Ratos com as mãos nos rabos presos dos ratos na política. Uma máfia de ratos corroendo o corpo social. Eles não apenas corroem, eles armam arapucas, até para primos, e matam. A fome dos ratos parece uma febre, adoece aos poucos, se não cuidar, mata.

A Lava Jato mostrou, à luz do sol, quem segura o rabo dos ratos. O voto não nos garante muita coisa. Os ratos representam quem prende seus rabos. Em Brasília o enxame de roedores está alvoroçado. Tem donos de rabos jogando a rataria em ratoeiras e voando para longe. Ratos de asas parecem morcegos: lambem, mordem e sugam sangue. Mas descobrimos algo interessante: a mão que segura os rabos, controla a política.

Talvez tenha chegado a hora de tomarmos esses rabos em nossas mãos. O voto de quatro em quatro anos nos ilude que temos a rataria na palma da mão. Mas logo depois vemos que estávamos com as mãos na boca da ninhada. Ela lambe pacientemente até se eleger, depois morde. Abocanham nossas vidas retirando direitos, comendo os recursos públicos, fruto do trabalho. E cospem nos pratos que comeram. Aprovam projetos que interessam aos ratos voadores (empresariado) e que tornam nossas vidas ainda mais miseráveis.

O voto foi conseguido com muita luta. Acreditando que ao eleger representantes teríamos nossos interesses e projetos coletivos garantidos. Não deu certo. Como dizem: “Deu ruim”. Os rabos dos representantes foram pegos nas arapucas dos ratos vampiros (empresariado). Eleger vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores e presidentes se tornou uma ilusão. E se prendêssemos os rabos dos representantes?

A primeira tentativa foi impedir que ratos fossem eleitos. A lei da ficha limpa tentou isso. Se já roeu antes, convém não acreditar que não roerão novamente. Mas foi insuficiente. Os ratos do judiciário, também com os rabos presos pela vampirada, impediram. A proposta de proibir que empresariado banque a comida da ninhada, financiamento privado de campanha, parece insuficiente no país do caixa dois. E se prendêssemos definitivamente os rabos? O voto poderia ser uma indicação-procuração que pudesse ser retirada e transferida a qualquer momento. Quando elegemos alguém para nos representar damos uma procuração com conteúdo específico.

Fulano indica beltrano como representante, mas beltrano fica amarrado. Se não representar os interesses de quem o indicou, os fulanos podem retirar a indicação, a qualquer momento, e o beltrano perde a vaga. Teríamos esses rabos em nossas mãos, se nos morderem, os demitimos. Os morcegos não vão gostar. Estão acostumados a controlar os ratos. Mas se eles gritam: mãos ao alto! Gritemos: mãos aos rabos.

 

(Hugo Leonnardo Cassimiro, gosta de suco de graviola com morango, transmitir histórias na escola, viajar (sozinho ou em companhia prazerosa), aprender alguma arte nova, como a xilogravura, e investigar os destinos da diferença, do que tem se ocupado no doutorado em Educação da UFG)


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