Opinião

Razões filosóficas da existência de Deus

Diário da Manhã

Publicado em 9 de abril de 2017 às 01:16 | Atualizado há 8 anos

A Filosofia, por dedução do raciocínio lógico, racional, a priori, tem como afirmar, categoricamente, que Deus – causa primeira de todas as coisas – existe.

Essa causa primeira não pode ser material, mas sim imaterial.

2 – Joel Fernandes de Souza , em seu livro “Que é Deus?” , que desdobra a questão nª 1, de “O Livro dos Espíritos”, expõe , filosoficamente, a questão  de maneira surpreendente, de que extraímos alguns trechos.

O autor inicia suas ponderações, citando a questão nº 4, de “O Livro dos Espíritos”, para, em seguida, escandi-la:

Onde se pode encontrar a prova da existência de DEUS?

“Num axioma que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e vossa razão responderá.”

Complemento de Allan Kardec:

“Para crer-se em Deus, basta se lance o olhar sobre as obras da Criação. O Universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pôde fazer alguma coisa.”

3 – A resposta da equipe do Consolador, por sua precisão e clareza, dispensa complementação.

Prosseguindo em suas especulações filosóficas, diz o autor:

“…E agora, com as nossas razões  armadas com aqueles seus três princípios, o de “causa e efeito”, o de “movimento”, e o de “não contradição”, perguntemos: esta causa-primeira-material de todas as coisas-segundas-materiais poderá estar submetida ao princípio de mudança? Não. E por que “Não”? Exatamente por ela ser “primeira/princípio”. E, por que, por ser “primeira/princípio”, ela não pode mudar? Por pelo menos dois motivos:

  1. Pois em quê ela mudaria se é, exatamente, “primeira”, ou seja, única, não existindo nada mais além dela em que ela possa vir a se espelhar para mudar? e,
  2. Se viesse a mudar numa outra coisa, então já não seria mais “primeira”, porém “segunda”, pois o que é “segundo” só vem após o que é “primeiro”.  Na verdade, se ela pudesse mudar numa outra coisa, nunca teria sido “primeira”, porque estaria, ao mesmo tempo em que é “primeira”, já sendo “segunda”, violando também assim o “princípio de não contradição”, porquanto seria “primeira”  e “segunda” ao mesmo tempo e na mesma relação.

Portanto, mesmo sendo material, tal causa-primeira-material não poderia mudar, o que implica em que ela teria que ser imóvel.

Mas, perguntemos ainda: se tal causa é material não teria que mudar, já que tudo o que é material se encontra submetido ao “princípio de mudança/movimento”? Sim, teria, mas, justamente porque é “primeira”, então não poderá mudar, porque, senão, a razão estaria violando o mais elevado princípio que a regula, o “princípio de não-contradição, ou de identidade”, uma vez que a causa primeira não pode ser primeira e segunda – não mudar e mudar – ao mesmo tempo e na mesma relação.

Daí que, do conflito entre estes dois princípios – “causa primeira material – móvel” e “princípio de identidade” – surge este problema: “mas já não foi dito que a razão não pode admitir o contraditório”? Então, como pode a causa primeira ser material e não mudar? Eis agora estabelecida uma tensão intolerável para a razão humana que não pode admitir o contraditório. Como eliminar este dilema? Em verdade, este é que foi o verdadeiro problema intelectual que PAULO de Tarso não soube ou não pôde colocar defronte das conclusões materialistas dos filósofos gregos, a fim de que pudesse demonstrar, intelectual e filosoficamente, a existência de DEUS, pois, como os leitores já puderam perceber, estamos diante do contraditório grego…”

3 – Ao encerrar suas considerações, o autor repisa o que considera como os três princípios essenciais de sua tese quanto à existência de Deus:

“…Retornando: como fará a razão para eliminar este contraditório? Fará com que o princípio – material – qualquer que ele seja: água, ar, fogo e terra – passe por aquelas suas três leis para verificar a sua legitimidade, uma vez que são elas que permitem à razão se guiar com segurança no mundo material. Logo: uma causa primária-material pode passar incólume por aquelas três leis? Não. E por que “não”? Por pelo menos três motivos:

  1. Porque contraria o “princípio de causa e efeito”, uma vez que, sendo material, tem antes, que ser causada, conforme muito bem demonstrada pela sua série;
  2. Porque contraria o “princípio de mudança/do movimento”, uma vez que, sendo material, tem que mudar; e
  3. Porque contraria o “princípio de não-contradição”, uma vez que, sendo material, necessariamente tem que ser “segunda” ao mesmo tempo que “primeira”.

Conclusão: a causa primeira de todas as coisas materiais não pode ser aceita pela razão lógica como sendo material, e isso exatamente por violar aqueles três princípios/leis da razão: consequentemente, ela terá que ser imaterial! …”

¹Bacharel em Filosofia e Psicologia pela USP/SP. É Coronel-Aviador da Força Aérea Brasileira. Conhece Latim e Grego.

²“Que é Deus” – CEAC – Editora – Bauru/SP – 1ª edição – 2011 – cap. 7, p. 251/253. O interessante é que a obra, de quase 400 páginas, versa exclusivamente sobre a questão número 1, de “O Livro dos Espíritos.

³ Idem, idem, p. 249.

 

(Weimar Muniz, jornalista)


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