Reflexões Líquidas
Redação DM
Publicado em 3 de agosto de 2018 às 00:14 | Atualizado há 7 anos
Já dizia Platão, que o amor deriva da admiração, e que a admiração depende dos critérios de valor que a pessoa adota e aprecia. A liquidez destes novos caminhos contemporâneos torna o homem à parte das sensações palpáveis. Em tempos de overdose de redes sociais, whatsapps e outros, a vida se torna uma vitrine que nem sempre é o que prevalece palpável, real. São sistemas corporais sem sangue ou suor. Estes sistemas só prevalecem os códigos, os likes, os seguidores e o enaltecimento da vida cotidiana ou banal do outro. Temos saudades das conversas olho no olho, da época que para ouvir o outro de fato era pessoalmente ou no telefone fixo. E que de fato ao ligar a pessoa estava mesmo na sua casa. A liquidez a cada tempo vai se tornando um estado de ser e podemos em breve entrar na era do automatismo. Seres autômatos! Era de términos de relações à distancia por um simples clique, como se a experiência vivenciada por um longo tempo se transformasse em micropartículas de poeira. E a crueldade se tornam parceiras do cotidiano. Estamos vivendo o conceito das situações, e deixamos de lado as sensações, o sentir, falta o abraço, o toque, o real sabor de um beijo, livre de conceitos ou pré-conceitos. Somos seduzidos pelo consumo rápido, pelo prazer momentâneo. E estas relações perpassam vários âmbitos, como as amizades vaporosas ou líquidas. Muitos acreditam não ver amizades como grandes relações e perdem os melhores momentos de fato de viver a solidez e a concretude que amigos verdadeiros fazem na vida do outro. É como um elixir da vida. No entanto essa liquidez está tomando conta e diluindo sentimentos tão importantes como esses. Tem pessoas que vivenciam suas amizades como válvulas de escape para se enaltecerem ou se abastecerem e na primeira oportunidade abandonam seus amigos à míngua e chutam como um rato morto. São as pequenas influências dessa vaporização social. Vivemos por anos ao lado de uma companhia, acreditando estar imbuídos de sentimentos calcados na concretude de um mito “do amor romântico”, e de repente tudo se esvai, deixando sempre alguém caindo no precipício. Fomos seduzidos por um enamoramento perspicaz e fugaz, pois o enamorar-se precisa de alimentos que não se compra em fasts-foods ou em farmácias, como paliativos para uma dor emocional, ou cura para uma paixão sem atenção. Estamos na era da carne humana sendo exposta sem sentidos que recria sentimentos eternos de embelezamento e sustento pleno para uma sociedade que cobra a imagem, o ter, e a longa sensação de que estamos bem, com os sorrisos amarelos e “felizes”. Bem vindos aos sentimentos líquidos!! O sociólogo Polonês Zygmunt Bauman nos afirma que os Líquidos mudam de forma muito rapidamente, sob a menor pressão. Na verdade, são incapazes de manter a mesma forma por muito tempo. No atual estágio “líquido” da modernidade, os líquidos são deliberadamente impedidos de se solidificarem. A temperatura elevada – ou seja, o impulso de transgredir, de substituir, de acelerar a circulação de mercadorias rentáveis – não dá ao fluxo uma oportunidade de abrandar, nem o tempo necessário para condensar e solidificar-se em formas estáveis, com uma maior expectativa de vida. Por que afinal somos tão curiosos com a vida alheia? Onde estão, o que estão fazendo? As redes sociais são campeãs de audiência no quesito “cenas felizes”, afinal o que vale é “curtir” uma falsa ideia de que gostamos de tudo aquilo ou compartilhar emoções que talvez acreditassem. Diante destes questionamentos, caro leitor, devolvo a retórica. Quem abraça? Quem sente o toque? Quem vê e não apenas olha? Quem cuida de fato? “Segundo o psiquiatra doutor Flavio Gikovate: “Temos caminhado talvez mais na direção da superficialidade, sendo do ‘miolo’ para a ‘casca’”. Agora, a ocupação principal de muita gente é a de exibir uma imagem encantadora de si mesma, sendo que a veracidade daquilo que se exibe interessa cada vez menos. “O importante é provocar suspiros de admiração nos interlocutores cada vez mais distantes e menos relevantes!” E para encerrar, quem escreve cartas? Voltamos em breve…
Carpe Diem!
(Rafael Ribeiro Blat, mestrando em História Cultural/PUC-GO, diretor teatral, coach artístico, produtor cultural, professor do curso superior em produção cênica do Itego Basileu França, diretor do grupo arsênicos carpintaria Cênica)