Opinião

Reformar é a solução da Pátria

Redação

Publicado em 3 de agosto de 2015 às 22:47 | Atualizado há 10 anos

O tempo das reformas chegou. Novas leis dignas e imparciais é reforma sobre reforma, é reconstituição fundamental da Pátria, é organização radical do futuro, é o renascimento nacional. Este é o sonho que tem o povo, porque as imagens que ele cria são feitas dos pedaços dele mesmo. Essas reformas devem vir porque são necessárias como um penhor de paz e de progresso. Até agora as reformas que se pretendem fazer apenas colocam remendo em roupa velha, adquirindo a aparência de modernidade, mas no dia a dia de sua convivência são retrógradas e arraigadas a um passado estéril, repetindo o que outras gerações fizeram sem ter a mínima consciência e a ideia do que seria a vida sócio-político-econômica no século XXI. Tudo isso tem que mudar. As ideias, as consciências, as normas servis que prejudicam o País, as que ficaram pelo consórcio da escravidão, que se nutrem dos seus vermes e, agora, extinto o cativeiro negro hão de conspirar, tenazmente, pela eternidade do cativeiro branco. Apesar de mais de um século de governos constitucionais não se sabe, ainda hoje, que coisa vem a ser liberdade e escravidão. Além disso, não houve ocasião alguma nessas duas últimas décadas que a sociedade brasileira tenha se sentido segura, mesmo sentada no cimo de uma montanha de leis, de normas, de códigos, decretos e estatutos. Essa terrível sensação de insegurança, de mal estar e de medo, atormenta o povo brasileiro, quando se vê na eminência constante de ataques contra a sua vida, e seus bens. Estas ameaças, este medo, e esta insegurança crescem dia a dia com o descaso  dos poderes públicos para com as relações e o controle sociais.

O Brasil e a sociedade têm pressa, não podem parar no lixo da politicalha atual. Não podem mais caminhar nesse processo atrasado e manquejante, como que atrelados a uma carroça puxada por pangaré cansado, com atrasos infinitos, aos tombos, aos trancos e barrancos, numa jornada interminável, conduzindo-lhes, por consequência, às suas ruínas. É preciso, realmente,  que o Brasil seja uma grande senzala para não haver vozes que se levantem a seu favor, pedindo mudanças e reformas rápidas e saneadoras. Reformas que reajam contra os hábitos nacionais do medo, da injustiça, e da impunidade.  Reformas que reajam contra o arbítrio dos privilégios concedidos por lei protecionistas e decadentes, que mais repugnam do que atraem.  O Brasil, “gigante pela própria natureza”, é um País de coisas irreais, de assombramento, de fantasmas noturnos, de almas de outro mundo. É um país onde não existe o real cumprimento das leis. Poderá até mesmo surgir a pergunta, tácita, do porquê dessa conclusão, não é verdade? Eu respondo com outras perguntas:  Quem pratica as leis? Ninguém. Quem as causa? Ninguém. Por quem elas responderá? Ninguém. Quem arruinou as finanças do Brasil? Quem saqueia o tesouro nacional? Quem entrega o Brasil ao descrédito, à bancarrota, à miséria, e  à fome? Quem?… Os governos que governaram o País? Os mandões que  governaram os governos? As influências, as cobiças, os interesses próprios que governaram os mandões? Quem?… Se quisermos os culpados  por tudo isso, temos de dar caça ao lubisomem, aos fantasmas, às mulas sem cabeça, às  casas malassombradas.

O povo tem endereçado aos ouvidos moucos da indiferença dos poderes públicos do país, os prantos, as súplicas, os gemidos, os lamentos mudos e resignados das vítimas do descaso e do abandono, para que eles (os poderes) dia a dia os submeta à consciência da Nação. Nunca estes poderes deram atenção ou atenderam, devidamente, aos gritos mais terrivelmente humanos, aos mais firmes, e mais trágicos protestos, aos soluços que se misturam à dor e à raiva, ao arrependimento e à indignação, à fome e à miséria, ao abandono, e a morte. Estes poderes não têm nem a delicadeza, o cuidado de respeitar o povo – ainda que por um princípio ético –, filho, herdeiro, e dono da pátria, que generosamente lhes abriu as portas do poder. Jamais, em suma, tiveram estes poderes, diante de si, a sentença mais fulminante que se lavra neste País contra o governo: vivemos numa sociedade corrupta e injusta. E sabem estes poderes o que significa estas palavras? Sabem eles o que contém estes dois vocábulos que definem uma condição terrível e abrasadora a um  estado social?  Corrupta e Injusta, que libelo monstruoso nesses dois substantivos. Diante da grave situação sócio-político-econômica em que está mergulhado o país, tem-se a impressão de que a justiça e o governo ruíram de uma vez por todas. Aliás, há opiniões generalizadas de que são  duas instituições falidas, fracas e omissas. Esta situação imposta à sociedade reduz o Brasil, hoje, a colônia de alguns elementos embrutecidos, endinheirados, a explorar o povo que treme diante destes elementos como os atenienses tremiam diante do minotauro. Mas, este monstro é uma criação de nossa covardia. Se a sociedade o encarasse e o tocasse, veria que esse ser horrendo, esse mal desmedido, este bruxo dos grandes labirintos políticos, nada mais é do que a politicalha. Cure-se a sociedade brasileira do medo deste bichaço. Reaja contra este medo, pois ele é a deserção da realidade. Meça-se a si mesma. Meça os que a afrontam, e veja que tudo não passa de trapos sujos de um judas estripado.

A Nação brasileira, a despeito dos pesares, não é constituída de um povo que alguns ainda consideram uma ralé semi-humana de escravos de nascença, concebidos para o trabalho como o jumento é para a cangalha; como o porco é para o chiqueiro; como o macaco para a corrente.  Um povo cujo cérebro seja de esponja para se embeber de tudo o que lhe imputarem; cujo coração seja de cortiça para não ter ressentimento de nada que o ofenda; um povo cujo sangue seja de lôdo para não sair, jamais, da estagnação do charco. Muito embora grande parte da sociedade brasileira esteja aparentemente morta, inanimada, como cadáveres abandonados no brejo cobertos de sanguessugas, escravizada pelos impostos, cheia de empréstimos, cravejada de dívidas, hipotecada no seu salário, comprometida no seu futuro, vive estacionária e retrocedente, onde um trabalho contínuo de humilhação e de corrupção joga  na miséria, deprime, e usa um povo corajoso, cheio de belas e gloriosas tradições, e de vitórias na história nacional. O povo brasileiro não pode mais continuar neste estado de coisas. Ele não é – repugnamos conceber – um povo frio, preguiçoso, covarde, que recebe na testa, sem estremecer, o carimbo de uma camarilha, como Messalina receber, no braço, a tatuagem do amante. O que prova um povo é a luta que ele trava, a sua história, a sua tenacidade mostrada a cada dia, a sua resistência ante os embates e os golpes recebidos. Não é a vitória que faz um povo, mas  as pelejas que ele empreende. O povo, que mesmo em desvantagem resiste, e recebe de cabeça  erguida os golpes, é um povo que vencerá afinal.

Os poderes públicos constituídos apenas atendem reivindicações impopulares e perigosas, que a nossa situação já não justifica mais. Morosos em absorver as civilizações adiantadas, as virtudes, as energias, os bons exemplos, as qualidades sólidas e úteis que nascem da cultura e desenvolvem o caráter, obrigam a sociedade ávida de transformações, muitas vezes, a imitar intempestiva e artificialmente as degenerações que assinalam a velhice, e a decadência das sociedades humanas, e que por inoculação voluntária na adolescência inculta de uma sociedade mal constituída, troca o desenvolvimento filosófico, necessário ao desenvolvimento social, pela febrilidade de uma agitação precoce, doentia, atrofiante, desorganizada, produto das enfermidades das aglomerações sociais, cuja existência se conta por dezenas de anos.

 

(Edmilson Alberto de Mello, técnico em segurança do trabalho e escritor)

 


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