Requiem para Geraldo Raul Curado Fleury
Redação
Publicado em 10 de julho de 2015 às 23:12 | Atualizado há 10 anosNa manhã deste domingo, 5 de julho, quando Goiânia celebrava, sob o coral dos carros de boi encerrando as festividades do Divino Pai Eterno, de Trindade, os 73 anos do Batismo Cultural de Goiânia, a gloriosa Capital do Centro-Oeste brasileiro, Licínio Júnior e Eu comparecíamos ao Crematório, à margem da Rodovia dos Romeiros, para uma última homenagem ao grande amigo de décadas, Geraldo Raul Curado Fleury.
Nossa amizade começou ainda no segundo grau, quando nos preparávamos para ingressar na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás. Aliás, nos idos de 1959, a Universidade Federal de Goiás ainda não existia, e a Universidade Católica de Goiás apenas nascia, pela influência do Arcebispo Dom Fernando Gomes dos Santos, e do Cônego Trindade, então Deputado Federal. A história registra o quase inacreditável “enterro simbólico” de Dom Fernando, com represália dos estudantes ao gesto solerte do grande prelado.
No ano de 1960, Geraldo e Eu ingressávamos, pelo Vestibular isolado, nos páramos da Faculdade de Direito, já quase centenária. Aliás, Geraldo ingressou no ano anterior, 1958.
Morávamos, então, em Anápolis, à época separada de Goiânia por uma estreita estrada de piçarra, e a travessia do Córrego João Leite por uma ponte de madeira. Era a época de ascensão de Fidel Castro ao governo de Cuba, descendo, com toda a força de Sierra Maestra para o massacre de Baptista, o ditador de então. Tínhamos, à época, um jornalzinho, estilo universitários, onde tecíamos loas ao novo líder, na vã esperança de que estávamos diante de um novo Libertador das Américas, alguém como Bolívar ou San Marti, na realidade um dos mais sanguinários tiranos das Américas.
Após a glamorosa Colação de Grau, cada um de nós seguiria seu caminho: Eu, no Banco do Brasil, onde seria guindado à sua Assessoria Jurídica. Geraldo, a carreira do Ministério Público, como promotor de Justiça, a princípio na Comarca de Turvânia, mais tarde transferido para a Comarca de Goiânia. Logo, seu amigo e colega do Colégio São Francisco, de Anápolis, onde estudara com seu colega Henrique Santillo, mais tarde governador do Estado, o nomearia procurador adjunto do então.
No ano de 1968, convidado pelo prof. dr. Odin Indiano do Brasil Americano, para seu assistente, na Faculdade Católica de Direito, deixei, definitivamente, a Cadeira de Direito Penal na Fada, e, então, indiquei Geraldo para meu substituto e, logo mais, meu sucessor na Cadeira de Direito Penal, com as atribuições de ministrar toda a Parte Geral, ou seja, a Teoria Geral do Direito Penal. Como eu não retornasse à Cadeira, Geraldo foi confirmado como regente dessa Cadeira.
Aberta vaga na Faculdade de Direito da UFG, Geraldo se candidataria, sendo aprovado, com louvor. Compunham a Banca, além de mim, os saudosos professores Odin Indiano do Brasil Americano e o Professor Clenon de Barros Loyola, mais tarde presidente do Egrégio Tribunal de Justiça.
Casado com a jovem e bela senhora Marisa, dessa frutuosa união brotaria o Breno que preferiu seguir a carreira dos estudos de Engenharia Eletrônica, matriculando-se no Inatel, instituição criada pelos Jesuitas, no Sul de Minas Gerais. Meu filho Licínio Júnior também optou pela Engenharia Eletrônica, prestando Vestibular no ABC paulista, e, também, em Santa Rita do Sapucaí, terra de Monsenhor Vaz, magnífico reitor da Universidade Católica de Goiás, e bispo auxiliar do Rio de Janeiro. Licínio Jr e Breno cresceram amigos, e ambos se formaram em Santa Rita do Sapucaí, quase simultaneamente.
Geraldo aposentou-se no magistério superior da Universidade Federal de Goiás, e, também, como representante do Ministério Público de Goiás.
Dotado de inteligência rara, e de cultura jurídica e humanística acima de mediana, Geraldo deixa, muito cedo, uma lacuna difícil de preencher. Profundo conhecedor do Direito, especialmente do Direito Penal e de ciências afins, Geraldo, por excesso de modéstia, não deixa uma obra, apenas uma rica biblioteca, cujo destino é, talvez, aleatório, pois seus parentes mais próximos talvez não se credenciem a disputá-la. Aliás, ainda em vida, Geraldo manifestava preocupação com o destino dessa preciosa jóia bibliográfica.
A despeito de sua discrição, manifestava-se quase hostil a aparecer publicamente Geraldo não será esquecido pela posteridade. E sempre será lembrado, pelos cultores do Direito, especialmente pelos expoentes do Direito Penal e das Ciências afins, como um dos maiores conhecedores das disciplinas que, tão carinhosamente, cultivou, exaustivamente.
(Licínio Barbosa, advogado criminalista, professor emérito da UFG, professor titular da PUC-Goiás, membro titular do IAB-Instituto dos Advogados Brasileiros-Rio/RJ, e do IHGG-Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, membro efetivo da Academia Goiana de Letras, Cadeira 35 – E-mail [email protected])