Respostas às críticas da hospitalização obrigatória de dependentes químicos
Diário da Manhã
Publicado em 20 de junho de 2017 às 02:50 | Atualizado há 8 anos
1/ Crítica : Marcelo, em seus últimos artigos você defende que a decisão de hospitalizar ou não um doente é do médico, não do sistema judiciário. Mas eu lhe pergunto: quem escolhia trancafiar os loucos de Barbacena, um juiz ou os meédicos?
Resposta: Caro amigo, quem escolhia segregá-los não era um médico, era a família e a sociedade na qual está inserida.
Não venha colocar a culpa em mim; médico não caça ninguém na rua, com laço e carrocinha. Em 36 anos de psiquiatria nunca internei ninguém que não fosse doente e necessitado do procedimento, em mais de dez hospitais psiquiátricos que trabalhei nunca vi nenhum pessoa normal “trancafiada porque a sociedade o segregou”, “trancafiada para dar dinheiro para médico”, “trancafiada só para dar uma satisfação para a família”. Não digo que não exista isso, mas eu nunca vi. Portanto não é uma coisa tão comum como a mídia e os anti-médicos propalam por aí, vide p.ex., o filme “Bicho de Sete Cabeças” ( talvez por ser tão inusitado virou até um filme…). Nunca internei ninguem pra ganhar dinheiro, ou a mando da familia, ou a mando de autoridade, sendo um criminoso comum ( aliás, são essas últimas, as autoridades judiciais , e não os médicos, que vivem querendo mandar gente pra dentro – e por peitá-los, não concordei com um juiz, já fui parar em camburão da PM, crime de “desobediência”) . Em síntese: eu, médico, perdendo a minha liberdade pra preservar aquela de quem foi condenado não por mim… Ou seja, o contrário do que você está me imputando, não é ? Então, finalizando, repito : nao me impinja a culpa – mas pela família e pela sociedade . Bota a culpa neles !!
2/ Criticas sobre minha experiência hospitalar de 36 anos com dependencia quimica: “Experiência clínica pessoal não vale nada em termos de método científico na medicina; não é porque você tem essa experiência que isso quer dizer que seja uma verdade, em termos científicos” .Respondendo: Caro Amigo, me mostre um método científico em medicina sem experiência clínica pessoal …Faça um trabalho cientifico com estatistica, celulas, exames biologicos, em 2000 ptes portadores de esquizofrenia. Quem postulou a existência de uma doença chamada esquizofrenia? Nao foi a experiência clinica?
3/ Critica ao Marcelo : Os toxicômanos da Cracolândia, são tão viciados em “substâncias” quanto as dondocas que pagam uma fortuna por uma consulta com o psiquiatra para terem livre acesso e sem julgamentos à suas receitas dos “pans” da vida (Diazepam, Clonazepam, Bromazepam), mas essas merecem tratamento digno, pois chegam aos vossos consultórios vestindo Chanel, Louis Vuitton, dirigindo Audi, Mercedes!
Respondendo : Cara amiga.
Trabalho para pobres desde 1981, até hj, sem parar um dia. E nao atendo dondocas em consultorio particular, liga lá, no hospital, 62 3202 7702 . E se eu atendesse, nada de errado pois ricos adoecem e sofrem muito tambem. Quanto a dependentes de medicação, se vc conhecesse nosso serviço hospitalar entenderia que lutamos é para tratar esses casos, nao produzi-los. Não confunda tratamento de doenças graves, pesadas, por anos a fio, com “dependencia quimica”. Se assim fosse, um diabetico seria “dependente quimico” de insulina. Quanto a esse grupo “pan” ( clonazePAN, diazepan) a que vc se refere nao faz parte do arsenal corrente de um bom psiquiatra, pois , como sintomaticos, nao atingem os mecanismos etiologicos das doenças e , de modo geral, sao usados apenas transitoriamente pelo bom profissional ( bom tecnicamente e humanamente). Varias estatisticas mostram que os maiores prescritores de PANS ( diazepam, clonazepam, etc ) não são os psiquiatras. Quanto a medicacoes psiquiatricas que visam a raiz do problema, Antidepressivos, normotimicos, neurolepticos, anticonvulsivantes, etc, nao causam dependencia quimica. No entanto, retire-os de muitos pacientes, eles irão passar muito mal, alguns morrer, é a doença ainda vigente ou ativa, aí muitos mal-intencionados simplesmente irão diZer que “eram dependentes quimicos”….
(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra. ( [email protected] ) Escreve no Diário da Manhã, Goiânia, as terças, quintas, sextas, domingos. Acesso gratuito em impresso.dm.com.br)