Retrato (ou caricatura) do Brasil, e as profecias cumpridas
Redação DM
Publicado em 2 de dezembro de 2015 às 22:02 | Atualizado há 9 anosEm 1972, quando Lula ainda nem sindicalista era, o general Mourão Filho, em plena ditadura militar, disse:
“Ponha-se na Presidência qualquer medíocre, louco ou semi-analfabeto, e vinte e quatro horas depois a horda de aduladores estará à sua volta, brandindo o elogio como arma, convencendo-o de que tudo o que faz é certo. Em pouco tempo transforma-se um ignorante em um sábio, um louco em um gênio equilibrado, um primário em um estadista. E um homem nessa posição, empunhando as rédeas do poder praticamente sem limites, embriagado pela bajulação, transforma-se num monstro perigoso.”
Dois ou três anos depois, Ernesto Geisel, também profetizou:
“Se é a vontade do povo brasileiro, promoverei a abertura democrática. Mas chegará o dia em que o povo sentirá saudade da Ditadura Militar. Pois muitos que lideram o fim da ditadura não estão visando o bem do povo, mas sim dos seus próprios interesses.”
Mas não existem profecias só de cinquenta anos, proferidas por brasileiros que viveram nossa realidade.
Mas diante da atual situação em que vive o nosso pobre Brasil, com os políticos sendo o que são, a corrupção institucionalizada, a Justiça inerme e muitas vezes decidindo como espécie de retribuição por favores e indicações, li algumas reflexões da genial Ayn Rand, escritora, dramaturga, roteirista e filósofo norte-americana de origem judaico-russa, que disse, em 1920, sessenta anos antes de existir um partido chamado PT:
“Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada.”
Diante disso, assistimos neste nosso Brasil varonil que o próprio governo, hipocritamente, prega a liberdade, mas perguntamos, usando as recentes palavras do general reformado Paulo Chagas:
“Liberdade para roubar, matar, corromper, mentir, enganar, traficar e viciar? Liberdade para ladrões, assassinos, corruptos e corruptores, para mentirosos, traficantes, viciados e hipócritas? Falam de uma ‘noite’ que durou 21 anos, enquanto fecham os olhos para a baderna, a roubalheira e o desmando que, à luz do dia, já dura 26! Fala-se muito em liberdade! Liberdade que se vê de dentro de casa, por detrás das grades de segurança, de dentro de carros blindados e dos vidros fumê!
Mas, afinal, o que se vê?
Vêem-se tiroteios, incompetência, corrupção, quadrilhas e quadrilheiros, guerra de gangues e traficantes, Polícia Pacificadora, Exército nos morros, negociação com bandidos, violência e muita hipocrisia. Olhando mais adiante, enxergamos assaltos, estupros, pedófilos, professores desmoralizados, ameaçados e mortos, vemos ‘bullying’, conivência e mentiras, vemos crianças que matam, crianças drogadas, crianças famintas, crianças armadas, crianças arrastadas, crianças assassinadas. Da janela dos apartamentos e nas telas das televisões vemos arrastões, bloqueios de ruas e estradas, terras invadidas, favelas atacadas, policiais bandidos e assaltos a mão armada. Vivemos em uma terra sem lei, assistimos a massacres, chacinas e sequestros. Uma terra em que a família não é valor, onde menores são explorados e violados por pais, parentes, amigos, patrícios e estrangeiros.
Mas, afinal, onde é que nós vivemos?
Vivemos no País da impunidade onde o crime compensa e o criminoso é conhecido, reconhecido, recompensado, indenizado e transformado em herói!
Onde bandidos de todos os colarinhos fazem leis para si, organizam ‘mensalões’ e vendem sentenças! Nesta terra, a propriedade alheia, a qualquer hora e em qualquer lugar, é tomada de seus donos, os bancos são assaltados e os caixas explodidos. É aqui, na terra da ‘liberdade’, que encontramos a ‘cracolândia’ e a ‘robauto’, ‘dominadas’ e vigiadas pela polícia! Vivemos no país da censura velada, do ‘micro-ondas’, dos toques de recolher, da lei do silêncio e da convivência pacífica do contraventor e com o homem da lei. País onde bandidos comandam o crime e a vida de dentro das prisões, onde fazendas são invadidas, lavouras destruídas e o gado dizimado, sem contar quando destroem pesquisas cientificas de anos, irrecuperáveis!
Mas, afinal, de quem é a liberdade que se vê?
Nossa, que somos prisioneiros do medo e reféns da impunidade ou da bandidagem organizada e institucionalizada que a controla? Afinal, aqueles da escuridão eram ‘anos de chumbo’ ou anos de paz? E estes em que vivemos, são anos de liberdade ou de compensação do crime, do desmando e da desordem? Quanta falsidade, quanta mentira quanta canalhice ainda teremos que suportar, sentir e sofrer, até que a indignação nos traga de volta a vergonha, a auto estima e a própria dignidade? Quando será que nós, homens e mulheres de bem, traremos de volta a nossa liberdade?”
Estas palavras do general Paulo Chagas não são proféticas: são a constatação das profecias que seus companheiros de farda fizeram há mais de meio século.
Vemos um Judiciário, cujo chefediz que o “impeachment” da presidente da República é um “golpe institucional”, julgando antecipadamente um processo e, ainda, pode indicar que está pagando a sua nomeação; quando isso acontece, a Justiça tira sua venda, e chora de vergonha. Sua Excelência jamais poderia votar em qualquer processo que envolva “impeachment”, pois cometerá uma injustiça e, se o fizer, quebra toda uma sagrada norma judiciária.
No Legislativo, em meio a uma crise financeira sem precedentes, nossos representantes não deixaram os apadrinhados sem arrimo: em ano de arrocho fiscal, a Câmara não abre mão de um batalhão de funcionários comissionados, nomeados sem concurso. No total, são 1.636 “cargos de natureza especial”, com salários que chegam a R$ 17 mil, distribuídos entre as lideranças, secretarias e a presidência da Casa. Cada deputado tem direito a 25 secretários parlamentares. A Câmara paga a 10.347 secretários parlamentares, não concursados. Todos são indicados e muitos nem aparecem para trabalhar. Não vão fazer falta, pois são 3.342 concursados, além de 3.096 terceirizados.
O que irrita, realmente, é o cinismo agudo, torpe, asqueroso, desses canalhas, metidos em escândalos e conchavos, tudo com o dinheiro do povo. E com um adendo que só a eles favorece: deputados federais e senadores não podem ser presos, a não sem em flagrante de crime inafiançável, assim mesmo, a Câmara ou o Senado têm que referendar a prisão (art. 53, § 2º, da Constituição, que eles fizeram). E a prova foi a recente prisão do senador Delcídio do Amaral, líder do governo.
No Executivo, os escancarados fatos revelados pela “Lava Jato” dispensam comentários.
Mas voltaremos ao assunto, tapando o nariz para não sentir a podridão.
(Liberato Póvoa, desembargador aposentado do TJ-TO, membro-fundador da Academia Tocantinense de Letras e da Academia Dianopolina de Letras, escritor, jurista, historiador e advogado – [email protected])