Opinião

Salvem o rio Bacalhau!

Diário da Manhã

Publicado em 11 de agosto de 2016 às 04:20 | Atualizado há 9 anos

Onde em tempos idos, nos meus folguedos de infância, muitos mergulhavam de cima da ponte, no fundo poço que abaixo dela se formava, a qualquer época do ano, o que se vê hoje é tristeza, desolação, só areia. A seca que atinge já no começo do meio do ano ao rio que abastece a cidade de Goiás, é o que se pode dizer uma tragédia, anunciada, cantada em versos e em prosa já por anos a fio e que nenhuma providencia foi e nem vem sendo tomada, pois sempre o que se vê são medidas paliativas, ora baldeando água de Itaberai, conforme divulgado na imprensa no ano passado, ora captando água do Rio Vermelho que é o que agora está sendo feito, porém ele, também corre o risco de secar, pois vem minguando dia após dia a olhos vistos.

Uma situação tão preocupante que levou parte da comunidade vilaboense a se mobilizar e fazer um movimento SOS – Salve o Rio Bacalhau e que, mesmo tendo sido amplamente divulgado nas redes sociais, levou somente um pequeno grupo a se fazer presente no leito, onde outrora corria caudalosas águas, assim se o problemas é de muitos( de toda a população da cidade de Goiás), o que se vê são poucas, pouquissimas pessoas que estão tentando buscar uma solução.

Nesse total descaso do poder publico, que em cobrar exorbitante preço pelo fornecimento da água isso o faz com pontualidade britânica, bairros e mais bairros da antiga capital estão passando pelo racionamento e rodizio no fornecimento desse líquido de vital importancia para todo ser vivente, sendo que nas muitas vezes em que foram cobradas providencias os vagos argumentos apresentados para a falta d’água cairam todos por terra sendo um dos oradores do evento em 31 de julho lá no leito do Rio Bacalhau que os contestou mediante estudos especificos, técnicos e que embasam perfeitamente a certeza de que o que está a ocorrer é omissão, negligenciamento para com a população, atitude desrespeitosa para com todos os consumidores vilaboenses.

Primeiro se quis fazer crer que a escassez rotineira de água que anualmente ocorre na ex-capital, decorre da diminuição das chuvas, mas um resumo dos estudos feitos por professores da UEG mostram que isso só vem acontecendo nos últimos cinco anos quando comparados os  últimos cinquenta anos da frequencia de chuvas; segundo, uma vez não tendo condições de  rebater o estudo apresentado, uma nova versão foi dada, a de que o aumento populacional fez com que se aumentasse o consumo, outra balela.

Tanto assim o é, que  a nossa cidade, facilmente comprovado com as estatisticas do IBGE, vem diminuindo o numero de habitantes anos após anos, muito a isso se devendo ao exodo de trabalhadores  em busca de um melhor mercado de trabalho que, em idade de nele adentrar, busca outros locais em que ele seja oferecido em maior quantidade, fazendo com a população vilaboense venha encolhendo.

Há de se convir que os fatores que tem levado a essa falta de água se sustentam, primeiro no descaso, na falta de planejamento e investimento por parte de quem deve promove-los. Segundo,  no desmatamento irregular, criminoso das matas ciliares que circundeiam a bacia do Rio Bacalhau, principalmente das nascentes que a abastecem( em número de cento e vinte e oito), sendo que a derrubada muitas vezes ocorre travestida de uma legalidade que sabe se lá como ela se deu, porém quase sempre aqueles que desmatam, se acham respaldados de uma licença ambiental.

Oras, essa desmesurada ambição que cega àqueles que querem plantar capim braquiária, cucuia e outros até mesmo nas areias das nascentes, sem respeitar o limite minimo estabelecido para que isso se dê; que não oferecem a devida proteção das nascentes através de cercas que impeçam o gado de pisotea-las e assim, provocar o seu definitivo secamento pela solidificação do solo ao seu redor, pois para pessoas dessa natureza não existe o interesse coletivo, o “Eu” fala mais alto e sempre.

Providencias urgem serem tomadas, entretanto, é de vital necessidade que a população tome conhecimento e se engaje nessa luta em defesa do Rio Bacalhau, pois o colapso no fornecimento de água em Goiás vem se dando de forma cada vez mais grave e, ano após ano, a situação tem piorado. Assim em não sendo adotadas  sérias, planejadas e concretas medidas, iremos continuar vendo esse mesmo filme nos anuais periodos de seca, porém em cada um mais dificil se tornando a situação, pois se ao invés de serem adotados providencias para a recuperação do Rio Bacalhau, continuar se buscando no Rio Vermelho um paliativo para mitigar a seca, dentro em breve, esse mitológico rio que integra a história do nosso Estado e do Brasil irá também pedir socorro, tornando as coisas ainda mais dificeis de serem resolvidas. Salvem o Rio Bacalhau!

 

(José Domingos, jornalista, advogado, auditor fiscal aposentado, professor universitário, escritor e poeta. E-mail [email protected])


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