Se o cerrado morrer, nós morremos de sede
Diário da Manhã
Publicado em 9 de junho de 2016 às 02:52 | Atualizado há 9 anosÉ o cerrado tem data marcada para o fim. Previsões apontam que a extinção do Bioma cerrado será aproximadamente no ano 2030. E quando estiver dando seus últimos suspiros levará com ele toda a reserva hídrica potável do país. Uma morte decretada nos anos 70 do século passado com a expansão da fronteira agrícola. O solo pobre, oligotrófico, ou seja, com baixo nível de nutrientes, na visão dos agropecuaristas precisava de correções com adubos e controle de pragas com a pulverização de agrotóxicos.
Para o desenvolvimento da pecuária trouxeram gramíneas exóticas vindas da áfrica que decretaram o fim das árvores retorcidas causando intensas mudanças nos processos hidrológicos e acelerando a erosão do solo. Com a morte da vegetação nativa – que através de suas raízes com mais de dois terços do tamanho da planta – infiltrava na terra a água das chuvas, os níveis dos lençóis subterrâneos foram diminuindo.
Embora as abelhas europeias e africanas sejam boas produtoras de mel, não estão adaptadas para fazer a polinização das plantas do Cerrado. As abelhas nativas do cerrado como: jataí, mandaçaia e uruçu – que não possuem ferrão – são polinizadores naturais. Hoje estão praticamente extintas, pelo uso de herbicidas e outros tipos de veneno. Por isso, se encontram muitas plantas nativas sem fruto, por não terem sido polinizadas.
Apesar da importância do Bioma Cerrado para a produção de água, ele ainda não é reconhecido como patrimônio nacional. Nesse cenário, a chapada dos Veadeiros – considerada Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco – está sendo engolida pela produção agropecuária e o desenvolvimento de cidades. Um plano de Manejo apresentado em 2014 vem tirando o sono de ambientalistas. Por ele será autoriza pulverização de agrotóxicos numa área de amortecimento de 500 metros. Além da liberação de utilização das terras para atividades degradadoras como: mineração, cultivo de transgênicos e a construção de hidrelétricas.
A extinção do Cerrado envolve também o fim dos grandes mananciais de água do Brasil, porque as grandes bacias hidrográficas “brotam” do Cerrado. Seis dos oito aquíferos do Brasil, incluindo o aquífero Guarani que abastece as Regiões Sul e Sudeste. A bacia Araguaia-Tocantins – responsável pelo abastecimento dos afluentes do Rio Amazonas – também dependem das águas do cerrado.
Talvez ainda seja tempo de salvar o que ainda resta, mas tem que ser rápido. Se não dermos uma guinada muito violenta não haverá o que fazer. É preciso haver mudança de hábitos colocando a preservação da água, fauna e flora como questão de segurança nacional. Porque deles depende o bem-estar das futuras gerações. Mas isso só se consegue com investimento muito alto em educação, mudando mentalidade de educadores e educandos. As escolas têm de trabalhar a consciência e não apenas o conhecimento. A consciência exige um passo a mais. Exige atitude revolucionária e radical. Ou mudamos radicalmente ou plantaremos um futuro cada vez pior para as gerações que virão.
(Letícia Gomes Tannus, estudante de Publicidade e Propaganda pela PUC)