Opinião

Ser sertanejo e ser católico

Redação

Publicado em 8 de outubro de 2015 às 22:50 | Atualizado há 10 anos

As manhãs da minha tenra infância, madrugada ainda lá na ponta final da rua do Curtume, na Aldeia de São José de Mossâmedes, eram invariavelmente começadas pelo som de músicas de raízes, vindo do radio à pilha que o meu saudoso pai sintonizava  em emissoras que animavam o amanhecer de milhares de pessoas que embora vivendo nas cidades, tinham a alma e as lembranças na zona rural, um costume que aos poucos vai se perdendo ante uma vida que obriga a quase todos a viver em constante correria sem tempo  para esse tipo de passatempo, prazer e entretenimento.

Esse constante ouvir de Tonico e Tinoco, Cascatinha e Inhana, Pedro Bento e Zé da Estrada e tantos outros, me incutiu um grande gostar desse gênero  musical o qual conservo comigo, embora não me furte e goste muito também de MPB e músicas clássicas, pois todas tem o seu espaço, o seu lugar e a sua hora no meu cotidiano.

Hoje bem difícil é de se ter acesso a uma programação de rádio que priorize a verdadeira música sertaneja, tomadas que estão por uma nova vertente musical chamada de sertanejo universitário, vez que num mundo capitalista, tudo gira em torno de atender à maioria, portanto não sobrando espaço para reminiscencias e  para ficar “matando” a saudade de muitos que se consumem em lembranças de tempo idos.

E assim como um bem pouco espaço sendo dado ao gênero musical de raízes, a passos céleres ele vai se restringindo apenas aos cinquentões que ainda tem nele um referencial de história, enfim, de trajetória da sua vida. Talvez até mesmo em razão disso, uma missa celebrada na Matriz Velha do Divino Pai Eterno em Trindade, todos os sábados às 10 horas, vem atraindo cada vez mais uma verdadeira multidão de fiéis que, ao mesmo tempo em que professam e renovam a sua fé, enlevados ficam com a animação musical da celebração, conhecida como missa sertaneja.

Tendo tomado conhecimento desse estilo de celebração, com as músicas sacras sendo executadas ao som do berrante, da sanfona e do violão, de tudo faço para não faltar àquela celebração, cuja frequência tem obrigado àqueles que queiram dela participar sentados, a chegar na igreja com no mínimo uma hora de antecedência, pois a Matriz fica lotada de fervorosos devotos que participam ativamente da celebração, muitos chegando às lágrimas (o que não raro acontece comigo também, não obstante já participar a um bom tempo) ante os cânticos entoados com um carga tão grande de lembrança a não tão poucos.

Ali naquele momento de  oração, de profissão de fé, como não tem, todas as vezes, me vir à memória a minha infância na minha doce e inesquecível Mossâmedes, suas missas nas festas dos meses de maio e agosto, das imensas fogueiras e foguetórios, das folias enfim, é o meu passado se fazendo presente e ao mesmo tempo sendo perpetuado, indo fundo na minh’alma de roceiro, pois tenho e terei sempre um imenso orgulho de duas coisas: ser sertanejo e ser católico!!!

 

(José Domingos, jornalista, professor universitário, auditor fiscal, escritor e poeta)


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