Opinião

Sérgio Cabral, o cínico

Diário da Manhã

Publicado em 2 de fevereiro de 2017 às 01:20 | Atualizado há 8 anos

O Cinismo foi um movimento filosófico criado por Antístenes na Grécia antiga, mas que chegou a influenciar todo o império Romano. O expoente desta filosofia foi Diógenes de Sinópe, chamado o cínico. Conta a lenda que Diógenes optou por uma vida de pobreza absoluta, morando em um barril e conduzindo diariamente uma lanterna (lamparina) à procura de um homem verdadeiramente honesto. Com o passar dos anos, o cinismo tornou-se sinônimo de descrença com a sinceridade e bondade humana, ou o desrespeito a convenções sociais. A seu respeito, foi escrito belíssima crônica por Machado de Assis que, a despeito da busca frustrada do velho filósofo, dizia ter encontrado tal homem na pessoa de um barbeiro que vendia sua barbearia pelo fato sincero de desconhecer a profissão. Estava aí, segundo o escritor brasileiro, a consumação do sonho de Diógenes: encontrar um homem que fosse verdadeiramente bom e honesto.

No dia 31/07/2007 publiquei na revista veja, carta do Leitor em que dizia a cerca de Ségio Cabral, então recém empossado no governo carioca: Apaguemos a lanterna de Diógenes, achamos um homem, diria Machado de Assis ao ler as páginas amarelas desta última semana. Não sei se são ou não verdade as pretensões políticas do atual governador do Rio. Mas que suas atitudes nos dão esperaça, dão. Voto nele para qualquer coisa a que se candidatar.

Na imprensa esta semana, ficamos sabendo que o tal governador, hoje preso em Bangu na doce companhia da esposa, tornou-se o campeão de arrecadação ilícita em esquemas de corrupção. Seu parceiro mor, o ex-modelo de um Brasil que dá certo segundo o expresidente Luis Inácio, o empresário Eike Batista, achava-se foragido. Quanto mais se cava este poço mais fundo ele se torna e mais improvável e distante parece o seu fim. E eu, aqui me perguntando por que acreditei neste homem.

Não tenho vergonha de admitir meus erros do passado. Errei muito e errei mais quando fiz previsão a cerca dos homens em quem confiei. É bom que se diga que errei menos nas previsões quando desconfiei. E está aí a alma revelada de um cínico nos moldes originais: não dá para acreditar no homo cinicus da política nacional.

O que me fez acreditar no Sr Sérgio Cabral não foi sua conduta inconteste. Foi principalmente a sua política de Polícia Pacificadora. O Brasileiro tem sofrido com o que o governo mais deveria se obrigar: Educação, saúde e segurança. O simples fato de se empenhar numa destas áreas, já nos faz crer em suas boas intenções. E foi assim comigo naquele ano de 2007: vi esperança na atuação de Cabral, até que ele resolveu fazer palanque da segurança. Tudo que vira palanque para a política tende a dar errado. Não será diferente em terras goianas.

Sérgio Cabral errou na ambição incontida: Matou o homem que se elegeu, preservou o politico das maracutaias do poder pelo poder. Pior, alimentou ainda mais o resquício do cinismo que prevalece na alma do brasileiro. Não me queiram mal ainda, mas há um duplo sentido nesta acertiva: O cínico que desconsidera as convenções sociais; e o cínico que não crê que haja homem bom, nenhum sequer. No primeiro, o brasileiro se fez campeão adotando o velho jeitinho. No segundo, os políticos dão razão a quem nunca acredita no homem. Apaguemos nossas lanternas de Diógenes, então: Não se achará homem bom no cenário nacional.

 

(Avelar Lopes de Viveiros, cel RR PMGO)

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