Sou feio, mas não como você!
Redação DM
Publicado em 20 de maio de 2016 às 02:13 | Atualizado há 9 anos
Eu gostava muito daquela camisa verde-escura, cor de folha madura até que um aluno do sexto ano me perguntou: — “Com a mesma roupa de outem, né professor!?”
Outro dia, tais foram os comentários naquela sala de professores aborrecidos! Diziam que os alunos querem professores bonitos, referindo-se apenas à estética enquadrada nos padrões das mídias. Tentei desviar o foco da conversa para higiene corporal e vestimentas, mas não saía da minha mente a solicitação irritante daqueles solicitadores de mais aulas de espanhol, pelos traços “abençoados” da professora. Aquele debate foi muito motivador, tanto, a ponto de, no outro dia, fazer-se visível a mudança visual de alguns “encarapuçados”, eles vieram, além de vestidos da melhor roupa, até bem perfumados graças aos representantes da Avon, constantemente vendendo perfume fiado por ali. E venderam bem!
São os professores belos melhores profissionais? Será a falta da beleza uma barreira à inteligência? Se tivéssemos de julgar os professores pela sua aparência física, como se julga modelos fotográficos, poucos alunos prosperariam para o futuro magistério. De certa forma, eles têm razão no exigir professores mais bonitos! Eles já não sabem mais o que cobrar, é lhes dado de tudo e, se assim continuar, num futuro não muito distante será um requisito eliminatório nos concursos da educação: a boa aparência física do candidato (como se isso já não influenciasse). Eles devem estar se perguntando: — Se estudar valesse para atenuar a desarmonia estética, por que os professores não são mais bonitos? – talvez seja esse o motivo dos alunos não se dedicarem aos estudos! A beleza de quem ensina não é inspiradora! O sistema é feio e burocrático, aberto a abusos e aberrações está cheio de professores velhos e feios, esses sempre foram uma classe desprezada e odiada. Apenas um ou outro se destaca na admiração social por ter um intelecto muito avantajado. A falta da beleza sempre foi inimiga da ignorância. E o feiura rei torna feia a bela gente!
Nossos lideres procuram nos confortar com o perigo fatal da fermentação da autoestima, com leituras de autoajuda e capacitações; quando já estamos bem alto, acreditando no nosso potencial de empatia, a queda é repentina! Há sempre alguém bem disposto para “puxar nosso tapete”! E, então, continuamos perguntando como o eu lírico do poema, Retrato, de Cecília Meireles: — Em que espelho ficou perdida a minha face?
Vejam o ponto a que cheguei, agora me ponho a falar-lhes no fato de nos regermos pelas aparências, ao invés da devida confiança na sabedoria. Qualquer pessoa bem esclarecida, de certa forma, se conhece bem, e desfruta de todas as coisas boas existentes nela, como dons de Deus. A escola precisa de professores confiante, mas confiantes no sentido de que a beleza é relativa, e se concebem escolhidos e especiais por outros dotes necessários. Todos nós precisamos de certa medida de respeito próprio profissional, então sejamos consistentes com a função ocupada, é o importante. Ninguém é totalmente desprezível!
(Claudeci Ferreira de Andrade, pós-graduado em Língua Portuguesa, licenciado em Letras, bacharel em Teologia, professor de filosofia, gramática e redação em Senador Canedo, funcionário público)