Temer declara guerra ao Brasil
Diário da Manhã
Publicado em 25 de maio de 2017 às 01:20 | Atualizado há 8 anos
Agora virou guerra. A repressão brutal aos manifestantes anti-temer, em Brasília, supera tudo que já se viu neste país. Só faltou atirar com balas de verdade para matar. Nem nos tempos da ditadura militar se viu tamanha truculência. Participei de muitas manifestações em Brasília naquela época, e nunca testemunhei cargas de cavalaria contra gente desarmada.
Temer não governa mais. Não tem mais autoridade. Como já repetiu que não renuncia, só poderá se manter no cargo a custa de muita repressão. Os trabalhadores estão na rua não só contra este governo, mas contra suas reformas impopulares. Já os movimentos da direita, que expressam os ressentimentos e os preconceitos da pequena burguesia, re retiraram covardemente da cena política. Não mobilizam mais ninguém. Não têm brio sequer para defender este governo que eles inventaram, e do qual agora se envergonham. Não ouço mais o bater das panelas. Mas a cuíca está rocando de fome.
“Roncou, roncou. Roncou de raiva, roncou de fome. Alguém mandou parar a cuíca. É coisa dos home” – João Bosco e Aldir Blanc.
Triste de tudo isso é que a responsabilidade política pela repressão, pela guerra da polícia ao povo, aos trabalhadores e aos estudantes, é do PMDB de Temer. De partido de heróis e mártires, que nasceu com a finalidade de lutar contra a ditadura e democratizar o país, o PMDB deu um giro de 180 graus. Hoje, um partido de velhacos e de delinquentes, inimigos jurados das classes populares.
Foram-se os tempos em que políticos do PMDB se juntavam às massas no clamor por democracia, e que Ulysses Guimarães enfrentava cães da polícia nas ruas de Salvador. Foram-se os tempos em que os chefes do PMDB defendiam, como coisa sagrada, o direito do povo nas ruas se manifestando.
Abro exceções: Roberto Requião, Kátia Abreu e o PMDB do Tocantins, último reduto do espírito democrático que um dia animou este partido. O resto é banda podre.
… “quando quis tirar a máscara, estava colada à cara”. Fernando Pessoa, em Tabacaria
E o que é o PMDB de hoje? É o partido que conspirou e deu o golpe. É o partido que promove reformas anti-povo. É o partido que sustenta um governo que, tendo se tornado odioso aos olhos até dos que ontem o apoiavam, agora faz guerra aos brasileiros, que manda a cavalaria investir contra jovens desarmados. Eis a valentia desa gente. Trogloditas armados até os dentes investindo com furria sobre gente desarmada cujo crime é exercer o direito constitucional de se manifestar.
Ontem, quando a classe média, os coxinhas saiam às ruas contra um governo eleito legitimamente, nada lhes acontecia. A passeata virava festa. Agora que é o povo trabalhador se manifestando contra um presidente que já não governa – mas não desocupa a moita – , a resposta é gás lacrimogêneo, é bala de borracha, é cavalaria, é helicóptero, é porrada!
“Há soldados nas ruas, fardados ou não. Todos eles perdidos, de arma na mão” – Geraldo Vandré.
A dialética lenca mais não falha. Aí está o PMDB se convertendo no extremo oposto do que foi um dia, já se vão 50 anos. Acorda Ulysses, saia de seu túmulo marítimo. Venha ver o que seus herdeiros está fazendo. Eles enlouqueceram, Ulysses! Tancredo, saia do seu Mausoléu. Veja o que fizeram do teu legado! Veja no que deram teus parentes!
Tinha tudo para ser uma manifestação pacífica. Mas Temer queria guerra. E declarou guerra ao povo, na forma de um decreto publicado às pressas no Diário Oficial, autorizando as forças armadas a reprimir os manifestantes entre os dias 24 a 31 de maio. O ministro da defesa, que deverá executar este decreto, É Raul Jungman, um ex-comunista. Ex-comunistas que se convertem ao conservadorismo o pior tipo de gente que existe. Respeito muito mais um cara como Caiado, que sempre foi de Direita, do que tripos como Jungmam.
“Você me prende vivo, eu escapo morto. Você me rasga um verso, eu escrevo outro. Olha o dia de hoje chegando. Que medo você tem de nós!” – Paulo César Pinheiro
Esta reação violenta de Temer é fruto do desespero. Eles têm medo. Com o que talvez não contavam, foi a valente resistência dos manifestantes. Desarmados – ou melhor, armados apenas com um refrão libertário -, enfrentaram as forças militares. Não arredaram pé da praça dos três poderes. Muitos ficaram feridos. A juventude derramando generosamente o seu sangue em favor da liberdade. Outros foram presos.
“Se gritar comigo não calo. Se mandar calar, mais eu falo… quem mandava em mim nem nasceu” – Gonzaguinha
Se Temer queria fortalecer a luta oposicionista, conseguiu. Quanto mais repressão, pior para os repressores. Daqui para a frente, ou Temer deixa o governo ou começa a matar gente nas ruas.
Helvécio Cardoso, jornalista