Temer está na direção certa, mas…
Diário da Manhã
Publicado em 3 de janeiro de 2017 às 01:20 | Atualizado há 8 anos
Os brasileiros colheram uma herança maldita, fruto da má gestão e corrupção de governos petistas jamais vista, que tende a demandar anos para ser superada. Michel Temer, embora tenha sido aliado e vice-presidente de Dilma, faz das tripas, coração, para remover o País do atoleiro. Sou testemunha do incômodo de Temer e de seu partido, o PMDB, com a situação então vigente.
Na condição de jornalista e cidadão atilado aos fatos, presenciei no programa gratuito do Partido do Movimento Democrático Brasileiro levado ao público através das redes de televisão sob a chancela do Tribunal Superior Eleitoral, as contundentes críticas ao governo de Dilma Rousseff. Eram críticas sem dó nem piedade de vereadores, prefeitos, deputados estaduais, federais, senadores e governadores do PMDB. Fiquei pasmado porque se tratavam de aliados.
Num almoço na Fiesp, Temer foi instado a assumir posições “mais firmes” em defesa da democracia, das liberdades e da livre iniciativa. De certa forma, o PMDB como um todo, um partido que lutou desde a sua criação contra o regime militar e pelas eleições diretas, sob a tutela de Ulisses Guimarães, era cobrado a seguir os caminhos das ruas. E venceu. As recentes manifestações públicas em São Paulo, Rio de Janeiro, entre outras dezenas de cidades brasileiras ensaiavam o grito de guerra do “Fora Dilma”, “Fora Lula” e o combate à corrupção liderada pelo PT.
Afinal, as crescentes manifestações em todo o País soaram fortes no Judiciário e no Congresso Nacional. No frigir dos ovos, houve o impeachment de Dilma e o seu vice assumiu. A reação dos petistas e demais aliados do então governo é que houvera golpe. As últimas eleições nacionais confirmaram que a sociedade queria mudança e elas não deixaram margem à dúvida. O PT sofreu duro golpe nas urnas para derrubar qualquer falácia de “golpismo”.
Mas, e o Temer? O novo presidente disse para todo mundo ouvir que “não seria candidato nas eleições de 2018”. Pediu união à nação brasileira. Colocou e retirou ministros denunciados por corrupção. Aproximou-se do Congresso Nacional e recebeu apoio às medidas de interesse do executivo. As reformas, tão adiadas nos governos anteriores, começaram a passar com 70% dos votos dos deputados federais e senadores. Era a demonstração de que Temer sabe negociar, o que não ocorria anteriormente.
O governo agora procura dialoga. Mas, as reformas, embora necessárias e urgentes, sofrem com o corporativismo. A população brasileira é explosiva e está ficando velha. Se o Brasil detinha em 1970 cerca de 90 milhões de brasileiros, hoje eles ultrapassam 200 milhões. Os problemas nas áreas de educação, saúde, segurança pública, infra-estrutura se multiplicam. Na área da previdência, se não houver mudança, o Brasil tende a parar porque não haverá dinheiro para os aposentados.
Mas, o corporativismo fala alto, comove e quase demove dos esforços pela reforma que no final será benéfica para todos.
Sentimos o que muitos não vêem ou fazem de conta que não querem ver. Quando a crise bate à nossa porta, cortamos gastos. No País, ocorre a mesma coisa. A herança do petismo, infelizmente, é catastrófica. Economia aos bagaços, com inflação que corrói a renda dos mais pobres. Desemprego. Uma massa de mais de 13 milhões de pessoas na rua da amargura. O empresariado teme investir. O dinheiro que há ele fica com medo de gastar e assim a bola de neve do desemprego só cresce. Há uma crise de confiança porque o judiciário prolonga o fim do combate à corrupção. Nada contra o encerramento abrupto da Lava Jato. Apenas a necessidade de agilizar o seu transcurso. Quem tiver que ira para a cadeia, o Lula, por exemplo, que a justiça defina e pronto. O País não pode ficar paralisado por causa disso.
O governo Temer está fazendo tudo ao seu alcance para superar as adversidades econômicas e reativar o Brasil. Além das medidas chegadas ao Congresso, promove a redução dos juros, combate à burocracia sem limites (que também favorece a corrupção), libera crédito, abre o leque ao mercado exportador, limita os gastos públicos numa política de longo prazo e toma outras providências válidas. Precisa, contudo, evitar as eventuais incoerências no salário dos três poderes ou se comunicar melhor nessa área, sob pena de deixar perder as grandes conquistas.
(Wandell Seixas, jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, ex-bolsista em agropecuária pela Histradut, em Tel Aviv, Israel, e autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste)