Temer não está tranquilo
Diário da Manhã
Publicado em 17 de janeiro de 2017 às 01:05 | Atualizado há 8 anosA pergunta que até aqui ficou sem resposta: pode um governo eleito democraticamente, mesmo, como no caso em análise, resultante de um processo de impeachment, que opera com um regime pluripartidarista, conseguir consenso necessário para realizar reformas radicais, ou reformas radicais só são possíveis com governos despóticos ou excessivamente intervencionistas? Se as necessárias reformas são uma incógnita num quadro assim, imaginem se este quadro é agravado por uma crise –ou crises- econômica, política, ética e de autoridade? Dizem que o país está reagindo. Uma reação que ninguém vê e que, parece, só existe mesmo na vontade de alguns. É que para o Brasil reagir, seria necessária uma liderança real, com credibilidade para “bancar” as mudanças que sustentariam uma retomada do crescimento. Temer é forçoso reconhecer, tem se mostrado corajoso na defesa e no encaminhamento das suas propostas, mas vai claramente, perdendo a batalha da credibilidade pessoal e de seu governo. Para mudar o sentimento de desconfiança em relação ao seu governo, onde a rigor apenas a equipe econômica parece preservada, o presidente teria que realizar uma ampla reforma ministerial. Alterações que deveriam ter ocorrido já no episódio Geddel Vieira que caiu por uma coisa menor e que se vê hoje, estava envolvido em coisas muito mais graves, envolvendo a Caixa Econômica Federal. Quantos “geddeis” existem no governo? Quantos nomes da equipe de Temer surgirão agora na anunciada delação de executivos da Camargo Correia? Quantas vezes surgirá o nome do próprio presidente da República, atuando como presidente do PMDB? A simples dúvida sobre envolvimento do presidente tira-lhe a capacidade de comandar um processo de reformas. Iguala-o a tantos outros que existem no Congresso, tirando-lhe a autoridade de liderar, de dar o norte e ser seguido. Sem isto, sem alguém que imponha pela força de sua liderança, esqueçam as reformas. Elas poderão até acontecerem, mas não na profundidade exigida.
(Paulo César de Oliveira, jornalista e diretor-geral das revistas Viver Brasil e Robb Report)