Terra do Nunca
Diário da Manhã
Publicado em 10 de maio de 2016 às 02:48 | Atualizado há 9 anos
Não é fácil tentar definir um artista, e ainda me pergunto se é isso possível. Magnífico, surpreendente,mito, iluminado? Falo agora em especial, de um artista que não cantava, era ele a música, não dançava, era ele a própria coreografia, não compunha, era ele a letra. Agora, às vésperas de se completar sete anos de sua morte ( 25/06/09), o fenômeno pop americano Michael Jackson, continua tenaz e sempre o será. Desde criança apresentava um carisma e talento que lhe era peculiar. Segundo a matriarca Jackson, aos dezoito meses e ainda de frauda, o pequenino Michael já dançava ritmado, ao som de uma máquina de lavar roupa que tinham em casa. Ficou claro que o “dom vindo de cima”, termo usado várias vezes pela própria mãe, falou bem alto, em especial na família Jackson. Aos cinco anos, já cantava e dançava e visivelmente continuava sobrepondo aos demais irmãos. Foi escolhido como vocalista da The Jackson Five, banda formada por ele e os irmãos. O sucesso era inevitável, tanto que aos 14 anos, Michael já estava entre os milionários. Mas a simplicidade e humildade o acompanhariam até seus últimos dias. The Jackson Five era dirigida pelo pai, o duro e implacável Joseph Jackson, ex-lutador de boxe e músico que também foi metalúrgico, o velho Joe, como também é conhecido, projetou nos filhos o sucesso que não teve. A mãe, Katherine Jackson, uma mulher de fé, desde sempre foi o porto seguro da família. Segundo o próprio Joe, nenhum dos filhos podia correr pelas ruas e brincar, assim como era comum às outras crianças, os ensaios no estúdio eram constantes. Certamente daí, o grande encantamento sobretudo de Michael, mesmo depois de adulto, por parques, brinquedos, crianças,jogos e toda magia que cerca o imaginário infantil. Sem uma infância comum, ele e os irmãos eram rigorosamente ensaiados pelo pai, que não permitia erros, sob pena de castigo imediato. Tanto terror psicológico certamente traria efeitos futuros. Pelo seu desempenho, Michael era criativo e o exemplo a ser seguido nos ensaios: – Façam como o Michael, dizia o pai. Há alguns anos Michael confessou que nesta época, tinha tanto medo do pai, que chegava a passar mal, ao ponto de vomitar com a presença do mesmo. Traumas que certamente deixariam profundas marcas. Embora a primeira cirurgia plástica de Michael no nariz (rinoplastia) e também a segunda, tivessem sido em decorrência de uma queda durante ensaio, esta que resultou em fratura (1979, já com 21 anos), as demais, vieram em virtude da tentativa de Michael não ver em seu reflexo, nenhuma semelhança com a imagem do pai. Cada modificação facial ainda era pouca para o artista. Mas isto não o tornou amargo, seu coração era grande e bom! Ele queria que o mundo inteiro fosse feliz, cantava a esperança de um mundo melhor, pra você e pra mim… Talvez o mundo de Peter Pan (Neverland), por enquanto fosse a via de escape, o início de um caminho para o paraíso. Ao tempo em que levantava plateia em todo o mundo, recebia reconhecimento, carinho, admiração, sua vida se tornava também alvo de holofotes especulativos, tabloides e até mesmo de inveja e maldade; afinal, estamos falando do Rei do Pop, assim carinhosamente nomeado primeiramente por Elisabeth Taylor, ao chamá-lo para receber um de seus incontáveis prêmios. Uma das fortes polêmicas em torno do astro, era de que ele, ao ser visualizado cada vez com a pele mais clara, estaria negando sua raça. Na verdade, foi ele diagnosticado como portador de vitiligo e lupos, doença que embranquece a pele. Fazia tratamento e usava cremes para unificar o tom da pele. Também passou a usar peruca após grave acidente ocorrido com fogos de artifícios em uma gravação de comercial da Pepsi- Cola, onde imediatamente teve o couro cabeludo com queimaduras de segundo e terceiro graus. Também foi inocentado de todas acusações sobre menores. O que se sabe é que em toda a história da humanidade, Michael foi o artista que mais contribuiu para obras sociais e humanitárias em todo o mundo, e ainda o continua, pois destinou seu testamento para seus três filhos, sua mãe e também para instituições de caridade (após sua morte, seu patrimônio ativo, de lucro, chegou à marca de mais de três bilhões de reais). Michael Jackson se preparava para voltar aos palcos em uma nova turnê, que teria início em julho de 2009, mas no dia 25 de junho, o mundo chorava a morte do gênio, vítima de parada cardíaca… Que o menino sonhador, artista da terra do nunca, que não envelheceu, pois manteve o seu puro espírito de criança, receba o tão desejado paraíso eterno, prometido por Deus, e que ele realmente acreditava.
(Marly Mendanha Bavani, artista plástica, documentarista, diretora da Escola de Artes Plásticas “Veiga Valle” da cidade de Goiás e articulista)