Opinião

Tortura nunca mais?

Redação

Publicado em 17 de julho de 2015 às 23:23 | Atualizado há 10 anos

 

Na história recente de nosso País não se tem notícia de um período tão conturbado como o que vivenciamos neste momento. A perplexidade está em todas as esferas, do cidadão comum e suas famílias ao empresário de negócios, dirigentes e lideranças classistas. O que se vê é uma sucessão de ações equivocadas por parte do governo, quando não apáticas ou meramente populistas, que deixam a política econômica brasileira à mercê da sua própria sorte, exatamente como a população brasileira vem se sentindo. À deriva. Insegura.

Quando um pai de família é consumido por uma sensação angustiante ao ver o filho privado dos estudos em função de cortes em programas que lhe garantem bolsa de estudos (Pronatec) ou financiamento estudantil (Fies), é ou não é uma situação torturante? Quando a desesperança bate à porta e entra sem pedir licença, como vem acontecendo, deixa a todos sem rumo, priva o setor produtivo de exercer sua atividade a contento para gerar empregos movendo a economia, retira dos jovens oportunidades e perspectivas profissionais, é ou não é uma situação torturante? Afinal, que legado é esse que deixaremos para a nova geração? É preciso reagir, entendendo que existe uma luz no fim do túnel, e que é para lá que se deve caminhar.

As estatísticas mostram que o desempenho da economia tem caído gradativamente desde 2010, ano em que o Produto Interno Bruto do País cresceu 7,57% (o de Goiás foi de 8,80%), prevendo-se queda do PIB em 2015 em percentual acima de 1,5%. Reflexo da descrença generalizada em nosso País aparece na pesquisa da CNI-Ibope divulgada recentemente, apontando recuo ainda maior da popularidade do governo Dilma Rousseff, pois o número de brasileiros que considera o governo ótimo ou bom caiu de 12% em março para 9% em junho, enquanto que 83% desaprovam a maneira de governar da presidente e 78% dos entrevistados afirmaram não confiar na gestão dela.

A mesma pesquisa de opinião feita com duas mil pessoas em 141 municípios revela que a atuação nas áreas de juros e tributos continua sendo a pior avaliada pela população, sendo que 90% desaprovam a política de juros e de impostos. Da ótica empresarial, o Índice de Confiança da Indústria, medido mensalmente pela Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) e Confederação Nacional da Indústria (CNI), também despencou desde junho de 2014, ficando abaixo dos 40 pontos, quando o ponto de equilíbrio (nem otimismo nem pessimismo) é de 50 pontos. Em meio à inflação em alta e taxa Selic crescendo sistematicamente, mais dados alarmantes: segundo informações da Rais/MTE, de junho de 2014 a maio de 2015 a atividade industrial brasileira fechou pouco mais de 660 mil postos de trabalho, com destaque para a construção civil, que perdeu 312 mil empregos.

Quando não temos o exemplo do próprio governo, às voltas em apagar incêndios de escândalos, casos de corrupção e uma série de outros desmandos e atos administrativos, como ter segurança interna? E se não temos um Executivo forte, que não exerce o seu papel de governar – conforme a autoridade que lhe foi conferida democraticamente pelo povo nas urnas –, que não faz o que precisa ser feito, como esperar uma imagem positiva do Brasil, que seja capaz de atrair investidores na proporção que precisamos?

Enquanto o empresariado procura fazer a sua parte, cortando despesas, trabalhando em meio à alta de juros, com escassez de financiamento e custos de produção elevados (puxados pela alta da energia e do dólar, que encarece a matéria-prima importada), o governo precisaria fazer a parte dele, ao enxugar a máquina administrativa, efetuar os cortes necessários e redirecionar gastos públicos, estar atento à administração de custeio.

Mas, o que se observa, além da inoperância do Estado, é a adoção de medidas ineficazes, com um programa de ajuste fiscal baseado em aumento de impostos, corte nos investimentos e restrição de direitos trabalhistas. Uma série de equívocos e má condução nos processos de gestão e liberação de recursos – como no caso dos programas que financiam a educação (Fies e Pronatec) –, que só fazem colocar mais lenha na crise econômica, que é agravada pela crise política, e cujos efeitos acabam tão misturados que comprometem a adoção de quaisquer medidas em ambas as esferas.

Então, como retomar o crescimento? Nesse caminho, a credibilidade é fator decisivo e preponderante, não se duvida. A falta de credibilidade no governo federal dificulta a aprovação de medidas de ajuste no Congresso e inibe investimentos, uma vez que as empresas estão vivendo alto grau de incerteza quanto ao futuro e pressionadas por juros elevados que reduzem os investimentos e o consumo. Embora a situação cause grandes preocupações, o momento é próprio para as empresas melhorarem suas estruturas de custos, aperfeiçoarem os processos de gestão, buscarem aumento de produtividade e reverem planos de investimentos, identificando oportunidades futuras, para aproveitá-las assim que se iniciar o processo de recuperação do crescimento da economia.

O Brasil possui uma economia diversificada e com grande mercado interno; tudo isso favorece a retomada do crescimento. Basta que as autoridades se articulem pensando mais no País que nos interesses partidários e façam as reformas que a sociedade demanda há décadas, como a política, a trabalhista, a tributária e a da educação, sem as quais qualquer solução adotada será paliativa e temporária, permanecendo o risco de novas crises.

Quando um pai não ajuda um filho, um filho não ampara uma mãe, a desesperança governa. O que temos que combater é a frustração do povo brasileiro e o desestímulo ao futuro, um futuro que queremos seja baseado em valores éticos, na competitividade, na inovação tecnológica, na responsabilidade social, na sustentabilidade. Não somos favoráveis à desobediência civil, a golpe, nada disso. Somos, sim, a favor do desenvolvimento, da ética, do futuro e da esperança. Tortura, nunca mais!

 

(Carlos Alberto de Paula Moura Júnior, empresário e presidente do Sindicato da Indústria da Construção no Estado de Goiás – Sinduscon-GO)

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