Opinião

Trabalho morto x capital vivo – I

Redação DM

Publicado em 13 de maio de 2015 às 02:46 | Atualizado há 10 anos

 

“O desenvolvimento capitalista associado e dependente criou o seu próprio padrão de articulação política aos níveis continental e mundial.”

(Florestan Fernandes -1981)

 

A questão social exposta na janela da mundialização do mercado, autorregulado, confisca direitos sequer ainda alcançados por trabalhadores, categoria que vende sua força de trabalho ao sistema capitalista, dando cores às expressões sociais que denunciam temas ligados à saúde, educação, moradia, segurança pública, transporte, alimentação, representatividade, poder ou a falta dele.

Esta peleja de classes, ‘gelatinosa’ segundo Gramsci – que denuncia a grande maioria da militância de consciência apolítica e  amorfa -, é atropelada, cotidianamente, por uma conjuntura planetária movida a competitividade entre Estados os quais contam riquezas, além, é claro, do acúmulo de capital gerado na produtividade dividida entre as nuances do que venha a ser trabalho vivo e trabalho morto.

A sociedade modernizada e de caráter extremamente desigual é fato que denuncia a exploração socioeconômica e cultural pós-moderna da população globalizada. Na modernização da sociedade constitui-se a classe trabalhadora a qual sofre pressões de cunho neoliberal quanto aos seus direitos, nos quatro cantos do Planeta. A identidade dos trabalhadores não muda, ao contrário, labuta sob pressão do capital que delimita sua realidade social à capacidade de mecanização. Engendrada pela sociedade financista e liberal, exploradora da mão-de-obra precarizada, tem negados seus direitos, tanto os ‘iguais’ assim como os ‘diferentes’, agentes em idade produtiva, transformadores da natureza rica em recursos naturais. Esta população trabalhadora, degradada, é a chamada sociedade salarial.

As diferentes expressões da questão social se processam enquanto metamorfose de uma sociedade que se pergunta sobre a coesão ou fratura do sistema de produção que Karl Marx questionava no início da industrialização dos meios de produção já a partir de 1848. É o desafio da sociedade existir como um conjunto de relações de interdependência. Segundo Comte: “Os indivíduos trabalhadores acampam na sociedade industrial sem necessariamente estarem engendrados nela.”

Sem vínculos, vitimados pelas ameaças de ordem social como o pauperismo do corpo social, quando a sociedade capitalista identifica sua primeira questão social, em meados dos 100 anos precursores do ‘breve século XX’, segundo o historiador marxista britânico Hobsbawm, morto em 2012. O trabalho que integra a sociedade e suas classes sociais, no caso específico do proletariado – que sofre com a desmontagem e desestabilização da ordem do trabalho – caracteriza a nova expressão da questão social do mundo do trabalho e do trabalhador e sua consequente participação na vida social.

Esta degradação e desagregação, no bojo da crise do petróleo, a partir de 1973, expõe a falta de estrutura de trabalho assegurado pela estabilidade da sociedade salarial. Precarização e mercantilização do mercado, efeitos da globalização, mundialização e internacionalização das formas de produção industrial desestruturam o poder de organização dos trabalhadores quanto a seus direitos, seguridade, transformação do trabalho em garantias, acesso ao emprego enquanto direito e não somente status.

E o pulso… ainda pulsa!

 

(Antônio Lopes, assistente social, mestrando em Serviço Social/PUC-GO)

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