Triste fim
Redação
Publicado em 25 de junho de 2015 às 01:29 | Atualizado há 10 anos
Trabalhei durante mais de 20 anos na Santa Casa de Misericórdia de Goiânia. Grande parte desses anos passei as tardes lá, fazendo diagnósticos radiológicos, relacionando-me com colegas médicos e funcionários, numa convivência familiar e saudável.
Uma das memórias mais vivas e puras que tenho daqueles tempos é a de uma avoenga e frondosa mangueira, que havia no pátio por onde eu passava.
Solidária, fornecia uma sombra benfazeja a muitos que ali se espaireciam à hora da folga.
Altruísta,inundava o ar de uma de um perfume doce, quando se vestia de profusas flores brancas e miúdas.
Generosa, fornecia doces frutos na época programada pela Mãe Natureza (finais e inícios de ano).
Muito antes da construção do hospital, ela já existia, majestosa e bela!
Quando ainda trabalhava na instituição, encabecei um movimento para que não fosse cortada, já que a direção pretendia construir naquele local. Argumentei que havia outros locais que poderiam suprir tal necessidade.
Pois bem,recentemente,não mais estando lá, soube do que considero um homicídio ecológico,um desrespeito à comunidade da Santa Casa. O diretor achou por bem decepá-la, gratuitamente, sob o argumento, segundo funcionários,de que eles ficavam desfrutando de sua fresca sombra.
É de se admirar a falta de sensibilidade de alguém que preside uma entidade com foco na preservação e na valorização da vida e se sinta no direito de cessar uma, tão pujante e significativa! Como classificar uma atitude de caráter tão arbitrário e condenável? Como se destrói com tanta naturalidade um ser que propicia paz, tranquilidade, alimento, perfume e sombra?
A árvore era saudável,o que se constata no toco que sobrou. Não há argumentação de que corria risco de cair.
Sobram-me revolta,tristeza, descrença, lágrimas e lembranças da mangueira cheirosa, que me trazia cenas agradáveis da minha infância no interior!
(Kátia Brenner Queiroz, médica radiologista)