Opinião

Um estranho no espelho

Redação DM

Publicado em 29 de março de 2017 às 02:40 | Atualizado há 8 anos

Eu me olho no espelho e não me reconheço… E estranho a minha voz. Partes do meu corpo também são estranhas… O mundo parece irreal, um sonho constante. Não sei explicar!”, diz a estudante de biomedicina Ana, 21 anos, que sofre de transtorno de despersonalização e desrealização, um tipo de transtorno dissociativo.

Nos quadros dissociativos há um comprometimento da percepção do indivíduo em relação à consciência, memória, identidade e ao ambiente à sua volta. Em situações normais, essas funções devem ser reconhecidas como únicas e interligadas.

Podem ocorrer sensação de anestesia sensorial (sentidos menos sensíveis aos estímulos do ambiente) e sentimento de perda de controle de algumas funções, como a da fala. A despersonalização pode ser resumida como uma sensação de irrealidade para com o próprio corpo. É como se ele não fosse do indivíduo ou não existisse.

 

Problemas em comum

Com a sensação de que o mundo parece irreal, um sonho, a pessoa se sente como se estivesse “dentro de um filme”, onde tudo ao seu redor parece estranho e mecânico. Na desrealização, os objetos podem ser percebidos de maneira alterada no tamanho e na forma (macroscopia e microscopia). A desrealização pode estar presente sem a despersonalização. Nesse caso, os problemas de percepção estão ligados com a realidade e não com o corpo.

A psicóloga Giovana Tessaro explica que a despersonalização e a desrealização podem ser sintomas de outros problemas. “Elas podem surgir em outros quadros patológicos como depressão maior, transtorno de estresse pós-traumático e abuso de substâncias tóxicas. São bastante comuns em ataques de pânico”. Nesses casos, se a causa do problema for tratada, a despersonalização e a desrealização tendem a desaparecer. “O maior número de casos com sintomas de despersonalização e desrealização são concomitantes a doenças como essas. É difícil encontrar um paciente apenas com transtorno de despersonalização”, diz a psicóloga.

O transtorno de despersonalização é diagnosticado quando não há outra doença presente e a frequência dos sintomas causa muito sofrimento e prejuízo na qualidade de vida do paciente. Nos quadros de despersonalização e desrealização crônicas, a angústia do indivíduo pode ser tão intensa a ponto de causar desejo suicida, o que requer ajuda especializada rápida.

 

Tensão cerebral

Há evidências de hiperativação interna do córtex pré-frontal (área do cérebro envolvida na tomada de decisões e controle emocional) e hipoativação das amígdalas (onde ficam registradas as memórias emocionais). Isso estabelece um estado contraditório de hipervigilância e apatia. O cérebro está sempre alerta, mas as emoções são fracas. E essa tensão cerebral causa muito cansaço e indisposição.

Podem existir sintomas de ansiedade e depressão, pensamentos obsessivos e confusão quanto ao sentido do tempo, que parece passar muito rapidamente. Sonolência excessiva, sensação de não existir e de cabeça vazia e pressão na cabeça são comuns nesses pacientes.

Pessoas com despersonalização e desrealização apresentam dificuldades para sentir emoções e identificá-las. Há a lembrança dos fatos intelectualmente, mas não emocionalmente. Existem também problemas de concentração, percepção, memória e tendência ao isolamento.

 

(Larissa Jansson, jornalista e contribuidora do site Despersonalização.com)


Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias