Opinião

Um navio à deriva

Redação DM

Publicado em 7 de novembro de 2015 às 00:03 | Atualizado há 10 anos

Era uma vez um navio que navegava pelo oceano já há um bom tempo. Muitos e muitos anos.

Enorme como o Titanic, ele tinha capacidade para um grande número de passageiros. Estes foram se renovando com o passar das épocas. As tripulações e os comandantes também foram sendo substituidos com o tempo. Mas o navio, maltratado e muitas vezes saqueado, sobrevive até os dias de hoje.

Cada comandante que o dirigiu, no decorrer de sua história, o fez de uma maneira diferente. Uns levaram-o a mares tranquilos e serenos, outros o conduziram a mares revoltos e hostis.

Agora, há bem pouco tempo atrás, ele enfrentou um longo período de tempestades constantes que o levaram sempre em direção às pedras. Foram tempos difíceis em que os passageiros já nem tinham mais esperança de dias melhores, quando assumiu a direção do navio um novo comandante.

Era um novo comandante, mas não um comandante novo. Estava mais para idoso do que para jovem. Se apresentava sempre de terno. Tinha um nome cujas iniciais fazia lembrar um inseticida antigo. Eu acho que era B.H.C. o nome do produto. Esse comandante tinha uma característica na fala: Falava rapidinho, afinava e engrossava a voz várias vezes, dentro de um mesmo período gramatical.

Mas o importante é que esse homem  conseguiu o que parecia impossível. Levou o navio para céu um céu azul e águas tranquilas. E os viajantes acharam isso muito bom e viveram dias de paz e tranquilidade.

Passou-se um bom tempo nessa maré mansa, com a direção desse comandante, até que, infelizmente, chegou a hora dele sair.

Entrou em seu lugar um comandante barbudo, estatura mediana, atarracado, de voz grave. Gostava muito de dizer: “Companheiros”, ‘companheiras”, seguido de um discurso eloquente. Tinha, como apelido, o nome de um molusco marinho.

No início, ele deu continuidade às rotas traçadas pelo seu antecessor, e tudo ia indo muito bem. Mas logo passou a tomar decisões típicas de um inexperiente. Sim, porque até então só tinha dirigido uma jangada. Comandar um navio de porte grande em alto-mar era bem diferente!

Entusiasmado e cheio de bons propósitos, o Comandante Barbudo começou a fazer manobras novas visando encontrar caminhos marítimos ainda melhores para a população do navio. Foi quando fez coisas insensatas e inconsequentes, desestabilizando um navio que vinha vindo muito bem.

Junta-se a isso o aparecimento de piratas. Piratas insaciáveis para os quais o comandante Barbudo teve de dar muito ouro para poder seguir viagem. Deixou-os todos ricos. Este episódio, somado aos desmandos, levou o caixa do navio a dificuldades financeiras. Sem dinheiro,  pioraram ainda mais as condições do navio para se garantir uma viagem segura. Com todas esses fatores negativos, a embarcação acabou por ir para o caminho das pedras, dos recifes e dos corais.

Se aproximava o fim do tempo desse comandante, e os passageiros não se davam conta do que realmente estava acontecendo. Para eles  parecia tudo bem, que o navio estava indo de vento em polpa.

Chegou, então, o fim do período do comandante Barbudo. Ele entregou a direção do navio a uma apadrinhada sua, a Dama de Vermelho. Chamamos-a assim porque gosta muito de vestir um “taileur” vermelho com a saia ligeiramente além-joelho. ‘Taileur”, para quem não sabe, é uma vestimenta feminina, de uma moda já meio antiga, que se constitui de uma saia justa e um paletozinho apertado, com manga 3/4. Seus sapatos têm salto alto moderado apenas para deixá-la um puco mais alta e elegante. Usa cabelos curtos, a lá rapaz, com um topete que é a mistura do topete do Elvis Presley com o do Pica-Pau. Gosta muito de dizer em sua fala: “No que se refere a isto”, “no que se refere àquilo”; e passeia de bicicleta todas as manhãs pelos corredores do navio.

Embora a viagem dirigida pelo comandante Barbudo já desse sinais de graves adversidades, a nossa nova comandante continuou na mesma  linha de comando dele, pois devia a ele a continuidade do mesmo “modus-operandis”. “Modus-operandis” este que não foi sábio nem prudente. Por isso, nem sábio e nem prudente foi também o comando da Dama de Vermelho. Bastou algum tempo de direção sua para levar o navio para caminhos ainda mais cheios de pedras, aumentando em muito as dificuldades de navegação.

Reuniões e reuniões ela, desesperada, fazia com a tripulação no intuito de descobrir um jeito de se livrar dos rochedos e achar a saída para uma navegação tranquila.

Parte da tripulação já falava em tirá-la do comando e colocar outro ou outra em seu lugar, quando um velho sábio, dentre eles, numa dessas reuniões, se levantou em defesa da Dama de Vermelho, dizendo:

– Vamos dar a ela um voto de crédito, e esperar um pouco, com paciência e colaboração, para que ela encontre o caminho da governabilidade de seu navio. Ela – continuou o velho sábio – não está sendo covarde. Não está pulando fora do barco e deixando os passageiros literalmente a ver navios. Ela não está renunciando como fez um comandante do passado, um sr., magrinho, de terno, bigode e cabelo pretos, de óculos com armação também preta, e que usava, como símbolo, uma vassourinha. Não, ela está lutando! Se ela fez alguma coisa que está na coluna dos ilícitos na “Cartilha do Lícitos e Ilícitos de um Comandante de Navio”, foi para que este não afundasse de vez. Como sabemos, até hoje ela tem seguido os plano de navegação do Comandante Barbudo. Vamos dar a ela um tempo para que encontre o seu próprio  e novo caminho, e tire esse navio da situação em que se encontra. Afinal, que garantia temos de que quem entrar em seu lugar será melhor que ela? Ou, que não terá os mesmos defeitos dela ou piores? E, também, que preço pagaremos por essa troca?

Pensemos nisto!

 

Legenda:

Navio = Brasil

Viajantes = População do Brasil

Tripulantes = Deputados, senadores e outros agentes de influência nos destinos da Nação

Comandantes = Presidentes do Brasil

Jangada = Sindicato dos Metalúrgicos

Piratas = Pessoal do Mensalão e do Petrolão

Velho sábio =  Alguém do meio político que tem juízo e bom senso

 

(José Maria Moreno, odontólogo aposentado. Email: [email protected])


Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias