Opinião

Uma análise sistemática e psicológica

Diário da Manhã

Publicado em 17 de dezembro de 2015 às 22:49 | Atualizado há 9 anos

Em tempos modernos, moda não é só que vestimos ou usamos, mas principalmente, tudo que possa ser imitado, copiado e que gera “escândalo”. A moda atual é final de relacionamento com a mídia por perto. Quando investimos em alguém é porque queremos aquela pessoa. Mas investimento não é amor, pois o amor transcende o investimento. Isso é verdade, mas o amor precisa do investimento para começar. Podemos amar só aquilo que é importante para nós de uma maneira ou de outra. Mas, com o investimento, há sempre o risco de perda ou rejeição. Se você se move na direção do outro ser humano, há sempre o risco de que aquela pessoa se afaste de você, deixando-o(a) mais dolorosamente sozinho(a) do que estava antes. Ame qualquer coisa viva – uma pessoa, uma bicho de estimação, uma planta – e ela morrerá. Confie em qualquer um e será magoado; dependa de alguém e essa pessoa o(a) decepcionará. O preço do investimento é a dor. Se alguém está determinado a não se arriscar a sentir dor, então essa pessoa deve abrir mão de muitas coisas: ter filhos, casar, o êxtase do sexo, a esperança da ambição, a amizade – tudo que torna a vida viva, significativa, importante e traz crescimento psicológico e espiritual. Mude ou cresça em qualquer dimensão e a dor, assim como a alegria, será sua recompensa. Uma vida plena será cheia de dor. Mas a única alternativa é não viver plenamente ou simplesmente não viver.

O que mais tememos no final de um relacionamento é o inevitável: a dor e o sofrimento. Assim, toda vida representa um risco e, quanto mais vivemos de maneira amorosa, mais riscos assumimos perante a vida e o viver. Dos milhares, talvez milhões de riscos que podemos correr numa vida, maior é o risco de crescermos. Crescer num sentindo amplo é o ato de passar da infância para maturidade. Na verdade, é mais um salto temível do que um passo, e é um salto que muitas pessoas nunca dão realmente. Embora, possamos parecer, adultos externamente, até mesmo “adulto” de sucesso, talvez a maioria dos “crescidos” continue, até a morte, sendo psicologicamente crianças que nunca se separaram realmente dos pais e do poder que os pais têm sobre eles. São pessoas inseguras, ansiosas e dependentes.

Assim, para estes que não conseguiram realmente se separarem dos pais também irão ter dificuldades de se separarem de um relacionamento quando este inevitavelmente, chega ao final, fazendo disso um verdadeiro caos. A maioria das pessoas vive nos extremos: ou se ama possessivamente ou então parte para o desamor que se transforma em raiva, pois dentro de si o ego dá as normas e se essa pessoa não pode ser sua, a única alternativa é odiá-la. A maioria das pessoas que se separaram se tornam inimigas. Somente quando damos um salto para o desconhecimento em busca de nossa personalidade total, da independência psicológica e da individualidade única é que se é livre para prosseguir por caminhos ainda mais altos de crescimento psicoespiritual e manifestar o amor nas suas dimensões superiores. Enquanto a pessoa se casar, assumir uma carreira ou tiver filhos para satisfazer os pais ou as expectativas de qualquer pessoa, incluindo a sociedade como um todo, o compromisso será, pela sua própria natureza, superficial.

Nenhum casamento poder ser julgado verdadeiramente bem-sucedido a menos que marido e mulher sejam os melhores críticos um do outro. O mesmo é verdade para a amizade. O confronto amoroso mútuo é uma parte significativa de todos os relacionamentos humanos significativos e bem sucedidos. Sem ele, o relacionamento fracassa ou permanece superficial. Muitos relacionamentos chegam ao final por falta de compromisso.

Grandes casamentos não podem ser construídos por indivíduos que morrem de medo da sua solidão básica, como costuma ser o caso, e procuram uma fusão no casamento. O amor genuíno não só respeita a individualidade do outro como procura cultivá-la, mesmo correndo o risco da separação ou da perda. A meta suprema da vida continua sendo o crescimento espiritual do indivíduo, a jornada solitária para picos que só podem ser escalados por pessoas sozinhas. As viagens bem sucedidas não podem ser realizadas sem o sustento oferecido por um casamento bem-sucedido ou por uma sociedade saudável. O casamento e a sociedade existem para finalidade básica de alimentar essas viagens individuais. Mas, como no caso do amor genuíno, “sacrifícios” em prol do crescimento do outro levam a um crescimento igual ou maior da personalidade. É o retorno do indivíduo ao casamento ou sociedade sustentadora, vinda dos picos para onde viajou sozinho, que serve para elevar aquele casamento ou sociedade até novas alturas. Deste modo o crescimento individual e o social são interdependentes, mas a fronteira do crescimento é sempre solitária. Somente há crescimento a dois quando ambos se amam individualmente.

Outro fato que tem levado ao final do relacionamento e é, igualmente comum, e tradicionalmente feminino, é criado pela esposa que, uma vez casada, sente que a meta da sua vida foi alcançada. Não podemos ignorar que muitos homens também agem assim.  Ela não consegue compreender nem sentir empatia pela necessidade do outro de fazer conquistas e experimentar coisas além do casamento, e reage a elas com ciúme e intermináveis exigências para que ele ou ela se dedique cada vez mais ao lar.  Como outra solução “comunista” para o problema, esta cria um relacionamento sufocante e embrutecedor, no qual o cônjuge, sentido-se aprisionado e limitado, pode fugir num momento de “crise de meia-idade”. Hoje sabemos que o casamento é uma instituição de cooperação, exigindo contribuições e cuidados mútuos, além de tempo e energia, mas existindo pela finalidade primaria de auxiliar cada um dos parceiros nas suas jornadas individuais rumo aos seus próprios picos de crescimento espiritual.

Quando tudo isso é observado numa relação que cresce mutuamente, primeiro: a chance de um final de relacionamento diminui e, em segundo lugar se por ventura o relacionamento chegar ao final é bem possível que não será uma tragédia e nem será tratado como um fracasso que deva ser escondido e se envergonhar. Compreender, principalmente,  que nenhum relacionamento acaba por um motivo, mas como tudo na vida é processual e aos poucos vai caminhando para o fortalecimento ou para o seu final. Em primeiro lugar somente quando duas pessoas buscam a compreensão mútua e ambos se permitem viver através da descoberta diária do que cada um é capaz de contribuir para que a relação se fortaleça na descoberta e não se enfraqueça nas cobranças de toda ordem.

Finalmente, não podemos ignorar que tudo na vida tem princípio, meio e fim, portanto, muitos relacionamentos também chegam ao fim, embora devamos compreender também que o fim de um relacionamento não o fim da vida, mas o recomeço, para dar a si mesmo a oportunidade de retornar à vida e colocar em prática tudo que foi aprendido durante a relação ou mesmo avaliar o porque nada foi aprendido e como podemos estabelecer um novo direcionamento para a vida que ainda pulsa em nossas veias. Nada que acontece num relacionamento é unilateral, mesmo que ao final achamos que o outro é o único culpado pela separação e pelas consequências dela advinda. Lembrando que nem tudo que nos parece ruim é realmente ruim ou tudo que nos parece bom é, realmente, bom. Todo ato pode e deve ter interpretações específicas.

 

(José Geraldo Rabelo, psicólogo holístico, psicoterapeuta espiritualista, parapsicólogo, filósofo clínico, artista plástico, prof. Educação Física, especialista em família, depressão, dependência química e alcoolismo, escritor e palestrante)

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