Opinião

Uma análise sistemática e psicológica sobre o cíume patológico e suas consequências nos relacionamentos – parte I

Redação DM

Publicado em 3 de maio de 2015 às 01:40 | Atualizado há 10 anos

 

Nós cristãos somos insistentes em apontar o orgulho e o egoísmo como os geradores de todos os defeitos humanos. O ciúme e a inveja não escapam a essa regra.

Você conhece alguma pessoa ciumenta? Não me refiro ao “ciúme comum”, daquele que dizem que é o tempero do amor, embora seja desse que surge aquele outro que iremos discursar nesse artigo. Falamos do ciúme doentio, que foge dos limites do aceitável. O espírito imortal traz consigo, ao reencarnar, suas características adquiridas no curso de muitas vidas. Essas características desabrocham logo na infância na forma de tendências ou predisposição à doenças físicas e/ou emocionais. Se a educação e o acompanhamento familiar não souberem detectar e modificar essas tendências desde cedo, essas características se desenvolverão livremente. Por esse motivo não somos a favor da frase: “Isso é coisa da idade”. O ciúme trabalhado na infância não perpetuará e não evoluirá à fase adulta. “Educai as crianças e não será precisa punir os Homens”.

A formação da sua personalidade, na infância, apenas utilizou o seu material espiritual. Por isso já mencionamos em outros textos que é emocional que desperta o espírito adormecido em nós, portanto, é durante a formação de nossa personalidade que iremos desenvolver nossas qualidades e defeitos, muitas vezes, trazidos de existências outras.

Como sentimento egoísta, o ciúme procura roubar a liberdade do outro, tenta obrigá-lo a seguir por um caminho delimitado ou simplesmente aprisioná-lo. O ciúme é um exercício enlouquecido de poder, de dominação e de aprisionamento do outro.

A pessoa ciumenta não sabe diferenciar imaginação e realidade, não sabe distinguir fantasia e certeza. Uma brincadeira do(a) companheiro(a) pode ser transformar numa discussão ou na frase: “Você não me leva a sério”. Motivo que as leva assistir filmes românticos como se fosse a própria realidade. Na música “Esse cara sou Eu” muitas mulheres doentes querem uma pessoa assim; as saudáveis e com maturidade não.  Qualquer dúvida em sua cabeça logo se transforma em delírio. A vítima do ciumento se sujeita a ter seus pertences revistados em busca de vestígios que nem imagina do que seja. Sendo o primeiro passo para quem vive com o ciumento: a mentira, para evitar discussões. O ciumento tem ciúme do passado do outro, dos seus relacionamentos anteriores, e vive imaginando detalhes sobre fatos verdadeiros ou não.

O que o ciumento quer é o controle total e absoluto dos sentimentos, da atenção e do comportamento em geral do outro. O outro passa por situações vexatórias e bizarras, isso quando não impera a violência. Quantos crimes passionais devem sua origem ao ciúme doentio? Vivemos hoje uma violência assustadora nos relacionamentos afetivos, provocado quase sempre pelo ciúme e que muitas vezes acabam em tragédias. Quantos casos de mulheres que se sujeitam à violência doméstica por depender emocionalmente ou economicamente do parceiro? Homens imaturos emocionalmente também se tornam refém de mulheres ciumentas.

Ciúme não é amor. Pode estar relacionado a amor, mas a um amor que está doente. Quando o amor adoece nasce o ciúme. Ou como diria Freud: o ciúme é o amor invertido ou o amor que enlouqueceu. É um sentimento profundamente egoísta que envolve um medo insuportável de perder o parceiro para outra pessoa ou para o mundo. Mesmo que essa pessoa só exista na imaginação do ciumento. O ciumento é alguém com a autoestima baixíssima, que não confia em si e nos seus sentimentos. Julga o outro pelos seus pensamentos mórbidos. É possessivo, calculista, perfeccionista e sempre se apresenta como vítima (síndrome de “vitimismo” já mencionado em outro artigo nesse mesmo jornal – edição de 26/09/13).

O ciúme, assim como outros sentimentos como raiva, mágoa, inveja, desencadeia uma série de doenças. Essas doenças podem se manifestar já nesta encarnação ou acompanhar o espírito imortal até uma próxima oportunidade na matéria para expurgar essas energias negativas, esse lixo mental e emocional.

É importante que o ciumento e sua vítima se conscientizem da necessidade de ajuda. Parece claro que, além da própria personalidade desajustada do ciumento, há interferência de espíritos obsessores nessas situações, como podemos observar no livro “Ninguém é de Ninguém”. Mas de nada adianta tratamento desobsessivo ou ajuda profissional se não houver o propósito firme de uma renovação interior que se faz “mister”. Só com a vontade real de se ajudar, de colaborar consigo mesmo, pode ser efetivada uma melhoria significativa. Isso vale para o ciumento e também para o seu parceiro, que é vitimado pelo seu ciúme. Nunca é demais lembrar que ninguém é vítima por acaso. O acaso não existe. Tudo o que nós colhemos é o que um dia nós plantamos. Ninguém está com alguém vítima do acaso. Mas é sabido que aquela pessoa que vive com o ciumento tende a se tornar um fraco e um dependente da possessividade do ciumento. Um escora na fraqueza do outro e ambos adoecem.

Por isso, o ciúme é considerado um demônio perturbador e desestruturante da personalidade onde o indivíduo vive o que acha que é, mas não tem certeza, mas que também não pode ser de outra forma. Não há ciúme sem inveja e insegurança. O ciumento por amor a vida (e não amor a si mesmo), deseja amar e se não o consegue passa a agredir-se e a agredir o seu companheiro(a) sem racionalizar.

O não-ciumento sabe o que estamos falando.

O que gera o ciúme é o “desejo obsessivo”… O que alimenta o ciúme é o frustrar-se. Gostaria de trazer para reflexão sete comportamentos ciumentos destrutivos na visão de um mentor espiritual ou de minha própria mente isso não é importante, o que importa é a reflexão do ciumento para uma possível mudança de si mesmo:

Primeiro: Ciumento queixoso – é aquele que implora, falando ou em silêncio, o amor que pensa não receber. Usa de agressividade com pitadas de covardia, pois se esmera em ofender dissimuladamente, fica sempre cutucando. Retira o que sustenta (material ou não) o outro como forma de mantê-lo sobre controle, sob sua dependência.

Sente-se ofendido e frustrado e é capaz de interpretar um papel, com cena e tudo, para demonstrar sua insatisfação, vive num mundo imaginário por ele mesmo criado.

Segundo: Ciumento carrancudo – introvertidos e desconfiados por natureza, demonstram grande imaturidade afetiva, ficando “de tromba” quando o companheiro não corresponde. Usa o silêncio e a frieza para revidar a não correspondência. Faz greves intermináveis. Sua atitude de fuga o torna um ciumento crônico, pois não se confronta com o motivo que o faz ressentir-se. Está sempre “querendo” conversar; mas fica sempre em silêncio.

Terceiro: Ciumento barraqueiro – com o dedo em riste, este ciumento, meio maníaco, meio paranóico, explica minuciosamente os motivos de suas desconfianças. Se sente prejudicado por não ser amado como gostaria. Acusa e faz vexame em público. Usa frases insultantes, agressivas e são chamados de imperialistas do amor.

Não admitem que o seu par seja daquele jeito, que o ame daquela maneira, tem de ser como ele quer. Policia o comportamento e as atitudes do companheiro, e este “coitado” vive eternamente num salto alto. Intimida e usa o ciúme como uma arma para justificar sua agressividade. Tudo que o companheiro faz para os outros é motivo de recriminação, uma simples atitude de educação já é motivo para fazer “barraco”. Não deixa de ler a parte II desse artigo.

 

(José Geraldo Rabelo, psicólogo holístico, psicoterapeuta espiritualista, parapsicólogo, filósofo clínico, especialista em família, depressão, dependência química e alcoolismo, escritor e palestrante. E-mails.: [email protected]  e/[email protected])

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