Uma lição de vida de Mestre Alberto
Redação DM
Publicado em 16 de janeiro de 2016 às 00:14 | Atualizado há 9 anosDesde os anos setenta, venho travando luta acirrada visando à aplicação de adequado tratamento das questões penais a todo o território brasileiro.
Nesse trabalho missionário, fiz dezenas de contatos do mais alto nível, dentre as quais com os saudosos amigos Benjamin Moraes Filho, Manoel Pedro Pimentel, desembargador Federal Alberto José Tavares Vieira da Silva, dentre tantos outros.
Muitos dentre esses, mantém comigo estreito relacionamento, pessoal e profissional. Dentre esses cientistas do Direito, destaco, pelo seu caráter, o prof. Alberto José Tavares Vieira da Silva, desembargador Federal, a quem coube instalar e presidir a Seção Judiciária de Brasília, Distrito Federal.
A amizade que se desdobra por décadas, inclusive o privilégio de compor Banca Examinadora de Mestrado perante da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza (CE), justifica a carinhosa mensagem esculpida no texto “Lição de Vida” que, com o maior respeito, dou a lume, agora, no limiar do Ano Novo.
Os adágios populares resultam da observação dos sucessos cotidianos e os fatos comprovam o quanto apregoam.
Eis o texto do prof. Alberto verbis:
“Li, outro dia, entrevista do professor Licínio Leal Barbosa, estimado amigo, na qual relata que deixou as paragens pastoris de Bom Jesus, sua cidade natal, situada no interior do Piauí, com o propósito de estudar Direito em Goiânia visando a reparar uma afronta.
Explicitou que um membro de sua família paterna fora preso, por motivos políticos, a mando de um chefe provinciano fascista que resolveu estender a sanha persecutória a todos da família.” Lembrei-me, entrementes, do velho e relho ditério bem ajustável à situação em epígrafe: “Deus escreve certo por linhas tortas.” Afigura-se evidente que a linha torta – que por sua insignificância não passou de mera entrelinha – foi o energúmeno fascista.
“Tangido pela dor moral e intrépido, Licínio resolveu sair da sua amada terra e legou-nos notável ensinamento, tal o de não sujar as mãos com o sangue do agressor da honra de sua família, preferindo seguir os caminhos do Direito em busca da realização da Justiça.”
O padre Antônio Vieira ao explicar as razões que levaram Santo Antônio a deixar Lisboa, seu torrão natal, e buscar Pádua, sentenciou: “Sem sair ninguém pode ser grande.”
“Ao depositar fé inabalável na Justiça o jovem Licínio demonstrou, antes mesmo de sair, que já era grande. O certo é que o intimorato interiorano saiu a pregar o Evangelho da Justiça, como verdadeiro semeador, e não mais voltou. Segundo dito alhures, a semeadura se mede pelos passos e assim quem mais anda mais semeia.”
Ninguém, entanto, caminha mais que os andarilhos maltrapilhos que perambulam sem rumo ao longo das estradas. Essas desafortunadas criaturas nada semeiam e o caminhar torna-se estéril, não gera frutos. O sair e o semear só dão bons frutos quando a semente é boa.
“Homem de caráter sem jaça, o semeador Licínio, por onde andou, sempre semeou as mais nobres sementes. Possuidor de densa cultura jurídica e humanística tem o dom verdadeiro do líder, porque capaz de congregar os que professam credos científicos inconciliáveis.” Todavia, do atrito dessas ideias sempre surgiram as mais radiosas luzes, a exemplo das ‘Moções de Goiânia I e II’.
“Mestre Licínio conseguiu vencer a resistência de alguns que enxergavam pouco e introduziu no campo do ensino universitário cursos de Especialização de alto nível, colimando aumentar o horizonte dos conhecimentos dos futuros profissionais do Direito.
Na administração pública quase sem recursos, procurando reeditar a multiplicação dos pães, logou dessepultar órgão federal que jazia anquilosado e inerte.
Na Cátedra, conquistou o respeito e a admiração de centenas de jovens que buscam inspiração no mestre dedicado e competente do qual oxalá sejam os continuadores.
No exercício da arte de advogar o viajador exemplar se fez ouvir perante os mais altos auditórios da Justiça, graças a sua notória autoridade intelectual exercitada sem a jactância dos parvos e jacobeus.
Esse notável varão, sempre atento, acompanhou e colaborou na feitura dos textos legais ligados às transformações no campo penal em nosso país.
Nas mais distintas Academias culturais nas quais tem assento, graças ao fulgor da sua inteligência, sempre deixou a marca das suas excelentes contribuições.
O peregrino Licínio, em afortunado dia, convolou núpcias com a dra. Abadia e ambos semearam a semente de grandioso amor do qual são frutos opimos os filhos e netos.”
Licínio Leal Barbosa é aquele que, fiel ao Evangelho, saiu para luzir suas luzes, glorificar a Deus e mostrar ao longo do seu jornadear as boas obras que fez, comprovando ser possível “cavar masmorras aos vícios e edificar templos à Virtude”.
(Licínio Barbosa, advogado criminalista, professor emérito da UFG, professor titular da PUC-Goiás, membro titular do IAB-Instituto dos Advogados Brasileiros-Rio/RJ, e do IHGG-Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, membro efetivo da Academia Goiana de Letras, Cadeira 35 – E-mail [email protected])