Umberto Eco
Redação DM
Publicado em 22 de março de 2016 às 00:39 | Atualizado há 9 anos
O final dos anos 80 do século passado foi, para mim, de certa agonia. Lembro-me como se hoje fosse… Lá estava este escriba, na Universidade de Campinas, concluindo os créditos do mestrado. A etapa posterior era de elaboração do projeto que daria forma a uma tese que seria defendida no ano seguinte.
No meu momento de dúvidas a respeito da materialização do projeto, li autores brasileiros procurando me inspirar no desenvolvimento do tema que já tinha em mente. Pura perda de tempo. As leituras foram em vão pelo fato de a maioria dos livros brasileiros a respeito desse assunto ser entediante. Eles, no fundo, tornavam-se um emaranhado de regras sem dar uma ideia do todo.
Procurei meu orientador e este me mostrou um pequeno livro de 112 páginas que li numa sentada só. Era “Como Fazer uma Tese”, do grande pensador italiano que acaba de nos deixar: Umberto Eco. Estimulante e iluminadora foi o sensação que tive ao sair daquele mergulho intelectual.
Naquele pequeno grande livro, o autor filosofa. Sua narrativa romanceada conduz o leitor, de capítulo em capítulo, levando-o a entender a arte de articular as partes no todo de um projeto de tese.
A morte desse grande pensador deixa uma enorme lacuna na cultura ocidental da qual ele foi um dos maiores representantes. De origem humilde, Eco viveu os momentos turbulentos da 2ª Guerra Mundial. “Entre os 11 e 13 anos eu aprendi a evitar balas”, dizia ele. Já um pesquisador renomado e respeitado nos meios acadêmicos mundiais, Eco se aventurou tardiamente pelos caminhos do romance. Teve enorme sucesso e tornou-se globalmente conhecido do grande público.
Seu Romance de estreia, “O Nome da Rosa”, virou um best-seller transportado para telas do cinema, tendo, no papel principal, o grande ator escocês Sean Connery. Trata-se de um enigma de crimes que ocorre em um mosteiro da Idade Média. Os talentos do autor e do ator prendem o espectador do início ao fim.
Depois desse sucesso, vieram outros reconhecidos pela crítica: “O Pêndulo de Foucault”, “A Ilha do Dia Seguinte” e “O Cemitério de Praga”, que consolidaram esse italiano do Piemonte no lugar que ele merece, ou seja, no panteão dos maiores escritores do século. Umberto Eco foi um grande erudito que transitou entre dois mundos: o da academia e o da comunicação de massa.
(Salatiel Soares Correia, engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento Energético, autor, entre outras obras, de Cheiro de Biblioteca. Obras e Personalidades que Fazem nossa Época)