Valico
Redação DM
Publicado em 25 de fevereiro de 2016 às 00:33 | Atualizado há 9 anos
Durval Rodrigues Chaves o seu nome no cartório, Valico na boca do povo. Foi um dos políticos mais populares da minha Jataí no fim da década de 1950 e início década de 1960. Ganhava o pão no labor de pedreiro. Em 1958 o convidaram para postular cadeira de vereador pelo PSD, que ali, na “Cidade das Abelhas”, agasalhava a oligarquia “dos Carvalho”. O médico e proprietário rural Serafim de Carvalho era a principal personagem do tradicional município. Ele dava as cartas no diretório do PSD. Proporcionalmente, o PSD de Jataí era o mais forte do País. Tubarões e lambaris sufragavam o Partido Social Democrático do Serafim e do também médico Pedro Ludovico, apelidado “Cacique”, senhor do Estado de Goiás. Não se amavam Pedro e Serafim; toleravam-se. Serafim poderia eleger-se governador goiano em 1958, mas apoiou seu cunhado José Feliciano Ferreira, facilmente vitorioso. No correr da campanha eleitoral, ironizava-se o Valico como se ele fosse idiota, como se bobo fosse.
Seu slogan era: “Seja pobre ou seja rico todos votam no Valico.” Alguns ricos (pelo menos assim considerados) talvez sufragaram seu nome, mas natural que as camadas adjetivadas de “inferiores”(no capitalismo, superior é o que tem dinheiro ou vultosos bens materiais; inferiores, os demais), o preferissem nas urnas.
Naqueles tempos havia os barracões rústicos conhecidos, popularmente, por “ranchos alegres”, que ofereciam refeições aos eleitores e à realização de animados bailes. Havia o rancho alegre do PSD e rancho alegre da UDN. Convidava-se o povo pelos serviços volantes de propaganda. Surgiu, então, a anedota segundo a qual o candidato Valico se apossava do microfone e dizia assim; “Vem todo mundo para o rancho alegre do PSD, se ocê não tiver roupa nova, passa o ferro na velha e vem assim mesmo.”
Das urnas de 3.10.1958, mais uma vez, triunfante o PSD do Serafim. Dentre os eleitos ao Legislativo municipal, o Valico. Sídney Ferreira, que veio a ser o mais expressivo udenista local, pela terceira vez consecutiva se consagrou o vereador mais votado dentre todos os concorrentes ao cargo. Para prefeito ganhou Antônio Gedda, cunhado do Serafim; para vice-prefeito, Miguel Gonçalves da Silva, o primeiro a ocupar esse posto. Taciano de Melo conquistou cadeira de senador.Para governador, como já foi dito, Feliciano (Gedda derrotou Sebastião Carneiro, o popular Sebastião Peteca; Durval Cândido de Oliveira foi o adversário do Miguel e o rio-verdense César Bastos enfrentou Feliciano). Valico se reelegeu, ainda pelo PSD, em 1962. Em 1966, agora pela Arena, não conseguiu novo mandato.
Hoje compreendo o motivo da ironia sobre o senhor Durval Rodrigues Chaves: preconceito social. No Brasil, as elites (pelo menos assim são consideradas) sentem-se incomodadas na companhia dos líderes gerados no meio do povão (Lula que o diga).
(Filadelfo Borges de Lima é escritor)