Opinião

Vanessa da Mata, a colibri do Cerrado

Redação DM

Publicado em 24 de janeiro de 2017 às 01:28 | Atualizado há 8 anos

Vanessa da Mata é como o colibri que vai abrindo espaços por esse Brasil afora e tornando-se notável expoente da música popular brasileira. Ele que é um dos frutos nativos do Cerrado. Nasceu em Alto Garças, Mato Grosso. É cantora, além de compositora e escritora. Já lançou meia dúzia de CDs.

Como se não bastasse esses traços em sua vida profissional, dá demonstrações de profundo conhecimento cultural e humano. Sem frescuras. No show da Turnê Delicadeza, no Teatro Rio Vermelho, no último sábado, interagiu com o público. É como se estivesse na nossa cozinha saboreando o arroz com pequi, prato predileto do goiano.

As pessoas presentes foram surpreendidas pela sua entrada no auditório no encerramento do show. Ela cantando e se entregando com toda paciência ao frenesi das selfies. Os celulares apareceram em profusão num instante mágico como se fosse o universo rendendo à estrela de maior brilho. Quem não quer está ao lado dessa cantora simpatia que ama a música popular brasileira?

Vanessa Sigiane da Mata Ferreira ganhou Goiânia com o seu canto e particularidades especiais. Entre elas, a sua voz doce, harmoniosa e estilo característico. A música sertaneja, tão ao gosto de grande parte do brasileiro, cantou dentro de seu próprio estilo. Em lances assim, onde soube inserir humor, o público reagiu com aplausos. Nem Nelson Gonçalves, que a sociedade de 40 sabia de cor, foi esquecida. Realmente, um espetáculo sem precedentes.

Mas, infelizmente, nas paradas, só se ouve música americana. Canções de outros continentes, de outros países, e do próprio Brasil ficam de fora. Infelizmente, o que é deplorável e um acinte à própria sociedade patrícia.

Alias, por falar em música brasileira, vou pessoalmente mais longe. Talvez, influenciado mais pela Vanessa. Entendo, por exemplo, que neste momento há uma febre do sertanejo. Os programas das redes de televisão se esquecem da diversidade da música brasileira. E cantores e compositores de outros ritmos patrícios ficam a ver navios. Não vejo divulgação de Marília Elali e Marina de la Riva, cantoras notáveis.

A música da roda de Recife está ficando cada vez mais ignorada. Numa ocasião, visitando a capital de Pernambuco fui a uma de suas praças. Em dado momento, alguém puxou outra pessoa para dançar. A roda foi ficando grande. Os dançantes nos envolviam. De repente, me vi também envolvido.

Outra vez, em Belém cheguei até a portaria do hotel e perguntei ao porteiro o que ele fazia à noite com a família. Não queria um programa indicado a turistas, que nem sempre corresponde e só serve para tomar o seu dinheiro. Fui assistir ao ritmo de Carimbó, de influência caribenha. A Fafá de Belém conhece. Ninguém divulga essas coisas. O Rio Grande do Sul tem seu ritmo também. A tevê, infelizmente, tá matando nossas raízes.

Compreendo que vivemos num mundo globalizado. Mas, estou convencido de que podemos preservar nossas riquezas culturais. Podemos apreciar a música e ritmos de todos os continentes. O menu é riquíssimo. É África como um todo, de onde despontou Noa e outras estrelas e astros. O estilo árabe tem seu espaço com todo o instrumento musical. Seguem o mesmo destino, países como a Rússia, França, Itália, Espanha, México etc. Em termos de música internacional, as emissoras de rádio se primam pelos cantores americanos. Ou é por falta de conhecimento – ou de vergonha mesmo – ao nos empurrar lixo goela abaixo ou na marra pelos ouvidos?

Se no Brasil se peca quanto à música, tive uma grata surpresa ao passar uma temporada fazendo um curso em Tel Aviv, Israel. Na nossa escola, num domingo, dirigi-me à sala de lazer para ouvir músicas. Liguei uma emissora de radiodifusão local. Justamente na hora em que o locutor anunciava uma seqüência de duas horas de músicas latino-americanas.

Vibrei: – Oba. Agora vou ouvir música brasileira.

Atento, a primeira, a segunda, a terceira música. E nada de samba, forró ou algo que o valha. Já estava praticamente uma hora e só pintava no pedaço ritmo caribenho, músicas chorosas do México, tango argentino. A decepção já tomava conta de mim quando sou surpreendido pelo mesmo locutor.

“Senhoras e senhores, agora uma hora somente de músicas brasileiras”. Ah, minha auto-estima voltou às alturas. Afinal de contas, o Brasil possui uma miscigenação de raças e, portanto, de cultura inigualável. Comporta todos os ritmos sem discriminação. Apenas o ouvinte de bom gosto cobra qualidade.

 

(Wandell Seixas é jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, ex-bolsista em agropecuária pela Histradut, em Tel Aviv, Israel e autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste.)

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