Vivemos a fazer de conta
Redação DM
Publicado em 18 de janeiro de 2018 às 00:03 | Atualizado há 7 anos
Brincar, em português, é divertir-se fazendo de conta; em espanhol, é saltar. Desde que o homem existe, ele faz de conta. Quando era eu menino de 5,6,7 anos, muito me aprazia fazer de conta que era chofer de caminhão. Pegava um prato ou bacia pequena e me punha, no quintal e na rua, como se essas peças fossem volantes, a imitar, com sons vindos da garganta, os motores de automóveis. Estacionava, brecava, acelerava. Em razão disso, riam-se os vizinhos.
Agora, que sou ancião(73 carnavais), acordo quando ainda é madrugada e me deixo invadir por ideias sobre a humanidade. Mais ou menos às 5 da manhã de sábado, 13 de dezembro de 2018, me veio a convicção de que os seres humanos brincamos sem cessar, inclusive com coisa séria.
Lutero teria dito que o homem é adorador nato. Se o disse, disse-o bem. Fazemos de conta que amamos a Deus porque temos medo da justiça divina e tentamos equivocá-lo com nossas “boas obras”. Fazemos de conta que somos justos, mas não aceitamos a justiça social. Fazemos de conta que amamos a liberdade, e nos prendemos aos tabus. Fazemos de conta que cultuamos a vida, contudo nos alegramos com as mortes de “suspeitos” pelas mãos do estado e pedimos que haja pena de morte. Fazemos de conta que somos tolerantes. Quando rezamos(reza é uma coisa, oração é outra coisa) o Pai Nosso, fazemos de conta que perdoamos nossos inimigos na mesma proporção que Deus nos perdoa.
Nós, brasileiros, fazemos de conta que amamos a democracia.Os Inconfidentes, com exceção do alferes e de algum outro, fizeram de conta que pugnavam pela Independência do Brasil. No Dia da Pátria fazemos de conta que somos uma nação independente. Deodoro fez de conta que proclamara uma república, o futebol brasileiro hodierno faz de conta que tem craques, o Brasil faz de conta que é laico, os jesuítas fizeram de conta que vinham como porta-vozes de Cristo. Fazemos de conta que temos governo central, fazemos de conta que temos Legislativo, Ministério Público e Judiciário.
Enfim, é longa, muita longa a relação do faz de conta. E haja máscara para tanto faz de conta.
(Filadelfo Borges de Lima. filadelfoborgesdeli[email protected])