Vivência e violência
Diário da Manhã
Publicado em 28 de fevereiro de 2018 às 23:15 | Atualizado há 7 anos
Quando nos deparamos com tantas atrocidades, corrupções, violências e tantas mazelas sociais, podemos sentir isso tudo de várias maneiras. Alguns tornam-se sensíveis, outros indiferentes, com o coração duro. Alguns ficam chocados, outros estão muito acostumados com tantos dissabores. Poucos se revoltam, bem menos tentam fazer a diferença. A grande maioria simplesmente esquece, como se fosse imerso numa passividade de um limbo, rumo à falta de memória. A vida simplesmente continua e o individualismo egoísta cuida de se preocupar com um mundo muito restrito e pessoal.
Jean-Paul Sartre, na obra O Ser e o Nada, disse que as ideias de atividade e passividade são inerentes ao mundo humano, pois ao mundo natural tudo segue alguns parâmetros normais e instintivos. “Sou passivo quando recebo uma modificação da qual não sou a origem – quer dizer, não sou o fundamento nem o criador. Assim, meu ser sustenta uma maneira de ser da qual não é a fonte. Só que, para sustentá-la, é necessário que eu exista, e, por isso, minha existência se situa sempre para além da passividade”.
É a maneira mais comum de conviver com tantas loucuras desse mundo perigoso. Um jeito largado de se proteger numa cômoda, vazia e inerte proteção específica e pessoal. Cada um por si! Trata-se de um projeto de existência individual e exclusiva… Por isso, é quase normal que uma pessoa se surpreenda diante de uma situação e não seja afetada por ela. O mundo pode achar normal, mas eu, sinceramente, não acho.
Não é normal viver em contrariedade com a ética, com um distanciamento de preocupações sociais. Não é normal se sentir um mero número, pois cada um deve fazer a sua parte, sem conflitos, sem competições, mas uma grande soma e trabalho árduo de doação pessoal. Certamente há várias ideias sobre o que ocorrerá depois da morte. Mas ninguém levará daqui seus valores monetários; a prata e o ouro pesam essa essência espiritual. Ninguém deveria ser assombrado em vida com tanta ânsia pelo acúmulo desses metais. Onde muitos disputam e roubam, a ferro e fogo, na compulsão pelo acúmulo.
A aceitação passiva chega a instar uma ilusória justificação pela violência. Muita gente se adapta ao fatídico desastroso, adquire uma normalidade que transforma cada um em estranho solitário. Onde se acostuma facilmente à mediocridade genuína. Eis o atraso, onde as mudanças acabam voltando no mesmo lugar. E o esquecimento é regado pelas novidades excessivas de informações e notícias para serem novamente esquecidas no ciclo vicioso do futuro do pretérito, do presente.
Se o sofrimento realmente for ativamente sustentado pelo espírito, então que nós possamos ser transformados espiritualmente numa posição mais ativa que irradie grande diferença. Ao invés de apontarmos os dedos para alvos alheios, que tal mudar nossa própria posição de conforto individual? Nosso exemplo é a melhor lição que podemos dar! Até a próxima página!
(Leonardo Teixeira, escritor – [email protected])