Zé Eliton é paz e amor. Caiado, ódio e ataques
Diário da Manhã
Publicado em 9 de agosto de 2018 às 22:44 | Atualizado há 7 anosEscolher um candidato a governador neste ano implicará também em definir se queremos que Goiás seja administrado pela temperança ou pela instabilidade emocional. Este é um assunto sério porque o exercício cotidiano do poder exige jogo de cintura e bom trato com uma infinidade de atores que fazem parte do processo democrático. Sejam eles desembargadores, entidades de defesa dos direitos das mulheres, um grupo de concursados que quer ser convocado, deputados, advogados dativos, fornecedores de insumos hospitalares ou de alimentos para a merenda escolar.
O que se projeta é uma eleição polarizada entre o senador Ronaldo Caiado (DEM) e o governador José Eliton (PSDB), homens de temperamento radicalmente opostos. O atual inquilino da Casa Verde é um homem de paz, índole republicana e dono de modos respeitosos. Em oito anos como vice-governador, ninguém o viu subiu o tom de voz para promover ataques verborrágicos contra adversários da base aliada, com o próprio senador Caiado ou outro político do MDB, como Daniel Vilela ou Iris Rezende. Se é verdade que conhecemos o homem quando a ele damos poder, o fato que é destes quatro meses como governador de fato, desde o afastamento de Marconi Perillo (PSDB), emergiu um homem com humildade inabalável, acostumado a sorrir e a ouvir.
O governador não tinha em mente uma estratégia de marketing político ou de publicidade quando definiu que o foco da sua gestão (desta e da próxima, se for eleito) e da sua campanha seria o cuidado com o ser humano. Ele pensa e trabalha assim de verdade. Não passa pela cabeça de Zé Eliton promover um governo obrista, que apele a edificações monumentais para seduzir o eleitor. O governador reitera que pretende dedicar todos os esforços e recursos do governo na qualidade dos serviços prestados ao cidadão. Daí surgiu a ideia de acabar com a fila por cirurgias, atendimentos e consultas na rede estadual de Saúde, com o programa Terceiro Turno; de criar os batalhões permanentes de policiamento nos terminais de ônibus e de custear o cursos de mestrado e doutorado para professores da rede estadual, de modo a qualificar a teia de ensino que forma os nossos alunos.
Eliton é um homem de posição assumidamente contrária ao afrouxamento de regras para porte de armas porque entende que o caminho é desarmar a população, e não municiá-la até os dentes para que a sociedade funcione sob regime da Lei de Talião. Temos um governador que em vez de se manifestar em favor das armas, mostrou habilidade para desarmar adversários. Sempre com argumentos sólidos, ainda que respeitosos, e sempre balizado pela razão.
Em outra ponta, temos um candidato a governador que descende de uma linhagem de homens poderosos que historiografia associa à truculência e ao uso da voz empostada – quando não da força física – para resolver divergências. Caiado traz um pouco da época em que embates políticos se resolviam não só com argumentos, mas com intimidação verbal. Aconteceu no Senado em outubro de 2015 um episódio que ilustra esta percepção. Caiado chamou para briga o então ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, num debate terminou com os dois chamando um ao outro de “safado”. Está nos jornais e no Youtube para quem quiser ver.
Caiado está em pré-campanha para governador há pelo menos 1 ano. Não há notícia de pelo menos um apontamento específico que tenha feito a respeito de defeitos ou falhas do governo. Seus ataques são genéricos. À plateia, o senador tenta passar a impressão de que tudo está errado e que Goiás afundou. Não é verdade. O eleitor sabe que os hospitais públicos são de qualidade. Sabe que o Estado é o primeiro no Ideb e o segundo no ranking de geração de empregos. Todo governo tem os seus problemas, mas o atual governo está longe de ser este mar de inoperância e incompetência que Caiado tenta pintar. Iris Rezende usou esta mesma estratégia em 2010 e 2014 e perdeu. Quem não se lembra dele dizer que os goianos estavam “morrendo à míngua?”.
O que move o senador é o ódio inconfesso pelo ex-governador Marconi Perillo (PSDB). A população sabe disso. E entregar o governo a políticos – ou a um grupo – que se movem por sentimentos tão negativos é temerário. Principalmente porque a raiva e a sede por vingança os faz relativizar o debate sobre assuntos que realmente importam, como o combate à criminalidade ou o controle das filas por cirurgias eletivas.
No decorrer da campanha, ficará claro para o eleitor a dimensão e a importância da encruzilhada histórica em que ele se encontra. Mais do que analisar propostas e projetos, cabe a cada um analisar o comportamento dos candidatos. Respeito ao próximo é a base da construção de um Estado forte. Sem este alicerce, o prédio corre o risco de ruir.
(Cleuber Carlos, escritor)