Política

Por que Iris será derrotado

Diário da Manhã

Publicado em 7 de outubro de 2016 às 02:19 | Atualizado há 4 meses

As primeiras declarações de Iris Rezende Machado, depois de anunciado o resultado do primeiro turno eleitoral, mostra-o soberbo como sempre. Ele morre teso, mas não perde a pose. Perguntado sobre procurar o apoio de Adriana Accorsi e do PT, respondeu que não vai “se apequenar” buscando reforço junto a uma força partidária com quem esteve aliado até dias atrás. Saiu-se com uma resposta que é um primor de vulgaridade: disse que vai buscar o apoio “do povo”. Pois é, o PT, se quiser, que se apresente a Iris de joelhos, suplicando-lhe a suprema bênção de, após lamber-lhes as solas dos sapatos, ser admitido no entourage do peemedebista.

Iris tem lá seus méritos. Não se pode negá-los. Mas tem suas falhas, suas fraquezas, seus momentos de privação de sentidos. Autossuficiência é uma fraqueza que lhe custou caro no passado. Vai custar, agora, sua eleição. Iris será derrotado por Vanderlan na eleição vindoura.

Os peemedebistas, cegos na sua proverbial empáfia, não percebem que o dado fundamental desta eleição é que Iris vem em trajetória de queda nas pesquisas, ao passo que Vanderlan mostra tendência de crescimento. A rejeição ao nome de Iris é fortíssima. Isso quer dizer que quem não vota nele – e este é um universo maior do que o dos que votam – certamente votarão em Vanderlan.

Num quadro assim, dispensar apoio, venha de onde vier, é burrice. É, todavia, difícil acreditar que Iris receberá o voto dos que sufragaram Adriana Accorsi. O eleitorado petista, conquanto reduzidíssimo em virtude do antipetismo epidêmico, não vai votar em Iris. Se votar é porque perdeu o brio.

Há mais de um ano venho analisando as relações de Iris com o PT. Cantei bola e caçapa ao anunciar, com meses de antecedência (como me ufano!), que Iris iria romper com Paulo Garcia. As causas do rompimento nada têm a ver com os episódios que levaram à deposição de Dilma Rousseff e com a petefobia que vem grassando em todo o País.

Certo, o doutor Paulo Garcia realizou um governo ruim, cheio de equívocos. O maior dos equívocos de Paulo foi querer ser agradável ao PMDB, foi mendigar afagos de Iris Rezende. Para ser o queridinho de Iris, o atual prefeito se alienou, fez um governo longe do jeito petista de governar. Paulo Garcia é filiado ao PT, mas nunca foi petista. Tudo bem, tem uma obra altamente louvável, que ele não vai concluir, que deixará para Vanderlan inaugurar: o VLT. Fora isso, fracasso total. Mas um guerreiro não deixa companheiro para trás, não abandona os seus na hora negra da desgraça. Os motivos de o PMDB romper com o PT goianiense foram pueris, levianos. Puro oportunismo eleitoreiro. O PMDB não é parceiro confiável e Iris não segura alça de caixão.

Ao perceber que o governo de Paulo Garcia perdia popularidade e enfrentava sérias dificuldades de ordem política, Iris ordenou aos aliados que desembarcassem do barco adernante. Por mais que petistas tentassem manter a aliança, Iris, via Agenor Mariano, seu garoto de recados, sabotava sistematicamente a união. Bem ao seu estilo, procedendo de má-fé, tripudiando sobre o ex-aliado, agora visto como adversário, ele rompeu uma aliança que, malgrado as deficiências, vinha se mostrando vitoriosa.

Não seria a primeira vez que Iris renegaria seus companheiros caídos em desgraça. Em 1990, um poderoso Iris Rezende Machado repudiaria, de público, o apoio do santillismo e mandava o PMDB de Anápolis às favas. A humilhação imposta a Henrique Santillo, um homem de bem, governador dos melhores que já houve, custou a Iris e ao seu PMDB a malquerença eterna do povo de Anápolis. O PMDB foi varrido do mapa eleitoral daquela cidade e nem mil anos serão bastante para reabilitar-se perante os anapolinos.

Marconi Perillo estava entre os que seguiram com Santillo para o deserto político, onde comeram o pão amargo da humilhação e sofreram as perseguições que são contingências da derrota. Em 1998, Marconi foi à forra. Aí foi Iris a também passar por humilhações e perseguições. Iris, porém, não tirou consequências úteis das derrotas.

Assim que teve início a campanha eleitoral, Iris recebeu de mão beijada a chave da Prefeitura de Goiânia. Ela veio embrulhada de uma declaração do governador Marconi Perillo favorável a Iris. Os dois candidatos do marconismo, Vecchi e Bittencourt, haviam fracassado clamorosamente, abandonando a disputa. Criaram uma situação altamente constrangedora para o governador.

Sem candidato, Marconi, num gesto de grandeza raro nos políticos goianos, em geral tacanhos, aventou a possibilidade de dar seu apoio a Iris Rezende. Chegou a tentar um encontro pessoal com Iris para trata do assunto. Seria uma reconciliação histórica. Até porque, no plano eleitoral, o grande adversário do marconismo, agora, é Ronaldo Caiado. Uma reunião das forças que combateram, em Goiás, a ditadura militar isolariam o caiadismo declinante. Uma composição do PSDB com o PMDB daria uma vitória fácil a Iris Rezende já no primeiro turno. Iris esnobou o oferecimento na presunção de que venceria fácil já na primeira etapa. Ele sempre se achou hours concours.

Marconi não teve alternativa senão dar seu apoio a Vanderlan Cardoso. O candidato do PSB, que já foi um forte opositor de Marconi, mas que nunca transformou desacordo político em desavença pessoal, recebeu de muito bom grado o oferecimento. De candidato que vinha na rabeira das pesquisas, foi subindo e levou a disputa para o segundo turno.

Iris foi buscar para vice o Major Araújo. Bom rapaz, oposicionista desnorteado, eleitoralmente fraco. Politicamente, nada acrescentou, a não ser agregar tempo de TV ao programa eleitoral da coligação, tempo este usado pelos marqueteiros para encher  linguiça.

O antimarconismo ressentido, vingativo e rancoroso estará fechando com Iris. Mas nem Valdir Soares nem Kajuru são potências partidárias. Não são lideranças. São celebridades que se beneficiam do voto antipolítico, comum em todas as eleições. Depois desaparecem sem deixar rastro. Aliás. Kajuru, o Cacareco da ocasião, já disse que não vai nem de Iris nem de Vanderlan. Seria incoerência dele pedir apoio a Iris, um político que ele atacou violentamente no passado, insultando-o muitas vezes. Sem contar que foi ele, Kajuru, quem trombeteou o caso Caixego sem jamais se preocupar se o que divulgava era verdade ou não.

Comenta-se nos meios peemedebistas que faltou dinheiro à campanha de Iris. Sem novidade. Não é a primeira vez que se ouve esse tipo de queixa. Iris é homem rico. Sovina, não gosta de enfiar a mão no próprio bolso para custear campanha. Prefere fazer campanha com dinheiro dos outros. E embolsar as sobras, coisa que não pode mais fazer porque foi proibida.

Esnobar o apoio de Marconi e fazer pouco caso do eleitorado petista não é coisa muito inteligente. Dizer que prefere “o apoio do povo” em vez de, humildemente, costurar alianças com os candidatos não classificados, é zombar da inteligência desse mesmo povo. Esta retórica retrógrada, sabendo a bolor; esse discurso niilista, reduzindo ao caos tudo que esteja sob domínio adversário; todos os velhos clichês, a velha e vazia fraseologia de palanque, tudo isso vai cansando a plateia. São atitudes assim que reforçam a rejeição a Iris.

Quanto a Vanderlan Cardoso, ao aceitar de bom grado o apoio de Marconi, cujo peso ficou demonstrado neste processo eleitoral, está fazendo a coisa certa. Ele não tem a experiência administrativa de Iris, nem a astúcia do velho peemedebista, mas tem suas virtudes. A prudência e o bom senso são algumas delas. Mas tem que parar com esta bobagem de ficar brigando com institutos de pesquisa. Pode até ter razão no que diz, mas brigar é improdutivo.

 

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