Home / Política

POLÍTICA

Cora Coralina protagoniza maior fake news publicada em Goiás

Pesquisadores de comunicação e direito atribuem a fake news em que a escritora goiana Cora Coralina critica os Caiados como a desinformação que mais circulou em Goiás em todos os tempos.
Diretora do Museu Casa de Cora Coralina, Marlene Veloso, afirmou em entrevista ao Diário da Manhã que existe má-fé no uso da frase atribuída à escritora. A publicação é completamente falsa, adianta.
Ela nega que exista qualquer fonte da frase que atribui à tradicional família esta forma de violência.
Para a diretora, a mensagem visa denegrir a imagem do governador de Goiás Ronaldo Caiado (DEM).
Responsável por manter o museu, Marlene diz que o ex-governador Leonino Caiado, durante a ditadura militar, concedeu pensão para a escritora em reverência ao trabalho de Cora.
De acordo com a mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Jackeline Gonçalves, o uso da fake está ligado à política, o que explica sua grande circulação.
“Foi criada para a campanha eleitoral de 2018. Fez parte de um discurso de que os Caiados eram violentos. Na campanha, tentou-se descontruir o candidato com o discurso de que era sozinho, sem grupo para governar, e o de que era truculento", explica.
Por sua vez, o uso deste discurso da violência dos caiados é também histórico: a partir de 1934, anos depois de assumir o poder, os correligionários de Pedro Ludovico passaram a reforçar na imprensa informações de que a família Caiado seria truculenta. No período chamado de coronelismo, todas as famílias pareavam forças – sejam Ludovicos, Bulhões, Caiados ou Jardins.
“Toda a imprensa da época esteve voltada para fortalecer esta imagem negativa contra os Caiados, já que a disputa pelo poder em Goiás tornou-se mais simbólica do que no passado. E quem estava no poder anteriormente era o grupo de Totó Caiado".
A produção da “fake de Cora" é atribuída aos dois principais grupos que se confrontaram em 2018 contra o candidato do DEM – MDB e PSDB. Apesar da suspeita, não ocorreu investigação policial a respeito na época. Existe mera suspeita, pois durante a disputa eram os dois grupos que degladiaram de forma mais acirrada com o adversário que liderou as pesquisas desde o início da disputa.

INVESTIGAÇÃO
O pedido de investigação deve partir da vítima, já que nestes casos a ação penal é incondicionada – exige pedido oficial do interessado.
O debate sobre fake news tem se ampliado com as novas investigações da Polícia Federal e requerimentos do Supremo Tribunal Federal (STF).
Goiás é considerado um dos principais produtores de fake news no país, inclusive com a destinação de recursos públicos para a confecção de blogs voltados para a prática.
A publicação de fake news é crime quando imputa a alguém um crime ou algo infamante. “No caso da fake de Cora a agressão é contra a família. Logo qualquer familiar pode processar quem compartilhar, já que é notório o fato da informação ser fake news", diz Jackeline Gonçalves, que publicou recentemente artigo científico com os novos projetos de lei sobre fake news. “Existem vários projetos em discussão para incriminar a produção e publicação. Mas uma fake news do bem, digamos, sem ofender a honra de ninguém, hoje não tem punições. O remédio para a fake news é ainda o capítulo dos Crimes contra a Honra, do Código Penal".

FAKE CORA
Conforme Marlene Veloso, as características “fakes" da publicação com nome de Cora chegam a ser absurdas devido a falta de correspondência com a verdade. “Soube da polêmica em torno da fake atribuída a poetisa Cora Coralina quando as pessoas começaram a me ligar, em 2018, a conversar, a perguntar que história era aquela, se eu tinha visto o post. Entrei no Facebook e vi em uma foto de Cora e uma frase atribuída a ela se referindo à família Caiado, dando a entender que se o senador Ronaldo Caiado ganhasse a chibata retornaria à vida política de Goiás. Desta forma, quando vi aquilo, fiquei pensando que se tratava de um absurdo, de uma inverdade. Para evitar que essa ação ganhasse grandes proporções, tomei a iniciativa de entrar em contato com os familiares da escrito¬ra e busquei os meios cabíveis para fazer com que casos como esse não se repitam mais”.
Em entrevista ao DM, ela explicou que tentaram atribuir veracidade ao fake news com a publicação de uma citação de livro: “O livro citado foi “Histórias da Casa da Ponte”. A temática gira em torno de assuntos que fazem parte da cidade, como a Casa Velha da Ponte, a promissão das almas, o caso da irmã que trabalhava no quintal e por meio das plantas conseguiu sustentar um filho que cursava Medicina no Rio de Janeiro. Em nenhum dos contos que compõem o livro há qualquer menção à frase usada pelo autor do post fake. A pessoa é tão leviana que teve o trabalho de citar algo que não aparece em nenhum dos textos. Me pergunto: como que a pessoa faz uma leviandade dessa? Aproveito também para ressaltar que Cora jamais falaria uma coisa nesse sentido. Inclusive, não viveu o momento em que Sem dúvida, porque quem escreveu isso é uma pessoa irresponsável. Passei esse problema para a família, pois ela tem sobrinhos e netos que são advogados”.
Conforme a pesquisadora, Cora foi embora da cidade de Goiás antes da Revolução de 1930, na queda política da família Caiado e ascensão da oligarquia de Pedro Ludovico Teixeira. “Cora saiu da cidade de Goiás em 1911 e retornou somente em 1945. Neste período, ela não teve qualquer relacionamento com Goiás e, por isso, o post vinculado nas redes sociais é inverídico”, disse

Leia também:

  

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias