Quando assumiu o governo de Goiás em 2019, Ronaldo Caiado não imaginava a quantidade de “obras paradas” que encontraria pelo Estado. Não bastasse a dívida bilionária com o Tesouro Nacional e fornecedores, um patrimônio público investido nestas obras se desintegrava e deprimia os moradores – testemunhas do descaso e desperdício do dinheiro público.
Estima-se que os goianos investiram R$ 9 bilhões nestas centenas de obras que foram corroídas pela ferrugem, erosões e o simples passar do tempo. Parte delas acumula lixo, cria dengue e gera revolta.
Por mais que conhecesse a realidade, o governador eleito enxergava apenas uma penumbra destas obras. Ela acobertava uma das ações mais nefastas da administração sequestrada pela política: começar obras para ganhar visibilidade, gerar manchetes e logo depois abandoná-las.
O governador Ronaldo Caiado convocou a Agência Goiana de Infraestrutura (Goinfra) e requereu informações sobre como agir para recuperá-las. Cobrou então a retomada daquelas que começariam a perder suas estruturas e que estavam prestes a desmoronar.
No total, 440 obras iniciadas nos últimos 20 anos apodreciam no Estado. A tática inaugurar-e-abandonar é apenas eleitoreira – muitas vezes sequer está envolvida em esquemas de corrupção, já que o Governo simplesmente abandona a obra quando o eleitor já depositou seu voto e resguardou sua atenção.
O governador retomou várias ao mesmo tempo, estabelecendo um cronograma para que pudesse inaugurá-las “sem fake news” e que fossem realmente funcionais.
O caso mais exemplar é o Hospital do Centro Norte (HCN), localizado em Uruaçu. Inaugurada outras três vezes no passado, a unidade não tinha atendido uma pessoa sequer. Dia 13 de março de 2021 marca uma guinada: hospital de grande porte, o HCN agora realmente está funcionando.

Começou no combate da covid-19, mas em 30 de novembro deste ano anunciou atendimento geral. Foi uma festa na comunidade, que estava cansada de ver a obra esquecida.
A prova de que o HCN estava inerte é a visitação de deputados estaduais, que ocorreu em 2019. O grupo confirmou que R$ 17 milhões em equipamentos estavam desligados, com softwares desatualizando e hardwares em processo de obsolescência, enquanto a estrutura se parecia mais com uma cidade fantasma.
Na época, denunciaram que o local inaugurado jamais atendeu qualquer cidadão. Está tudo registrado.
Hoje, a unidade tem capacidade instalada de 186 leitos, dos quais 68 leitos de Unidade Terapia Intensiva (UTI) e 118 de enfermaria.
“A era de obras paradas acabou”, diz Caiado, que começou em 2019 a campanha para que as atividades fossem reiniciadas, tendo em vista a economia de gastos e a eficiência.

Na época, o governador se encontrou em Goiânia com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), que divulgava o programa “Destrava”, para que ao menos na Justiça fossem liberadas as obras prioritárias – caso da construção de creches. Desde então Caiado foi uma das vozes no país contra as obras paradas.
Custo
Uma obra parada gasta cinco vezes mais do que a que termina no prazo. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) diz que estas estruturas geram prejuízo de R$ 115,1 bilhões à economia do País. Em Goiás, cada cidade tem seu cemitério de obras paradas e negligenciadas.
Em maio, o Governo de Goiás colocou fim a uma espera de 58 anos. Caiado inaugurou a ponte sobre o Córrego Cachoeirinha, em Caçu. “Muitos não sabem a importância humanitária que essa obra tem na qualidade de vida dos moradores da região do Sapé”.
Ponte era esperada há 20 anos
O Governo de Goiás retomou pelo menos 100 obras que estão paradas e geram prejuízos para a população. Outras prometidas também começaram a ser concluídas.
Conforme Ronaldo Caiado, não faltam exemplos de pontes planejadas, prometidas ou parcialmente executadas.
O caso da ponte sobre o Rio Paranã, na rodovia GO-484, em Formosa, no Entorno do Distrito Federal, serve para ilustrar também como tais interferências de resgate de promessas dos outros políticos são essenciais.
Com investimento de R$ 2,5 milhões, a nova estrutura tem 72 metros de extensão e 10 metros de largura. Substitui a anterior, que era de madeira.
“É uma ponte que esperavam há 20 anos”, diz Caiado. “Fizemos ela rapidamente, tudo em concreto. É uma estrutura com mão dupla, transita-se com toda segurança”, completou o governador.

Escolas
Inúmeros colégios estavam nesta mesma situação. É o caso de uma escola estadual de Barro Alto há sete anos inacabada.
Geralmente, a obra para por que faltam recursos. A história é sempre a mesma: a empresa que realiza a construção recebe comunicado de que o dinheiro vai faltar, demite funcionários e a obra fica congelada no tempo que o gestor quiser – não existe lei que obriga o governante a dar continuidade a uma obra. Vai muito da índole do político. Se existir rixa com o proponente da obra inacabada a tendência é que a estrutura vire pó.
No caso da unidade de Barro Alto, Caiado requereu o aporte de R$ 3 milhões para finalizar o Colégio Guaraciaba Augusta da Silva, que foi concluído em sete meses.
Outras unidades escolares em Rio Verde e Silvânia também foram resgatadas da ferrugem. O Colégio Estadual Professor José Pascoal da Silva teve sua construção iniciada em 2013. Falta de pagamentos à construtora geraram até memes entre os moradores de Silvânia, que riam de forma cética com a possibilidade da escola realmente existir.
Retomada em outubro de 2020, após renegociação da dívida, investiu-se R$ 1,5 milhão para terminar a obra em maio deste ano.
Aeródromo
O Governo de Goiás entregou no início deste ano o aeródromo de Santa Helena de Goiás. A parceria entre governo estadual e prefeitura do município possibilitou a retomada das obras do modal, que estavam paradas há 10 anos. Com a estrutura, novos investimentos chegarão com mais facilidade na região.
Outra obra esquecida que foi lembrada em 2021 é o trecho de 11 quilômetros da GO-174, entre Diorama e Montes Claros de Goiás.
“Se passaram 20 anos de outros governos, e o que faltou, na realidade, foi talvez mais interesse público. Recursos a gente arruma, de uma forma ou de outra. É questão de priorizar. É uma grande obra, muito importante para Goiás. O que faltou foi priorizar”, disse o prefeito de Montes Claros, Vilmar Maciel, ao criticar governantes do passado.