A educação em Goiás vive de tempos em tempos avanços e retrocessos. Não raro, ocorrem retrocessos ao custo do desenvolvimento do Estado – como quando as Organizações Sociais (OS’s) por pouco não conseguiram assumir o controle do ensino goiano. Na época, 2015, um movimento estudantil rompeu o controle e tomou conta das escolas estaduais. A proposta da ex-secretária Raquel Teixeira e da gestão do PSDB foi combatida nas ruas naqueles dias. A tentativa acabou frustrada, apesar da gestora ter sido pouco enfática na defesa daquela mudança.
Há mais de cem anos, educação é política de Estado e conquistou o interesse da população. Mas sempre sofre com desmontes, retrocessos e
ameaças de falta de investimentos. Poucos gestores optam em aumentar as somas orçamentárias para a área.
A partir da proclamação da República, em 1889, o arcabouço administrativo goiano recebeu as primeiras secretarias de educação – inicialmente como Secretaria de Instrucção, que não raro estava em conjunto com as pastas de infraestrutura. Nas décadas seguintes, a educação era acoplada a saúde e até “desporto”.
O tema da educação foi central para alguns governadores, caso de José Xavier de Almeida, formado em Direito no Largo do São Francisco, em São Paulo, que estava no cargo entre 1895-1896. Esta passagem pela pasta o fez investir mais na área na década seguinte, quando assumiu o governo. “Presidente” de Goiás dentre 1901 e 1909, Xavier aumentou impostos para investimentos inéditos em educação – tema até então direcionado apenas aos ricos que pagavam professores particulares para os filhos.
Outro secretário de educação “político” com formação educacional sólida foi Brasil Ramos Caiado, que deixava claro seu prazer em ser professor de ciências da natureza. Ele foi um dos principais professores e entusiastas da Faculdade de Pharmácia e Odontologia de Goiás, na década de 1920.
Cem anos depois, outro gestor entusiasta da educação, professor de medicina na juventude, tenta colocar a educação na frente dos orçamentos. Recentemente, o governador Ronaldo Caiado computou os investimentos em educação, que chegaram a quase R$ 3,3 bilhões. Segundo o governo, é a maior quantia investida na história. O que tem chamado atenção é a meta de Caiado tornar a educação pública tão ou mais competitiva do que a particular.
“Educação pública de Goiás será melhor do que a privada”, projeta o gestor, que acompanha o tema de perto, dando sugestões e realizando a leitura dos resultados obtidos pelos estudantes. Caiado quer gradualmente mais foco em matemática e português.
Para isso, o Governo de Goiás tem realizado investimentos e estudos sobre mudanças curriculares, além de criar uma linha de investimento em tecnologia, bem estar do estudante e valorização dos professores. Antes, o investimento recaía apenas na infraestrutura – e nem sempre de forma eficaz, a começar das escolas tradicionais de Goiânia que sofreram décadas sem investimentos nas décadas de 90, 2000 e 2010.
Retorno das aulas com missão
Na última semana, os estudantes do estado retornaram com uma missão: começaram uma jornada para serem tão bons quanto os fortes concorrentes da iniciativa privada. Não existe uma pressão para resultados imediatos, ainda mais com as conseqüências graves da pandemia, mas a secretária Fátima Gavioli busca garantir os investimentos previstos para que ocorra o aperfeiçoamento da rede. Ela tem dito que terá vários desafios pela frente, como instituir o “novo ensino médio”.
Por sua vez, Ronaldo Caiado tem observado a educação como política social – o que, de fato, é na Constituição Federal, no rol dos direitos sociais. Ele desenvolve duas teorias em conjunto para a área da educação. A primeira é de que o avanço na escola está relacionado a um menor índice de pobreza e vulnerabilidade social. E outro é que a escola estadual pode voltar a ter o êxito do passado, desde que exista mais investimento e maior acompanhamento do desempenho dos estudantes.

O êxito a que se refere Caiado é a educação de excelência que se aprimorou a partir das ações daqueles pioneiros do começo do século e se consolidaram nos anos 50 e 60, com escolas públicas como Lyceu de Goiânia e Colégio Pedro Gomes – o maior colégio público do Brasil, na época, com quatro mil alunos.
“Deu certo”
“A única maneira de interromper o ciclo da pobreza é proporcionar ensino de qualidade às crianças”, diz o governador, que já se expressou sobre o que viu lá fora. “O modelo que deu certo em todo o mundo é investir em educação”.
Para criar esta meta da “melhor educação”, ocorreram mudanças. A primeira foi acabar com as situações que mais envergonhavam Goiás, como a existência de um quarto turno no Estado. A região do Entorno do Distrito Federal vivia uma realidade paralela.
Sem vagas nos turnos normais, até 2018, o Governo de Goiás enfiava alunos nos intervalos do turno matutino e vespertino sem se preocupar com o fato de criar horários absolutamente ineficazes para aprendizado.
Vitória no Ideb reconhecida com bolsa
Outra medida administrativa de Goiás foi reconhecer o feito dos estudantes goianos, que venceram o último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), em 2020. Segundo o último levantamento, Goiás foi o único estado a conseguir cumprir a meta estabelecida pelo Ministério da Educação. Como recompensa, o governo fez algo inédito: criou políticas públicas para os próprios estudantes. Um dos exemplos é a bolsa de R$ 100 que cada aluno tem direito, cuja justificativa é atrair o estudante para que ele não engrosse a evasão escolar.
Aos estudantes terceiranistas, o Estado iniciou a distribuição de Chromebooks, computadores portáteis que podem ser usados como ferramentas educacionais para os preparativos do Enem.

Projetos como o Bolsa Estudo – que atende 218 mil jovens matriculados nas três séries do Ensino Médio – já tem impacto na auto-estima das crianças e adolescentes, que usam o valor para comprar material escolar, alimentação ou socorrer a família nas urgências.
O dinheiro realmente ajuda o estudante a permanecer em sala e a repensar qualquer tentativa de abandono. O governo também investe R$ 139,5 milhões em pagamento de bônus por resultados, atendendo aos professores, e não descarta novas ações que tornem a educação pública mais substancial.
Na internet os alunos têm mostrado orgulho em fazer parte da rede de ensino, ora através de publicações e danças divertidas no Tik Tok ora por meio de fotos em que mostram tênis, mochilas e material escolar que recebem em sala.
Alguns números do que Goiás tem investido
- R$ 56 milhões para quadras esportivas de 210 unidades educacionais da rede estadual
- R$ 152 milhões para a reforma de todos os Centros de Ensino em Período Integral (Cepis)
- R$ 139,5 milhões em pagamento de bônus por resultados dos professores
- R$ 100 por mês letivo repassados a 218 mil jovens
- R$ 145 milhões para a aquisição de 60 mil unidades de notebooks
- R$ 150 mil para municípios equiparem sua educação
- R$ 21,4 milhões para a fabricação de 550 mil mochilas