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Inconsistências desidratam candidatura de Mendanha

O último fim de semana jogou um balde de água fria na pré-candidatura do prefeito Gustavo Mendanha (sem partido). Uma comédia de erros [cuja autoria se deve mais aos seus mentores] causou estranhamento e torpor em quem acompanha os bastidores da política goiana. Ato 1: pela manhã, no sábado, 19, uma publicação do pré-candidato indicava subliminarmente apoio do presidente Jair Bolsonaro. Ato 2: no final da manhã circulam nas redes uma imagem de Mendanha com o presidente, em Brasília, indicando a antecipação de lançamento da candidatura, com apoio de Bolsonaro. Ato 3: com força total, minutos depois, circula um vídeo, gravado de lado, em que o presidente diz ter compromisso claro de apoiar Major Vitor Hugo para a disputa e não se esquecer de Ronaldo Caiado, que sempre o tratou com respeito e o apoiou em 2018.


A sequência comunica uma pré-candidatura desorientada. O fato gerou críticas e ironias nas redes. Nos bastidores de Aparecida, a sensação é de que Mendanha foi ingênuo em escutar o grupo político que o circunda, que teria garantido um "abafa" com todos defensores: “Vai lá. O presidente vai garantir a candidatura”. A situação à deriva comunica desorganização e inconsistência política, dizem analistas consultados pela reportagem. Há três meses, Mendanha flertou com Elias Vaz (PSB), deputado federal que realiza profundas críticas ao presidente; depois sinalizou para o PT e PC do B, legendas, inclusive, com cargos na Prefeitura de Aparecida. Por fim, estava próximo de Marconi Perillo (PSDB). Em um giro de 360°, voltou a Bolsonaro - ao menos no discurso das redes.
Após a sequência de desencontros, até mesmo aliados passaram a desacreditar na viabilidade de uma candidatura: Mendanha prova agora do próprio remédio amargo servido em Aparecida, quando ele juntou todos partidos em seu palanque, deixando exclusivamente ao Avante e Psol a obrigação de realizar oposição. Agora, Mendanha nâo tem partidos, mas exatamente por eles estarem desimpedidos e livres. O PT quis Mendanha até o momento que percebeu a inclinação dele para a extrema direita. E os bolsonaristas convictos viram nele inicialmente uma referência, mas, depois, “um fraco, que não realiza defesa eficaz do presidente”, diz um articulador do presidente em Goiás que defende Major Vitor Hugo.
As legendas maiores se afastaram pelo conjunto de incoerências. Um presidente de partido listou os problemas encontrados: candidatura sem personalidade (identidade ideológica confusa), sem partido, sem projetos claros de oposição (o que e como fazer diferente). “Essa dele declarar amor ao Bolsonaro agora é o fim. Nossa legenda será oposição a tudo isso”, diz.

A foto do encontro com presidente Jair Bolsonaro

Dubiedade ideológica prejudica consolidação de candidatura

O problema maior da candidatura de Gustavo Mendanha é a ausência de mensagem clara. A poucos dias das janelas partidárias se fecharem, o político não revelou qual seu inventário filosófico – o que políticos e grupos polarizados prezam.
Enquanto o governador Ronaldo Caiado manteve sua posição de político de centro-direita, com perfil moderado e liberal, Mendanha não apresentou claramente qual sua linhagem ideológica. Especialistas em pesquisas suspeitam que o político, terceiro colocado nas sondagens, teve “voto" de bolsonaristas e lulistas para se segurar em terceiro, e que a tendência agora é a redução, já que Mendanha se declarou “bolsonarista". De fato, na primeira sondagem da Serpes chamou atenção a pouca relevância do PT, com traço. O cientista político Lenhinger Mota diz que o maior problema da candidatura é justamente a fraqueza dos partidos desideologizados e a falta de clareza das propostas e críticas factíveis ao atual governo.
"A indecisão do prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, em escolher por qual partido será candidato, é emblemática para evidenciar o quanto nossos partidos políticos não servem de atalho informacional. Mendanha já flertou com partidos de todos os segmentos ideológicos, inclusive não tem oposição em Aparecida".
Para o pesquisador, uma candidatura precisa ser clara: "Quando se trata de governar um Estado, ter uma plataforma de projetos e propostas claras é fundamental, até mesmo para apontar onde o atual governo errou. E isso Gustavo parece não ter muito claro na sua propositura de campanha".

O pré-candidato com ex-colaborador de esquerda

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