Integrantes da sociedade civil e setores empresariais ligados à articulação do movimento em defesa da democracia e do sistema eleitoral no último 11 de agosto esperam que a iniciativa do mês passado contenha arroubos autoritários neste 7 de Setembro. A preparação para a data é acompanhada nos bastidores, em interlocução com representantes dos militares, polícias e diplomatas.
“Estamos em vigília. Mas não se trata de uma vigília passiva. Neste momento, temos mantido diálogo com os diversos setores do Estado brasileiro, inclusive segurança e Forças Armadas”, afirma o professor de Direito da Fundação Getulio Vargas Oscar Vilhena. Ele foi um dos articuladores do manifesto que reuniu entidades empresariais, como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), e outros movimentos em torno da defesa do processo eleitoral.
Não há, no entanto, um plano de reação previamente traçado para caso o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, ou integrantes do Estado, como policiais ou militares, ultrapassem linhas democráticas no feriado desta semana. “Acredito que neste ano vamos ter um movimento de rua muito estridente, mas não acredito em risco de uma ação desestabilizadora por parte das Forças Armadas. Sob esse ponto de vista, estou mais otimista agora do que estava no 7 de Setembro do ano passado”, afirma Vilhena.
A avaliação do professor, compartilhada por outros articuladores dos atos de 11 de agosto, é que três movimentos, em sequência, fizeram a tensão arrefecer. São eles: a nota por meio da qual o governo dos Estados Unidos defendeu o modelo de eleições no Brasil; a dimensão do evento na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), que teve apoio de empresários, juristas e intelectuais; e a posse de Alexandre de Moraes como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com uma demonstração ampla de respaldo da classe jurídica e política ao ministro.
”As condições não estão presentes, não há espaço para qualquer aventura golpista. A repercussão que temos tido é que grupos radicalizados — em polícias, entre os CACs (caçadores, atiradores e colecionadores) e nas Forças Armadas —, estão mapeados e que não encontram lugar junto aos quadros superiores”, afirma Vilhena.
Celso Campilongo, diretor da Faculdade de Direito da USP, diz que estará atento às manifestações do dia 7 de Setembro e, se houver excessos, é possível que se manifeste de alguma maneira. O mesmo é avaliado entre o grupo que escreveu a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros deste ano, composto por juristas, embora não haja nada programado.
Atos de rua
Movimentos anti-Bolsonaro não sairão às ruas no dia 7 de Setembro. Uma mobilização em resposta a atos de espírito golpista está sendo agendada para o dia 10 deste mês, para não haver confronto de grupos na rua. “A manifestação do 7 de Setembro do ano passado foi construída de forma muito violenta pelo bolsonarismo. De fato, neste ano, nosso objetivo não é estimular a violência política no País. Sabemos que eles vêm com discurso golpista e também postura muito violenta e nossa ideia não é essa”, afirma Josué Rocha, da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
Os atos de rua do próximo dia 10 não contam com nenhum envolvimento dos organizadores do movimento pela democracia do mês passado. A mobilização em diferentes cidades do País é feita por movimentos sociais. “Queremos fazer no dia 10 uma grande manifestação em defesa da democracia, com a demonstração de que o Brasil é maior do que o bolsonarismo”, diz Rocha.
Bolsonaro vai gastar mais do que o triplo com desfile em Brasília
O governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) vai gastar R$ 3,38 milhões com o desfile militar de 7 de Setembro em Brasília neste ano. A previsão do custo foi publicada no Diário Oficial da União e o serviço será prestado pela WFC-Goiás Serviços e Prestações. Além da tradicional parada militar na Esplanada dos Ministérios, também estão previstos fogos de artifício na Torre de TV da capital federal. No desfile de 2019, o mais recente, o valor da realização do evento foi de R$ 971 mil.
O desfile militar ocorre tradicionalmente todos os anos, mas foi interrompido em 2020 e 2021 por causa da pandemia do coronavírus. Neste ano, o dia vai marcar o Bicentenário da Independência do Brasil. A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal espera um público recorde para 2022 e montou um esquema de segurança de proporções inéditas para evitar conflitos.
No mesmo dia do desfile na capital federal, são esperadas manifestações de apoiadores de Bolsonaro. Os grupos têm adotado discursos de ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e lançado dúvidas, sem provas, sobre a confiabilidade das urnas e do atual sistema eleitoral. Parte dos apoiadores do presidente, por exemplo, prega até um golpe caso o presidente perca a eleição para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A vitória do petista é o cenário mais provável de acordo com as pesquisas de intenção de voto.
PT escala Janja para “rivalizar” com Michele Bolsonaro na TV
Para frear a ofensiva sobre o eleitorado feminino da primeira-dama Michelle Bolsonaro, do outro lado da polarização a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à Presidência da República pelo PT, escalou a esposa do petista, a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, para gravar inserções para o horário eleitoral gratuito e discursar nos comícios.
A estreia de Janja na nova empreitada foi no final de semana. A socióloga apareceu pela primeira vez em rede nacional de rádio e televisão no último sábado em discurso diretamente voltado ao eleitorado feminino. “Sabemos das dificuldades que nós mulheres enfrentamos atualmente. São milhões de mulheres endividadas para poder levar alimentos para suas famílias”, afirmou.
No comício em São Luís, capital do Maranhão, Janja fez o primeiro discurso em ato público. “Faltam 30 dias para a gente voltar a ser feliz. Trinta dias. A gente tem uma missão grande dia 2 de outubro: eleger Lula no primeiro turno. E para isso, a gente precisa contar com cada um de vocês”, declarou a socióloga.
Nos bastidores do PT, as aparições de Janja foram avaliadas como positivas e, por isso, devem ser intensificadas como resposta à entrada de cabeça de Michelle na campanha do marido, o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL). No horário nobre, a primeira-dama conversou com a “mulher sertaneja” ao destacar o avanço na obra da transposição do Rio São Francisco.
O novo papel oferecido a Janja pelo PT acontece no momento em que o partido busca formas de evitar o crescimento de Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto. Há alguma preocupação em manter a larga vantagem de Lula entre as mulheres.