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POLÍTICA

Daniel e Caiado sinalizam aproximação com Mendanha

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A política de Goiás é um baú de ressentimentos que tem a traição como matriz da maioria dos conflitos. Basta observar cada período. Na década de 1940, a UDN se digladiava internamente para sair unida nas disputas eleitorais. Mas não saía. Ao contrário, ocorria um rosário de traições. Por isso quase sempre perdia.

Dentre os ludovicos, na década de 1950, ocorreu afastamento entre os ex-governadores Pedro e Juca Ludovico - a ponto de Mauro, filho de Pedro, enfrentar Juca nas urnas, em 1961. Na abertura democrática, ocorreu separação entre Iris Rezende e Mauro Borges, em 1983. E logo em seguida, entre os emedebistas Henrique Santillo e Iris, em 1987.

E daí por diante, muitas separações, cujo final infeliz foi levado para o túmulo de um ou de outro cacique político. Na maioria das vezes, o político com o poder usa todos recursos para anular o oponente.

A semana começa com uma história contrária a tudo que se tem acumulado em Goiás. No sábado, Daniel Vilela (MDB) disse para a imprensa que não vê objeção do retorno de Gustavo Mendanha (Patriota) ao seu partido. Ou seja [caso queira Mendanha] é possível o diálogo.

Conforme Vilela, ao “O Popular”, ele tentará convencer a Executiva do partido quanto ao seu retorno, se o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia realmente mostrar interesse. Antes tarde do que nunca: segundo Vilela, Mendanha tem dado sinais que entende agora os motivos que levaram o MDB a apoiar Ronaldo Caiado para um segundo mandato. “Nossa aliança com o governador Caiado se deu com o objetivo de fortalecer e fazer avançar um projeto político e administrativo que está dando certo para Goiás”.

Daniel diz que, se “porventura”, Mendanha apresentar interesse de caminhar junto e entender o que de fato ocorreu no processo eleitoral de 2022, não existiria problema na reaproximação.

O líder do MDB também indica que não existe qualquer objeção de Ronaldo Caiado. “O governador Caiado está de alma leve, desarmado, focado unicamente em fazer um governo ainda melhor que o primeiro”, disse Daniel.

Em bom português, está dada a chance ao encontro de Mendanha e Daniel, caso haja interesse na reconciliação. Por trás é que surge a novidade: ao contrário de todos pleitos eleitorais até aqui, um grupo político, com poder e prestígio junto à opinião pública, estende a mão logo em seguida.

Maturidade

O grupo vitorioso fala em baixar as armas ao “adversário” derrotado. E sem trocas. É cavalheirismo.

Pela primeira vez também adversário não é considerado inimigo. Se os sinais de desprendimento e maturidade se confirmarem, definitivamente será necessário reconstruir as teses da história política recente, que até aqui revelou um passado pouco civilizado. Primeiro, Caiado seria definitivamente apaziguador - e não o “inimigo” que a oposição sempre pinta.

Ao contrário de toda propaganda, o governador conseguiu em poucos anos ‘civilizar’ o ambiente político. Fez com os outros o que não foi feito com ele, uma vez que é notória a perseguição enfrentada por Caiado nas décadas anteriores - perdeu prefeitos e aliados. Ficou praticamente só.

O momento de trégua indica que as miudezas estão fora das discussões e que definitivamente começou o século 21 na política do Estado. E, segundo, confirma-se a bonomia estampada em Daniel. A aparência é real: político de uma época líquida, em que vale o desrespeito aos compromissos, Daniel é, como o pai e o próprio Iris, homem de outro tempo e de partido. O que se vê até agora é lealdade.

Encontro entre ex-prefeito e emedebistas pode estar perto

Gustavo Mendanha foi derrotado em uma campanha eleitoral sem grandes sobressaltos. Tentou emular o discurso de jovem e de tempo novo, ora se aliando ao ex-governador Marconi Perillo (PSDB) ora o rejeitando, bem como se colocando como principal adversário de Ronaldo e Daniel. Se apresentou como o candidato do bolsonarismo, disputando votos com o nome oficial do ex-presidente - deputado federal Vitor Hugo. Seu maior erro foi se aliar aos políticos mais retrógrados e à velhacaria de Goiás, que acumulam rejeição e processos.

Por sua vez, na campanha, manteve o encanto e a mansuetude que o caracterizou no comando de Aparecida. Até quando Daniel respondia seus ataques e críticas ao grupo de Ronaldo, percebia-se a angústia dos dois lados.

Com menor experiência política e uma visão provinciana, Mendanha ignorou resultados de pesquisas e acabou fora do MDB. E finalizou sua aventura sem êxito.

Em fevereiro indicou que deseja contribuir com o governo, caso seja acionado. “Terei o maior prazer”, disse em um podcast. Todavia, o político tem dito reservadamente que no momento não procura emprego no governo ou em qualquer outra instituição. E que sua postura, apesar de baixar armas, é de opositor propositivo.

Todavia, o desprendimento aparece como virtude em uma era de ressentidos e políticos dissimulados - que não ‘erram’ ou que estão acima da imagem que acreditam ter. Por isso Mendanha pode estar aprendendo mais com o erro do que com os acertos que teve até aqui. A próxima notícia - não duvidem - pode ser um café com Daniel.

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