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POLÍTICA

Edward coloca nome à disposição do PT

O professor Edward Madureira é uma grata revelação na vida pública. Como reitor da Universidade Federal de Goiás, dobrou-a de tamanho, abrindo campus novos em Aparecida de Goiânia, Jataí e ampliando a unidade em Catalão. Na política, como candidato a deputado federal, teve 58.865 votos pelo PT, sendo 32 mil deles em Goiânia.

Detalhe: com uma campanha corpo a corpo, sem o patrocínio de grandes doações empresariais, como ocorre com a maioria das candidaturas. Por sua competência, e também pela humildade, Edward Madureira é sempre lembrado como nome do PT para a Prefeitura de Goiânia. Sincero, como cabe a todo bom professor, diz que não dá para tratar a Educação com porrada e tropa de choque, como querem alguns governadores. Alerta que o momento é ímpar para investimentos no ensino.

Pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que um cenário em que todos os adolescentes de 15 anos estejam estudando e alcançando um nível básico de educação pode ajudar o PIB do Brasil a crescer mais de sete vezes nas próximas décadas. Edward revela que o País tem hoje cerca de 80 milhões de brasileiros em idade educacional, o que torna imprescindível investir na sua formação. Ele ressalta que a presidente Dilma Rousseff determinou que os recursos do petróleo extraído do pré-sal tem destinados para a Educação, e, portanto, os governos estaduais e municipais devem fazer jus a estes recursos investindo numa melhor remuneração aos professores, criando condições para que sejam superados os gargalos do ensino básico, e principalmente do ensino médio. Ao invés de bombas de gás, recomenda melhores salários aos professores.

Edward Madureira entende que grande parte dos ataques ao PT se deve às opções que os governos dos presidentes Lula e Dilma fizeram em favor dos mais pobres, e também por serem responsáveis pela mudança do eixo de desenvolvimento nacional do Sul-Sudeste para o Norte-Nordeste-Centro-Oeste. Goiânia tem tradição em eleger professores para governar a capital. Edward pode ser o próximo? Confira a entrevista exclusiva ao DM.

ENTREVISTA

DM - A presidente Dilma Rousseff (PT) lançou como mote do segundo mandato o lema "Brasil pátria educadora". Você como professor acredita que o governo federal vai cumprir este desafio?

Edward Madureira - Tive o privilégio de estar no Palácio do Planalto quando foi lançado o tema "Brasil pátria educadora". Este é um lema que nos enche a nós educadores de esperança. Sabemos que o Brasil tem uma dívida enorme na educação, apesar  de todos os avanços que foram feitos, como na época em que se universalizou a educação básica -, e os mais recentes investimentos nas universidades públicas. Mas, ainda assim, temos um oceano para navegar. Este momento atual é de uma transição muito forte no País, que se torna mais importante ainda pela faixa etária da nossa população. Investir em Educação agora talvez seja a nossa última oportunidade de realmente promover as transformações de fundo que a população almeja.

DM - Qual é a urgência?

Edward Madureira - Nós temos hoje no País cerca de 80 milhões de brasileiros em idade educacional. Daqui a 30 anos, teremos menos de 50 milhões. Então a urgência é para ontem. Precisamos de mais gente na educação básica, de mais gente concluindo o ensino médio. Talvez o maior gargalo que tenhamos na educação hoje seja o ensino médio, onde pouco mais de 50% que ingressam terminam o ensino médio. E nós temos também um gargalo na Educação Superior, com apenas 15% dos jovens de 18 a 24 anos na universidade. A título de comparação, nos países desenvolvidos (Europa, EUA), 60% dos jovens deixa faixa etária estão na faculdade. Temos um plano de educação que prevê que em 10 anos 33% dos jovens estejam na universidade, portanto, metade do que se tem nos países mais desenvolvidos, mas o dobro do que temos hoje. E não se faz um país justo, equilibrado, com produção de conhecimento, com o nível de escolaridade que a gente tem. Para se ter uma ideia, o brasileiro hoje estuda pouco mais de 8 anos em média. Nós precisaríamos que tivéssemos hoje no Brasil o dobro disto.

DM - E como o senhor vê a atitude de governadores do PSDB, como Beto Richa, do Paraná, que manda jogar gás lacrimogênio, soltar cachorros e dar porrada em professores?

Edward Madureira - Deus me livre. Lamentável. É claro que não pode ser assim. Se a gente examinar em profundidade, a questão do reconhecimento do professor está no bojo de tudo o que eu falei, pois não adianta ampliar vagas nas universidades indefinidamente, sendo que as pessoas não querem fazer cursos de licenciatura porque as pessoas são mal remuneradas, não têm segurança nas escolas. Quando falamos em Educação não falamos apenas num pedaço, falamos na Educação que começa na creche, na educação infantil e que vai até o pós-doutorado, com aquele indivíduo que vai produzir conhecimento na fronteira da ciência, e que será usado como tecnologia. Este processo só vai dar certo se houver a valorização dos trabalhadores da educação, tanto professores quanto servidores da educação que precisam ser reconhecidos. Não dá para fazer educação de qualidade com professor da educação básica no Brasil tendo que atuar em duas ou três escolas para poder sustentar seus filhos. Nós precisamos que este professor seja de dedicação exclusiva e que esta escola seja de tempo integral, para que dali a pessoa saia preparada para os desafios da contemporaneidade.

DM - Há uma campanha de setores da mídia, em especial da Rede Globo, contra a Petrobras. Em 2014, o governo da presidente Dilma Rousseff sancionou lei destinando recursos do pré-sal para a Educação. De que maneira estes recursos podem ajudar a cumprir este objetivo de resgate do ensino?

Edward Madureira - À medida em que estes recursos do pré-sal se vincularem de maneira concreta ao orçamento, eles irão compor esta determinação de destinar 10% do PIB (Produto Interno Bruto) para a Educação. Acho que devemos criar instrumentos para que o governo federal possa efetivamente investir 10% do PIB no ensino. O pré-sal é uma fonte de recursos, os royaltes do petróleo, outro. Não dá para se pensar nem um segundo, de num momento de ajuste, falar em contigenciamento de recursos para Educação.

DM - O senhor disputou as últimas eleições como candidato a deputado federal pelo PT. Hoje o partido vive uma crise. Como avalia este momento?

Edward Madureira - Acho que parte disto é fruto do desgaste de quem está no poder há 12 anos e, por outro lado, é também o preço de quem se propôs a mudar a realidade do povo brasileiro. Não se inclui, não se tira 40 milhões de pessoas da pobreza impunemente, sem mexer com os grandes interesses, e principalmente, sem mudar a cara e a perspectiva das pessoas. Quem foi incluído tem outra perspectiva de vida. Críticas fazem parte da democracia, o que não podemos admitir é que se queira questionar a legitimidade de um governo eleito nas urnas, que fez esta transformação. Tenho certeza que o Partido dos Trabalhadores vai superar este momento, que a presidente Dilma vai vencer estes obstáculos e que teremos um segundo mandato cheio de êxitos daqui para frente.

DM - A militância, no encontro preparatório para o V Congresso do PT, questionou setores conservadores da mídia que têm feito ataque intermitente contra o PT. O partido perdeu a guerra da comunicação?

Edward Madureira - A guerra da comunicação está colocada. A tentativa de desqualificar é feita a todo momento. Tentam desqualificar programas bem-sucedidos na área social, como o Bolsa Família, o Ciências sem Fronteiras, na área da Educação e até as mudanças em curso na infraestrutura do País. Fazem um jogo para desconhecer que boa parte das nossas artérias para o escoamento da nossa produção, que estão sendo duplicadas neste momento. Escondem que há um investimento significativo em portos, em ferrovias. Tentam desqualificar porque o Brasil está mudando, e, principalmente, mudando em coisas muito importantes: em primeiro lugar, reconhecer que as pessoas menos favorecidas estão tendo acesso aos bens públicos e oportunidades cada vez melhores; e, fundamentalmente, está havendo uma mudança nos eixos de desenvolvimento no Brasil. O progresso que se concentrava no eixo Sul-Sudeste, hoje saiu destas regiões e chega ao Centro-Oeste e ao Norte-Nordeste. Acho que este é o grande legado do PT: a mudança desta centralidade do País, onde cada vez mais as competências regionais vão se estabelecendo. Isto se dá  pelos incentivos à produção, pelo avanço das universidades e dos institutos federais, e de muitas políticas que desconcentraram do eixo Sul-Sudeste, mais especificamente do eixo Rio-SP, os grandes investimentos do País. Temos uma mudança em curso: mais pessoas foram incluídas, e uma mudança no desenvolvimento regional muito pronunciada. E isto, é claro, incomoda elites que estão comandando este País há muito tempo.

DM - O nome do senhor é sempre lembrado para as eleições em Goiânia, dado à expressiva votação que teve para deputado federal. Esta possibilidade de candidatura a prefeito faz parte do seu projeto para 2016?

Edward Madureira - Tenho acompanhado este debate e as especulações com o meu nome pela imprensa. Tenho repetido que ninguém pode ser candidato de si mesmo. Acho que este processo é uma construção. É preciso perceber o cenário e a motivação no partido e por parte da população e fazer uma avaliação. Não descarto a possibilidade de participar das eleições em 2016, mas não tenho isto como um projeto pessoal. Estamos abertos a discutir e pensar um projeto. Goiânia precisa de um projeto para que possa inclusive aproveitar todas estas possibilidades que vêm do governo federal, inclusve esta mudança de eixo de desenvolvimento. Goiânia é um polo importantíssimo. Discutir Goiânia é algo que entusiasma e motiva, mas acho que há muitas etapas pela frente, com muitas discussões nestes oito a dez meses para chegar a um nome. Espero que o PT esteja presente no processo, com um candidato competitivo e com chances de se manter na prefeitura e fazer um bom trabalho. O nome não é o mais importante agora, importante é construir o projeto.

“Tive o privilégio de estar no Palácio do Planalto quando foi lançado o tema "Brasil pátria educadora". Este é um lema que nos enche a nós educadores de esperança. Mas, ainda assim, temos um oceano para navegar”

“Não se faz um país justo, equilibrado, com produção de conhecimento, com o nível de escolaridade que a gente tem. Para se ter uma ideia, o brasileiro estuda hoje pouco mais de 8 anos em média”

“Ninguem pode ser candidato de sí mesmo. Acho que este processo é uma construção. É preciso perceber o cenário e a motivação no partido e por parte da população e fazer uma avaliação.”

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