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POLÍTICA

Viração reúne ex-camaradas

  • PT denunciava colaboração com a burguesia nacional
  • Comunistas controlavam a UNE e DCEs da UFG e UCG

Eles queriam derrubar a ditadura civil e militar instalada no Brasil dia 31 de março de 1964, sonhavam com a revolução ao modo albanês, reconstruíram a UNE e a Ubes e contribuíram para mudar comportamentos e hábitos culturais, sexuais e políticos. Estudantes, eles fundaram, em 1980, a Viração, principal corrente nas universidades públicas e privadas de 1980 a 1989, quando virou União da Juventude e Socialista [UJS], braço político do PCdoB, legenda que deflagrou de 1972 a 1975 a guerrilha do Araguaia e sofreu a Queda da Lapa [SP], em dezembro de 1976 e acabou legalizado, em 1985, sob a Nova República. Os então camaradas, hoje mais velhos, se reunirão, neste sábado, 20h, na sede da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Goiás [Adufg], para um papo regado a música, bebidas alcoólicas, conversa inteligente em uma onda retrô, informa a eterna musa dos vermelhos do Cerrado Denise Carvalho.

A Viração, que controlava a UNE, defendia uma universidade pública e gratuita para todos, exorcizava os elevados aumentos das mensalidades nas instituições de ensino particulares. Mais: adotava a agenda feminista e incluía o combate ao racismo na narrativa discursiva do movimento social. Contracultural, eram anos libertários, de explosões de liberdade, explica a ex-presidente do Diretório Central dos  Estudantes da UFG [DCE] e da União Estadual dos Estudantes. Naqueles tempos, temperávamos o forró e a MPB [Música Popular Brasileira] com a gênese do rock nacional, como Legião Urbana, Plebe Rude, Paralamas do Sucesso, Ira, relata a bela que era uma fera em defesa dos estudantes. Saíamos às ruas contra fardados e civis do regime e em defesa de eleições diretas para presidente da República, informa ao Diário da Manhã. Assim como desfraldávamos a bandeira por uma Assembleia Nacional Constituinte, diz em tom de nostalgia.

– O encontro deste sábado, além do afeto que nos une, 35 anos depois, é suprapartidário, mas irá condenar a vaga conservadora e a radicalização que polariza, hoje, o Brasil.

O doutor em Geografia da UFG, historiador Romualdo Pessoa Campos Filho, registra que ocorrerão exposições de Bordana, de fotografias que recuperam a memória da viração em Goiás e no Brasil, além de imagens de Rosa Nunes. Um vídeo com a história das lutas estudantis dirigidas pela Viração será exibido. Os organizadores contam ainda com shows de Du Oliveira e Heróis do  Botequim. O cantor e compositor Amaury Garcia não confirmou ainda presença no evento. O velho stalinista Luiz Carlos Orro, com seu indefectível chapéu Panamá, dará um canja de voz e violão. Manoel Rangel, presidente da Ancine, Gilvane Felipe, auxiliar do inquilino da Casa Verde, Marconi Perillo, tucano de alta plumagem, Adalberto Monteiro, hoje na Fundação Maurício Grabois, o ex-presidente da UNE e ex-deputado federal Aldo Arantes, Horácio Santos, ex-diretor do Departamento Estadual de Trânsito, participarão da festa vermelha ‘revival dos anos 80’.

O primeiro presidente da UNE, pós-reconstrução, eleito no Congresso de Salvador, Bahia, em 1979, foi Rui César. Aldo Rebelo, atual ministro da presidente da República, Dilma Rousseff, dirigiu a entidade máxima dos estudantes, em 1980. Na chapa da Viração, o vice-presidente da Região Centro-Oeste era Luiz Carlos Orro. Em 1981 o porta-voz do movimento estudantil atendia pelo nome de Javier Alfaya. Um espanhol, afirma Denise Carvalho. A ditadura civil e militar queria expulsá-lo do País, recorda-se. Depois, assumiu a presidência a baiana de curvas generosas Clara Araújo. No turbulento ano de 1983, Acildon Pae, de São Paulo. Quem invadiu as universidades e faculdades com a campanha das diretas já foi Renildo Calheiros. O vice-presidente da Região Centro-Oeste, Romualdo Pessoa Campos Filho. “Éramos milhões contra a ditadura civil e militar e pela aprovação da emenda Dante de Oliveira”, lembra Denise Carvalho.

Com estilo mineiro, Gisela Mendonça, de linhagem comunista, ocupa o cargo número um da UNE, em 1985, sob a Nova República, que elegeu Tancredo Neves, ministro da Justiça de Getúlio Vargas e primeiro-ministro de João Goulart, mas acordou com o ex-bossa nova da UDN e ex-presidente do PDS José Ribamar Sarney. O bigodudo legalizou tanto o PCB [Partido Comunista Brasileiro] quanto o PCdoB [Partido Comunista do Brasil], convocou a Assembleia Nacional Constituinte – na verdade, um Congresso Nacional com poderes constituintes – e lançou o Plano Sarney, que deu um golpe temporário na inflação que assustava os brasileiros nas ruas e supermercados. No ano de 1987, a Viração perdeu, no Congresso de Campinas, São Paulo, a eleição na UNE para os PT. Para recuperá-la no ano seguinte com Augusto Madeira, líder estudantil do Estado de Pernambuco. De 1990 a 1998, o enragé bonitinho Lindberg Farias sacudiu o Planalto.

Em Goiás

O então estudante de Biologia Osmar Pires foi o primeiro presidente do Diretório Central dos Estudantes da UFG com o carimbo da Viração. Hoje, ele é biólogo renomado, ex-secretário municipal de Meio Ambiente e referência nacional em estudos de preservação e sustentabilidade. O que os comunistas não esperavam ocorreu, em 1982. O PT ganhou as eleições em 1982. A Viração apoiou Iris Rezende Machado [PMDB] ao Palácio das Esmeraldas. Os petistas marcharam com Athos Magno Costa e Silva, ex-militante da Var-Palmares [Vanguarda Armada Revolucionária – Palmares], que sequestrou um avião e desviou-o para Havana-Cuba, e chegou a compor ainda o MR-8, no Chile, de Salvador Allende, de onde fugiu após o golpe de 11 de setembro de 1973, desferido pelo general Augusto Pinochet. Em 1983, Denise Carvalho elegeu-se presidente do DCE. Depois conquistaria mandato de vereadora e de deputada estadual, sendo candidata a vice-prefeita em 1996, mas perdeu o pleito.

A União Estadual dos Estudantes [UEE-GO] acabou reconstruída em 1984, com Gil César de Paulo no comando. Em 1985, Carlos Henrique Silva, hoje no PT, abocanhou a presidência do DCE. O seu sucessor, em 1987, foi Heder Murari Borba, da Medicina, que derrotou o magérrimo estudante de Ciências Sociais Renato Dias, de 20 anos de idade, e soldado de Leon Trotsky, uma das facções radicais do PT. Em 1987, o acadêmico de História Gilvane Felipe, na verdade um velho estudante profissional daqueles tempos bicudos, ganhou a presidência da UEE-GO. Alan Barbieri é o presidente do DCE – UFG em 1988. Giovana Reis, presidente da UEE, em 1988. A UEE em 1989 estava ocupada pelo estudante de Ciências Sociais Marcos Elias. Os petistas da Reviravolta, com Paulo Henrique Costa Matos, desalojaram os comunistas do DCE da UFG no quente ano de 1989, quando Luiz Inácio Lula da Silva chegou ao segundo turno das eleições presidenciais com o ‘caçador de marajás’ Fernando Collor de Mello, à época no PRN.

Números

  • Viração & UNE


1979

  • Surge a Viração na Bahia


1980

  • Viração vira corrente nacional


1984

  • Na UNE, a Viração entra na campanha por diretas já


1985

  • A Viração apoia a Nova República


1986

  • A UNE defende uma Assembleia Nacional Constituinte


1987

  • O PT ganha as eleições para a UNE


1989

  • A Viração vira União da Juventude Socialista

Fonte: Denise Carvalho

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