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POLÍTICA

Os goianos que Iris tornou ministros

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O prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilella (PMDB), foi testemunha histórica das últimas três décadas de todo o processo político em Goiás e no Brasil. Ele pode atestar com a fidedignidade de poucos porque sua história política também se funde com esse processo. Maguito Vilella foi eleito deputado estadual em 1982 e tomou posse em 1983 na Assembleia Legislativa, período em que o Brasil retornava à democracia após a malfadada ditadura militar implantada em 1964.

“Goiás teve expressão nacional após 1982, com o trabalho incessante e o prestígio adquirido por Iris Rezende, que foi o governador mais atuante que nosso Estado teve nesse sentido”, comenta Maguito. Em entrevista ao Diário da Manhã, Maguito recorda os fatos mais marcantes da política dos anos 1980 e 1990 e seus reflexos para Goiás como personagem de primeira grandeza no cenário nacional sob a batuta de Iris Rezende.

Maguito relembrou os fatos que fizeram a trajetória de Iris ser construída sobre uma sólida base de capacidade política de articulação e convencimento de opostos para conseguir os melhores resultados para seus projetos. “Iris tem maior facilidade de comunicação com o povo justamente porque fala como o povo, come como o povo, tem alegrias simples como o povo e se identifica com coisas populares, o que lhe confere até mesmo cheiro de povo”, desabafa.

Para o prefeito de Aparecida de Goiânia, a política contemporânea de Goiás se funde com a figura de Iris, que passou por praticamente todos os cargos eletivos – deputado federal foi o único mandato que ele não conquistou porque não disputou – e cuja trajetória moldou o líder político que despontou ainda na juventude e fez dele um homem público diferenciado. “As ações de Iris para colocar Goiás no centro decisório nacional fizeram de nosso Estado uma referência e, infelizmente, esse processo não teve prosseguimento, haja vista que o último ministério ocupado por um goiano foi o da Justiça, justamente por Iris quando era senador e presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado”. Maguito relembrou ponto a ponto a construção da história política de Iris Rezende e como sua figura se fundiu com os espaços políticos ocupados por Goiás no plano federal.

A construção

Iris Rezende era prefeito de Goiânia em 1969 e estava com a campanha nas ruas visando ser candidato a governador. Ainda que o Brasil já vivesse sob uma ditadura implantada em 1964, havia a esperança de que o processo político pudesse ser retornado à democracia e que os governadores pudessem ser eleitos. Iris estava com uma campanha bem colocada, com o slogan “Bom para 70”, com a expectativa de que as eleições acontecessem naquele ano. Mas, infelizmente, o arbítrio foi mais rápido e sepultou o sonho do povo. Iris teve seu mandato de prefeito cassado naquele ano e foi condenado à perda dos direitos políticos por 10 anos. Os governadores passaram a ser escolhidos pela via indireta e existiram até mesmo senadores biônicos, escolhidos pelos militares. Durante todo esse tempo ele esteve afastado da vida pública até que fosse editada a Lei da Anistia, em 1979, e somente em 1982 os brasileiros pudessem voltar a exercer sua cidadania plena, podendo ir às urnas para escolher governadores, bem como senadores, deputados, prefeitos e vereadores.

O retorno

Em 1982, o desejo de mudança uniu-se ao carisma de Iris Rezende e à vontade reprimida de construir um Estado de Goiás dentro do nosso anseio. Iris foi consagrado nas urnas como governador eleito e eu também fui eleito deputado estadual pelo PMDB. Ele no governo e nós na Assembleia Legislativa lutando para reconstruir Goiás, dando vazão aos nossos sonhos de democracia e de um governo realmente popular. O PMDB elegeu uns poucos governadores, sendo Iris aqui em Goiás, Franco Montoro em São Paulo, Tancredo Neves em Minas Gerais, Jader Barbalho no Pará e Leonel Brizola, do PDT, no Rio de Janeiro. Me lembro bem que Iris um dia recebeu uma ligação do governador mineiro, Tancredo Neves, que se lembrara de uma promessa feita por Iris durante a campanha. “Iris, você disse durante a campanha que se fosse eleito iria envidar todos os esforços do governo de Goiás para devolver ao povo brasileiro o direito de eleger seu presidente da República”, disse Tancredo. O que ele queria de Iris era que o governador goiano fizesse o primeiro movimento político público propondo eleições diretas para presidente. Iris se prontificou e disse que iria encabeçar esse processo, que Tancredo e outros líderes. como Ulysses Guimarães, reunissem lideranças e expressões populares nacionais para virem a Goiânia porque ele iria promover o primeiro Comício das Diretas.

Tancredo, Ulysses e outros vieram acompanhados de alguns deputados federais e senadores imaginando que seriam recebidos em um auditório com umas 80 ou 100 pessoas no máximo, e tomaram um susto quando viram que havia quase 500 mil pessoas na Praça Cívica com uma manifestação popular que há muito não era vista no Brasil. Todos gritando palavras de ordem e pedindo a redemocratização plena do País, com a volta do direito do povo de escolher seu presidente da República. Artistas variados, como Fafá de Belém, Belchior, Milton Nascimento, a atriz Christiane Torloni, o cartunista Ziraldo e tantos outros, estavam na Praça Cívica apoiando a vontade popular de votar para presidente. Os militares resolveram deixar o poder para os civis e lançaram o deputado federal por São Paulo Paulo Maluf (PDS) para ser candidato a presidente a ser eleito no Colégio Eleitoral. O PMDB precisava tomar uma posição.

Mudança de Rota

A Emenda Constitucional Dante de Oliveira, que retornava as eleições diretas para presidente, foi derrotada no Congresso, fazendo com que os sonhos fossem mudados. Um dia, Iris recebeu outra ligação de Tancredo, que estava junto com Ulysses Guimarães. “Iris, estamos aqui doutor Ulysses, eu e outros líderes discutindo sobre a possibilidade de irmos ao colégio eleitoral disputar e gostaríamos que começasse por você e por Goiás essa aliança por uma candidatura alternativa”, pediu o governador mineiro.

Iris aceitou a missão novamente e se prontificou a conclamar os goianos para mais esse compromisso cívico. Na Praça Cívica, novamente se reuniram cerca de 700 mil goianos, segundo estimativa da Polícia Militar. Mas, desta vez, vieram nomes de referência do lado do PDS, partido do governo militar do presidente João Batista Figueiredo. Eram expressões como José Sarney, Marco Maciel e Antônio Carlos Magalhães, todos inconformados com a impossibilidade de podermos escolher diretamente nosso presidente e que aceitavam ir mais uma vez ao colégio eleitoral como forma de sepultar aquele tribunal arbitrário. Esses novos integrados ao movimento das Diretas Já fundaram a Frente Liberal, que depois se tornaria o Partido da Frente Liberal (PFL), que compôs com o PMDB a chapa Muda Brasil e, após a vitória no Colégio Eleitoral, inaugurou a Nova República.

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O governo

Antes de ser empossado, o presidente Tancredo Neves ligou para o governador Iris Rezende para que ele indicasse algum goiano para o ministério. O escolhido foi o então secretário de Planejamento, Flávio Peixoto. Ocorre que antes da posse Tancredo foi internado e, após longa agonia, faleceu. Sarney foi empossado com o ministério escolhido por Tancredo. Após a morte de Tancredo, a coisa tomou outro rumo e o presidente precisava dar uma feição sua ao ministério. Ele então pediu que Iris aceitasse ser ministro da Agricultura para que Goiás tivesse uma representação digna no ministério. Iris se preparava para sair do governo e ser candidato ao Senado e relutou muito em assumir. Mas não teve jeito e ele aceitou ser ministro da Agricultura. Foi o primeiro posto de expressão que nosso Estado teve. Flávio Peixoto foi ser diretor da Caixa Econômica Federal.

Iris desempenhou com maestria esse cargo e encarou desafios que jamais pensara. Ainda respondeu interinamente – sete meses – pelo Ministério das Minas e Energia com a licença do titular, ministro Aureliano Chaves. Respondeu também por um ano inteiro pelo Ministério da Reforma Agrária e colheu elogios do presidente Sarney e de todo o setor. Durante seus anos à frente da pasta da Agricultura, o Brasil teve, sucessivamente, recordes de safra e despontou como celeiro do mundo. Iris levou o ex-prefeito de Catalão Haley Margon Vaz para ser secretário-executivo do ministério e ele chegou a responder interinamente pela pasta.

Todo esse processo serviu para uma experiência de que Goiás estava abrindo espaço com seu líder para ocupar melhores posições no cenário nacional. No governo Itamar Franco aconteceu também a indicação de um goiano bancada por Iris Rezende para ser ministro. Foi Lázaro Barboza o indicado para o Ministério da Agricultura.

Outros cargos

Em 1994 foi eleito o presidente Fernando Henrique Cardoso e novamente Iris, eleito senador e nome forte no firmamento político brasileiro, já uma estrela de primeira grandeza, indica Ovídio de Angelis para o Ministério do Desenvolvimento Urbano. Goiás sempre esteve representado por uso da força política empreendida por Iris Rezende.

Já no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso Goiás ocupou cargo de relevância no Planalto. Quando Iris Rezende era presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, o ministro Nelson Jobim foi escolhido para compor o Supremo Tribunal Federal. Então o presidente FHC convidou pessoalmente Iris para ser ministro da Justiça, por seu conhecimento da área e pela relevância política que ele sempre desempenhou.

Assim, Goiás esteve no centro das atenções do poder central da corte, com Iris sendo o grande comandante desse processo. Por isso, Goiás deve tanto a esse líder.

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