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POLÍTICA

Fake News, o mal da década

  •  Doutor da UFG, Luiz Signates frisa que noção é associada ao conteúdo, à ausência do valor de verdade de uma notícia, isto é, à desconexão com os fatos
  •  Historiador Romualdo Pessoa afirma que a mentira e o boato sempre fizeram parte do jogo político. Diferencial é a rapidez com que notícias falsas se espalham
  •  Fernando Santos diagnostica subproduto dos baixos índices escolarização, da concentração monopolizada da informação e da massificação do consumo de mídias
  •  Peruano, Carlos Ugo Santander aponta indústria que possui a finalidade de distorcer a vontade popular, promover a desinformação e procurar induzir eleitor ao erro

Adélio Bispo, portador de transtornos psiquiátricos, como aponta laudo médi­co, o homem que esfaqueou o deputado federal Jair Bolsonaro [PSL], em Juiz de Fora [MG], dia 7 de setembro, assessora a ex-pre­sidente da República Dilma Rou­sseff. É o que diz post no Twitter @pastor Malafaia. O pastor Silas Malafaia, com, à época, 3.512 curtidas. Já o deputado federal Alberto Fraga, do Democratas, do Distrito Federal, informou que Marielle Franco, mito da esquer­da, teria engravidado de Mar­cinho VP, era consumidora de maconha e foi eleita pela facção criminosa com forte inserção no Rio de Janeiro, o Comando Ver­melho [CV]. A mensagem saiu no Twitter do parlamentar. A série da Netflix ‘O mecanismo’, sob a direção de José Padilha, mostra que o Escândalo do Banestado– esquema que envolvia o envio de remessas de dinheiro ilegal para o exterior -, teria ocorrido em 2003. Sob Luiz Inácio Lula da Silva [PT]. As informações cons­tituem Fake News. Na tradução literal, Notícias Falsas. Em 2018: ano eleitoral

- Fake News é o mal da década.

A mentira sempre existiu, a diferença é que não existia a in­ternet, diz Carlos Willian Lei­te. A internet não é a in­ventora, mas é o vetor, expli­c a o maior especia­lista em redes so­ciais no Cen­tro-Oeste. As redes sociais se tornaram o tambo­rete do ódio, pontua o pesquisador. Mo­ral e verdade são se­l e t i ­vas, sublinha o operador da inter­net. Plataformas como Facebook, Twitter e, sobretudo o Whatsapp, constituem os maiores vetores de replicação de boatos, men­tiras e incitação ao ódio, insiste o poeta e escritor, membro do Conselho Estadual de Cultura. Quando uma mentira é compar­tilhada por alguém que conhe­cemos temos a falsa impressão de que isso é suficiente para le­gitimá-la, destaca. Uma pesqui­sa da Universidade de São Paulo, a USP, mostrou que mais de 30% do que se compartilha em redes sociais seriam mentiras. Existe, sim, uma relação próxima entre Fake News e Pós-Verdade, frisa. Fatos objetivos são deixados de lado em detrimento de crenças pessoais, um caminho à barbá­rie, atira ele, indignado.

- Fake News é o nome que se dá à disseminação via internet do antigo fenômeno da mentira.

Da invenção de fatos inexis­tentes, porém verossímeis, que prosperam, especialmente, em períodos eleitorais. A análise é do doutor em Comunicação da Universidade Federal de Goiás [UFG] e proprietário de um Insti­tuto de Pesquisa de Opinião Pú­blica, no Estado, Luiz Signates.

Ela possui relação, sim, com a Pós-Verdade, acredita. É a im­pressão de verdade que uma ideia recebe pelo simples fato de circular em quantidade e de forma veloz, sublinha. Ganha no­toriedade pela generalização ou pela onipresença simbólica de­corrente da circulação comuni­cacional, atira. A semelhança é que ambos os conceitos re­ferem-se à questão da verda­de, operando seu negativo, ava­lia. Mas, não são um sinônimo do outro, dispara. A diferença é que a noção de Fake News é associada ao conteúdo, à ausên­cia do valor de verda­de de uma notícia, isto é, à desconexão com fa­tos ou com a verdade propria­mente dita, e a Pós-Verdade está relacionada à forma, ao modo de circulação da informação, ou seja, à co­municação ou à circulação simbólica, informa com ex­clusividade ao jornal Diário da Manhã.

- Fake News é a notícia fal­sa. Pós-Verdade é a realização do conceito expressado por Goe­bbels, o ministro da comunica­ção de Adolf Hitler: “uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”.

Doutor do IESA, da UFG, Ro­mualdo Pessoa Campos Filho es­tabelece uma relação dialética entre Fake News e Pós-Verdade. Em tempos de informações rápi­das, fuzila. A notícia sequer é lida, metralha. Internautas se orien­tam pelo título ou pela confian­ça em quem enviou uma infor­mação, ataca. Que muitas vezes é falsa, reclama. O desconheci­mento da realidade, até pela sua complexidade, leva as pessoas a não apurar a mensagem, desa­bafa. Desde que o título se ade­que ao seu pensamento e à de­fesa daquilo no qual o leitor crê, afirma. As Fake News compõem instrumentos que consolidam o que de­nominamos de Pós-Ver­dade. Uma Era onde o leitor acredita somen­te no que lhe interessa, vocifera. Mais: o contraditório é negado, e até mesmo considerado falso, mesmo que seja este o elemen­to verdadeiro na história, frisa. A mentira e o boato, porém, sem­pre fizeram parte do jogo políti­co, observa o pensador de linha­gem marxista. O diferencial é a rapidez com que as notícias fal­sas se espalham, sublinha.

- As redes sociais, a internet, se constituíram em elementos que disseminam banalidades, infor­mações, potencializam maldades.

Professor da UFG, Fernando Santos é taxativo. Notícias falsas sempre foram difundidas nos meios de comunicação e mes­mo em veículos que gozavam de credibilidade. Com o adven­to de novos meios informatiza­dos de difusão e comunicação, as redes sociais, obtiveram um novo significado e agilidade no processo de comunicação social, relata. A ampliação do acesso às novas mídias [celulares e smar­tphones, palmtops e tablets ge­rou, também, novas fontes de informações, confidencia. Exis­te uma concentração dos meios de comunicação e suas agências nas mãos de clãs familiares e re­gionais, avalia. Um verdadeiro monopólio dos meios de comu­nicação e informação, fuzila. Os maiores produtores de notícias, explica. As chamadas Fake News estão hoje inseridas nesse con­texto de perda de confiança nos monopólios e agências de notí­cias, com a utilização de novas mídias e abandono dos jornais e tablóides em papel e ainda, a ve­locidade da internet, com as suas demandas por informação, diz.

- Informações resumidas e fu­gazes que criam novos conceitos para a comunicação.

Fernando Santos lembra que as Fake News são subproduto de baixos índices escolarização, no Brasil, de Norte a Sul, da eleva­da concentração monopolizada da informação e da massifica­ção do consumo de mídias ele­trônicas. Da não democratiza­ção dos meios de comunicação, aponta. O que agrava ainda mais a difusão de informações falsa sem checagem das fontes, por exemplo, registra o estudioso do tema. A velocidade da informa­ção e a produção de notícias fal­sas geram concepções invertidas da realidade, que, em muitos ca­sos, nem sempre são aferidas ou desmentidas, insiste o docente da Universidade Federal de Goiás. O que conhecemos como Pós-Ver­dade está ligado com essa geração e disseminação de informações falsas que omitem seu lastro e que em tempos de crise econômica e social podem se transformar em novos meios de manipulação da opinião pública, diz. A manipu­lação já tem surtido efeitos nega­tivos nos últimos processos elei­torais, metralha.

- Nas eleições de 2018 pare­ce que não será diferente, relata.

Graduado no Peru, mestre no México e com doutorado no Bra­sil, o professor de Ciências So­ciais Comparadas da Universi­dade Federal de Goiás, Carlos Ugo Santander afirma que as Fake News representam uma indústria, de alta voltagem, que possui a estratégica de distorcer a vontade popular. Assim como promover, em larga escala, em um País de dimensões conti­nentais, a desinformação, ex­plica. Além de procurar indu­zir, em elevada escala, o eleitor ao erro, dispara. Com a finali­dade de submeter os seus ob­jetivos particulares, reclama. Que de outra forma não seria possível, avalia. O que pode, in­clusive, alterar os valores polí­ticos, sociais e culturais, desta­ca o pesquisador. Um Homem Gauche. “A Pós-Verdade refere­-se a fatos objetivos com baixa influencia em moldar a opinião pública os quais podem ser mo­dificados para apelos à emoção e crenças pessoais com objetivo de redefinir a realidade”.

- As Fake News estão presen­tes, com maior incidência, no APP WhatsApp. Em grupos.

É o que observa a jornalista, diretora do Sindjor de Goiás, De­nise Rasmussem. Isso se dá pela falta de controle que o aplicati­vo proporciona, explica. É qua­se uma “terra sem lei”, lamenta. A identificação de quem iniciou a publicação da Fake News é difí­c i l de ser descoberta, rela­ta. Se não há controle eficiente, obviamen­te ocorrerá a prolife­ração de informações falsas, insiste.

O período eleitoral propi­cia esse aumento no nú­mero de fake News, admi­te a ‘periodista’. A criação das informações falsas, o seu respectivo compartilha­mento de forma indiscri­minada, estariam liga­das aos sentimentos e concepções dos ho­mens e das mulheres, acredita. O que mantém rela­ção com a Pós-Verdade, ana­lisa ela. Não há uma preocu­pação racional em saber se aquilo que ela leu na Internet é ou não verdade, pontua. Se atende os seus anseios pes­soais já é suficiente, desaba­fa. O que potencializa o com­partilhamento das Fake News é o sentimento que o eleitor, o in­ternauta, carrega em si, de deses­pero, tristeza e ódio pelo País, diz.

- Fake News é uma forma sor­rateira de disseminar falácias, manipular pessoas com informa­ções mentirosas que traduzem o desejo de destruir ou desconstruir uma pessoa, uma marca.

Um combate, sem regras, amoral, à uma proposta, um projeto, um candidato ou candidata, afirma a historiadora Ana Rita de Castro. Fake News é uma forma de confundir pessoas que possuem condições limitadas de informações e reduzida leitura de livros e conhecimentos nas múltiplas áreas de de História, Sociologia, Filosofia e Econo­mia, frisa. 2018 traz uma ava­lanche, um tsunami de notícias falsas, lamenta. Fake News não tem relação com a verdade, re­sume. Cineasta, um papa-prê­mios, Ângelo Lima limita-se a di­zer que quem acredita em Fake News é um Fake. Jornalista e bió­grafa, Betty Almeida, de Brasília, a Capital da República, recorda­-se que as Fake News, trotes, si­tes falsos, falsos depoimentos, tornaram -se, desde o primei­ro turno das eleiçõesde outubro de 2018, o principal instrumen­to de campanha do candidato fascista, o deputado federal Jair Bolsonaro [PSL], ataca. Com um efeito nefasto, vistos por milhões de pessoas, que acreditam, e até chegar um desmentido, já hou­ve muito estrago, diz.

Sindicalista, a professora Ail­ma Maria denuncia a invasão, na internet, das Fake News. Com a tecnologia da comunicação vir­tual e o bombardeio de informa­ções, o Brasil é idiotizado, re­clama. Atordoados, por vezes, colocamos em dúvida, até mes­mo o que é fato, admite. Profes­sor de História, um marxista em sua versão trotskista de tintu­ra morenista, um seguidor das ideias do argentino Nahuel Mo­reno, morto em 1987, Frederico Frazão revela que as Fake News cumprem, sim, um papel tático. Apesar disso, o seu idealizador deve responder judicialmente, afirma o historiador. Jornalista e poeta, Helverton Baiano insis­te. Fake News é uma aberração que o mau-caratismo inventou para confundir as pessoas mais incautas, frisa. Quando alguém me manda uma postagem, que vejo sem lógica, vou pesquisar, conta. Encontrando a correção, devolvo a postagem informando que é mentira, destaca. Até agora, obtive sucesso, comemora. “Mas virou um despautério de notícia falsa, de malandragem e de má fé, que não está fácil pra nin­guém. Para mim, quem faz Fake News é ladrão do bom senso”

- Fake News... Uma forma mo­derna e mais destruidora da ve­lha fofoca!

Especialista em Informática, Julian Melgaço, admite a rela­ção com a Pós-Verdade. Dire­tor do Sindicato dos Jornalis­tas Profissionais do Estado de Goiás, Luiz Cláudio, servidor da Agência Brasil Central, a ABC, Luiz Cláudio revela que as Fa­kes News ocuparam, hoje, um espaço na vida do leitor pregui­çoso, que lê o conteúdo, toma­-o por verdade absoluta e não se preocupa em verificar a au­tenticidade dos fatos ali narra­dos, vocifera. Pós-verdade? A relação entre mentira e verda­de está sob uma linha tênue de como é tratada a notícia, atira. O velho historiador adepto das ideias de Karl Marx e Friedrich Engels, Reinaldo Pantaleão re­sume-a. “É a nova modalidade da ação tecnológica da men­tira, da provocação barata. O mais grave um viés que destrói o verdadeiro papel da informa­ção e da análise. As grandes potências impondo os seus domínios”, me­tralha. Advo­gado, Sebastião Ferrei­ra Leite afirma que o maior problema em 2018 são as Fake News patrocinadas por agentes do Estado. “Qualquer operação judicial do Judiciário, MP e PF compromete a lisura do pleito e deslegitima o livre exercício do sufrágio.”

Márcio Bittencourt, gradua­do em Direito e presidente do Sindsemp, avalia que a inter­net permitiu uma enorme liber­dade e uma rapidez de acesso à informação, porém potenciali­zou a proliferação de mensagens falsas ou equivocadas fazendo surgir as Fake News ou notícias falsas. Um prato cheio para ma­nipuladores, resume. Para in­fluenciar as tomadas de deci­sões e de rumo da sociedade, diagnostica. O exemplo clássi­co recente foram as últimas elei­ções nos EUA, conta. Feminista, Amelinha Teles frisa que as Fake News constituem a Política do Esquecimento, da antihistória, a falta de perspectiva política. É o caos, frisa. Professor de Histó­ria, em São Paulo, e membro do Combate Pelo Socialismo, trots­kista, Heitor Cláudio vê as Fake News com conduta de falta de ética. Ou tem ou não tem, crê. Cristiano Leobas, jornalista con­ceituado em Goiás, insiste que Fake News é notícia falsa. Elas sempre existiram na forma de boatos, lembra. Obtiveram, pa­radoxalmente, aura de realida­de no universo virtual, resume. Antes, você só ouvia um boato. Agora, você vê, ouve, acompa­nha o vídeo. É mais concreto do que palavras soltas ao vento, pontua. “As pessoas confundem a verdade com aquilo que gos­tariam que fosse verdade, como se uma mentira dita mil vezes se tornasse real.”

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