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Imprensa goiana perde erudição e conhecimento de jornalista e advogado Helvécio Cardoso

Considerado um dos jornalistas mais brilhantes da sua geração, o advogado e ilustrador Helvécio Cardoso, 66, faleceu às 6h30 no feriado da República. A ex-esposa, jornalista Magali Carnot, informa que Helvécio lutava contra um câncer no estômago.

Ele foi enterrado na segunda-feira, 15, no Parque Memorial, em Goiânia. O jornalista Batista Custódio – editor a quem Helvécio prestava reverências por considerar o maior jornalista de Goiás - diz que o profissional esteve com ele em momentos históricos e difíceis.

Formado em Direito pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Helvécio escreveu nos jornais Diário da Manhã, "Opção" e "Folha de Goiaz" – onde, segundo o jornalista Helton Lenine, aprendeu a desenhar e compor suas charges e ilustrações.

Nas eleições presidenciais de 2018, entrevistou no DMTV então candidatos como Jair Bolsonaro, Ciro Gomes e João Goulart Filho.

Helton Lenine, Jair Bolsonaro e Helvécio Cardoso no DMTV

Conforme o jornalista Ulisses Aesse, presidente do Clube de Repórteres Políticos (CRPO), Helvécio era multitalentoso e polímata, já que escrevia músicas, ilustrava e redigia textos jornalísticos com a mesma maestria. Como advogado, atuou no tribunal do júri em diversos estados, tendo uma pauta em defesa do contraditório, que se esmerava em reduzir ao máximo os efeitos da condenação, para que o apenado tivesse sentenças justas e oportunidade de ressocialização. Aos inocentes, em sua maioria, conseguiu absolvição com seu texto limpo e recheado de figuras, já que dominava a língua portuguesa e o discurso jurídico com grande desenvoltura.

Analista político com grande sagacidade, jamais escondeu sua predileção pela linha ideológica socialista. Foi um dos primeiros no país a escrever contra o que uma corrente de juristas apontou como “quadros mentais paranoicos” e abusos da operação Lava jato – atacou a tese do moralismo e aplicação da teoria do domínio do fato para casos de corrupção.

Jornalista Helvécio Cardoso, em Paris, de onde produzia textos e ilustrações para imprensa

Durante o início da última década foi para Paris, onde conviveu com o amigo cineasta Tede Silva, a quem mais direcionou seus debates e diálogos intelectuais. Na “capital da Europa”, fez pesquisas sobre a Constituição Francesa (central para o desenvolvimento do constitucionalismo ocidental) e conviveu com círculos de artistas, visitando os grandes centros do conhecimento e universidades.

Nos últimos anos, escreveu no jornal Diário da Manhã, onde sempre dialogava com amigos da redação, caso dos jornalistas Batista Custódio, Helton Lenine, Ulisses Aesse, Marcus Beck,  Carlos Pereira, dentre outros. 

Arte

Com uma personalidade característica de polímata (indivíduo que estuda ou que conhece muitas ciências), buscava acima de tudo o conhecimento. Guitarrista virtuoso, com grande sabedoria de harmonia, ele próprio rearranjava as composições que mais gostava. Interpretava dos velhos sambas de Mário Reis e Noel Rosa ao blues de Stevie Ray Vaughan, passando pelo rock mais elaborado de Bachman-Turner Overdrive e Thin Lizzy. Teve uma banda de jornalistas nos anos 1990, Leads Elétricos, e outra de blues, na virada da década.

Gostava de testar equipamentos eletrônicos e tecnológicos, como pedais de efeitos, pedaleiras, processadores e instrumentos de diferente luteria.

Os desenhos voltaram a ser produzidos recentemente quando ele mesmo começou a publicar o “Jornal do Deboche”, um revival estilo “Pasquim”, que teve lançamento no extinto pub Casa Liberté, no Centro de Goiânia, e que contou com a colaboração de vários artistas, como Fróes, Elson Souto, Heitor Vilela, Marcus Beck, etc.  Assinava os desenhos com pseudônimos, como Joaquim Decker.

O jornalista deixa viúva Iara Gimenes e quatro filhos.

Repercussão

O governador Ronaldo Caiado lamentou a perda do jornalista e ressaltou suas qualidades como estudioso: "Goiás perde um dos seus mais talentosos jornalistas, um articulista com profundo conhecimento da realidade nacional, um analista político e estudioso do direito e da história. Helvécio Cardoso faleceu, nesta segunda-feira (15/11), aos 66 anos, em decorrência das complicações de um câncer no estômago".

"[...] combativo e culto, Helvécio escreveu nos jornais Diário da Manhã, Opção e Folha de Goiás, onde também revelou seu talento como ilustrador. Ele foi um dos mais primorosos profissionais de sua geração e sempre se mostrou diferenciado com suas análises fundamentadas .Como advogado, atuou no tribunal do júri em diversos estados. Neste momento de profunda dor e consternação, eu e minha esposa Gracinha Caiado oramos a Deus para que, em sua infinita bondade, possa confortar a cada familiar, amigo e leitor desse intelectual e grande ser humano que Goiás tanto se orgulha de ter tido entre os seus mais brilhantes quadros", completou o governador.

"Estamos muito triste. Não foi apenas uma pessoa amiga, querida e um comunicador que nos deixou. Foi a erudição jornalística. O que havia de mais qualificado nas letras noticiosas. Helvécio não era apenas um aficionado ao conhecimento, ele tinha métodos científicos de pesquisas", diz Valterli Guedes, presidente da Associação Goiana de Imprensa (AGI),

O pesquisador e professor de comunicação Luiz Signates lembrou do amigo de adolescência: "[...] mais do que um colega de profissão, um amigo de infância, vizinho meu na Fama (hoje Setor Marechal Rondon), em Goiânia, e com quem partilhei muitos momentos de minha adolescência. Lutava contra um câncer há vários meses e partiu de nós sem dizer adeus, levando consigo uma erudição formidável digna de um acadêmico e um texto formoso demais até para um jornalista".

A morte de Helvécio foi lamentada no Tocantins, onde também atuou como advogado e jornalista. O deputado federal Célio Moura (PT) chorou a perda do colega: "Meu amigo de longas datas e longas lutas, Helvécio Cardoso, virou hoje uma estrela no céu. Advogado e jornalista primoroso, homem admirador da arte e da vida, Helvécio Cardoso deixa muita saudade no coração. Meus sentimentos de pesar à família, amigos e admiradores de nosso Helvécio. Descanse em paz, meu eterno e admirável amigo. Helvécio Presente Hoje E sempre!".

O Partido Comunista Brasileiro (PCB) o homenageou nas redes e grupos de conversa privada com um card e reverência: "O PCB em Goiás lamenta profundamente o falecimento do Jornalista Helvécio Cardoso. Helvecio foi militante do PCB-Comitê Gregório Bezerra nos anos 80 e um incansável defensor das lutas sociais. Recentemente doou parte de seu Acervo e Biblioteca Pessoal para o Centro de Memória e Arquivo do PCB em Goiás. Estará sempre vivo em nossas memórias. Camarada Helvécio Presente, hoje e sempre!!"

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