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Encruzilhada política reduz tempo de Gustavo Mendanha

A pré-candidatura de Gustavo Mendanha (sem partido), ao governo de Goiás, entra na reta final nas próximas semanas: ele precisa realizar escolhas e se posicionar publicamente, além de buscar um novo partido e renunciar ao cargo de prefeito de Aparecida de Goiânia até 2 de abril.

Caso opte em disputar realmente o governo, terá mais 70 dias para pavimentar sua opção eleitoral. Sem partido, Mendanha tem encontrado dificuldades para estabilizar seu grupo em uma legenda forte, com lastro (deputados federais e estaduais) e com razoável tempo na propaganda política de rádio e televisão e convicta – que, por exemplo, não mude de direção na metade do caminho.

Após conquistar o apoio e, de forma surpreendente, descartar filiação ao Podemos, Mendanha aprofunda conversações para ingresso no Progressistas ou no PL e para isso iniciou conversações com os presidentes nacionais das legendas – Ciro Nogueira e Valdemar Costa Neto, além de buscar aval do presidente Jair Boilsonaro, já que são legendas que gravitam em torno do Palácio do Planalto.

Apesar de evangélico, o político, ao longo de sua carreira na vida pública, não apresentou posição ideológica definida. Daí que esta sua falta de “cor” é também o principal trunfo. Ora o prefeito acena na direção do bolsonarismo ora no rumo da esquerda (inclusive com nomeações de petistas e membros de outros partidos em seu secretariado).

Perdas
Há mais de um ano em pré-campanha, ele teve poucas conquistas práticas. Nos últimos doze meses, ocorreram – na verdade – perdas: foi isolado dentro do MDB, perdeu o grupo responsável pelo seu êxito nas urnas (o maguitismo) e rompeu com Daniel Vilela. Em termos de gestão, índice Firjan e Ranking dos Municípios apontaram quedas de parâmetros importantes de Aparecida de Goiânia. A cidade perdeu investimentos nacionais e estaduais e agora tenta um empréstimo de 120 milhões de dólares com instituições financeiras estrangeiras.

No início de janeiro de 2021, Mendanha recebeu prefeitos na sede da Prefeitura, com a tentativa de atraí-los para seu grupo. Era o primeiro passo articulado rumo ao Palácio das Esmeraldas. Na época, o diálogo se baseava no conceito de “cidade inteligente”. Nos bastidores, alguns dos prefeitos confirmaram que o gestor tinha interesse político em disputar o governo de Goiás e desejava mostrar “vitrines de Aparecida”, revelaram ao “Jornal Opção”. “Mas não vimos muito mais do que já não existe em nossas cidades”, comentou um dos gestores que foi até a sala do prefeito ouvir suas explicações. O diálogo estacionou naqueles termos.

Mendanha encerrou o primeiro ano de pré-campanha com o anúncio do apoio de um único prefeito – de São Luís de Montes Belos. Em compensação arregimentou todo o grupo que perdeu o poder com a queda de Marconi Perillo (PSDB) – deputada federal Magda Mofato (PL), deputado estadual Cláudio Meirelles (PTC) e o ex-deputado Jovair Arantes (ex-PTB), derrotado nas últimas eleições, já estão no palanque do ex-emedebista. Tais políticos são tarimbados, mas carregam natural alta rejeição do eleitorado goiano. O deputado federal Professor Alcides (PP) também embarcou na pré-campanha de Mendanha. É pouca gente de para uma campanha competitiva ao Palácio das Esmeraldas.

Partidos que integraram a oposição em 2018, como o Progressistas, Republicanos e PSD, sinalizam que poderão estar na campanha pela reeleição do governador Ronaldo Caiado ao pleito de 2 de outubro. No momento, Alcides Ribeiro tenta as últimas ações para segurar o PP e, inclusive, levar Mendanha para a sigla. Mas o certo é que o PP, em Goiás, segue com Alexandre Baldy, cujo irmão, Joel Sant’Anna Braga, é secretário de Indústria e Comércio.

Semana passada, aliados do prefeito conseguiram, enfim, o Podemos. O partido estaria abandonado após seu líder, deputado federal José Nelto, chegar à conclusão de que a legenda não consegue, devido ao coeficiente eleitoral, reelegê-lo.

Diante do abandono estratégico, Mendanha escalou seu vice-prefeito, Vilmar Mariano, que vai pular do MDB, para comandar o Podemos em Goiás.

O político sabe que a realidade mudou: não tem mais o MDB nas proximidades e os nichos de votos esvaziaram. Resta à Mendanha vários caminhos – mas todos se cruzam. Para seu grupo ele diz que deseja unir o máximo de forças, mas, na prática, cisca para fora, ou seja, não agrega lideranças expressivas, de peso, ao seu projeto eleitoral.

Contradições
O prefeito de Aparecida sofreu ataques nas redes sociais por conta de entrevista que concedeu para o site de “O Popular”. Nela, não descarta apoio ao PT – suficiente para que caiadistas e bolsonaristas elevassem o tom contra o gestor. Aproximação com o PT não é bem vista por aliados, ainda que Mendanha esteja unido aos petistas de Aparecida.

O político está em uma encruzilhada: se optar pelo PT, perde todo grupo bolsonarista que deseja vê-lo na disputa. Para piorar, Mendanha não é leal ao presidente Jair Bolsonaro, como o deputado federal Major Vitor Hugo (PSL), que deseja disputar o governo pelo PL. Se partir para uma candidatura bolsonarista de conveniência pode perder apoio dos seguidores mais “raiz” do presidente – e, claro, dos petistas.

Por sua vez, sem caminhar com o PT pode perder todo o grupo que deseja seguir com ele – inclusive o ex-governador Marconi Perillo. E pior: rachar a oposição, que teria dificuldades naturais nas urnas. E qualquer destas escolhas, no cenário atual, afastaria o Podemos de seu grupo, uma vez que a legenda tem um candidato contrário à corrupção na esfera nacional, o ex-juiz Sérgio Moro. Com o Podemos, PP ou PL, as alianças à esquerda com o PT e à direita com o bolsonarismo estão, por hora, impedidas.

Sem mapa estratégico, prefeito fica dependente de marketing

Um dos problemas centrais da candidatura de Gustavo Mendanha ao governo de Goiás é a falta de “mapa estratégico”, utilizado em qualquer bunker de pré-campanha.

O gestor de Aparecida de Goiânia não tem penetração no Entorno do Distrito Federal – com um bolsão de quase 900 mil votos. Para piorar, é “zero” sua entrada em Anápolis – que tem em Roberto Naves (PP) um adversário, inclusive, na narrativa de quem seja o “melhor prefeito de Goiás”.

Sem estes votos o político depende de “ondas” comunicacionais que ora ocorrem ora não nas campanhas. São pontos positivos do pretendente sua reeleição para prefeito sem concorrentes, sua resiliência em conseguir manter o equilíbrio mesmo após perder o MDB e um grupo coeso que atua em Aparecida de Goiânia – mas que segue unido até que ele deixe a gestão. Após 2 de abril, quando renunciar ao cargo de prefeito, Mendanha verá uma “debandada” de companheiros para o palanque da chapa Caiado/Daniel Vilela.

Afinal, quando o prefeito sair, o vice-prefeito é quem terá apoio – e com ele, poderá negociar o que bem entender para o pleito deste ano e o futuro.

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