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“Vou destruir todo mundo”, ameaçou pastor Arilton

Após ser preso na Operação Acesso, o pastor Arilton Moura, investigado sob suspeita de operar um esquema de cobrança de propinas de prefeitos em troca da liberação de verbas do Ministério da Educação (MEC), ameaçou “destruir todo mundo” se a filha dele for arrastada para o caso. “Se der qualquer problema com a minha menininha, eu vou destruir todo mundo”, afirmou Moura em conversa com a advogada após ter sido detido.

A filha, Victoria Camacy Amorim Correia Bartolomeu, teve o sigilo bancário quebrado por ordem judicial. Ela aparece como compradora de um carro registrado no nome da mulher do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, por R$ 50 mil. A Polícia Federal (PF) investiga se a negociação foi simulada para ocultar o pagamento de propinas.

Diante da declaração do pastor, a PF disse que Arilton Moura “possivelmente possui informações sobre os crimes aqui investigados, motivo pelo o qual faz essa ‘ameaça’”.

O pastor é o mesmo que, segundo um empresário ouvido pela Controladoria-Geral da União (CGU), pediu R$ 100 mil para levar um evento do Ministério da Educação para Piracicaba (SP). O valor seria um “auxílio a obras missionárias” de uma igreja ligada ao religioso.

Pediu dinheiro
Um empresário de Piracicaba (SP) relatou à Controladoria-Geral da União (CGU) que o pastor Arilton Moura lhe pediu R$ 100 mil para levar um evento do Ministério da Educação para a região. O valor seria um “auxílio a obras missionárias” de uma igreja ligada ao religioso, que é investigado pelo “gabinete paralelo” que controlava agenda e verba do MEC na gestão Milton Ribeiro.

O ex-ministro, Arilton Moura, o pastor Gilmar Santos, o advogado Luciano Musse e o ex-assessor da Prefeitura de Goiânia Helder Bartolomeu foram presos quarta-feira, 22, na Operação Acesso Pago. O “gabinete paralelo” foi revelado pelo Estadão em março. O desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) cassou a decisão e mandou soltar os investigados, no dia seguinte.

O empresário José Edvaldo Brito disse à CGU que acreditando na “boa-fé do pastor” conseguiu articular um pagamento de R$ 67 mil a Arilton Moura “para colaborar com as ações filantrópicas”. Segundo o empresário, um “amigo” identificado por Danilo Felipe Franco transferiu o valor para três contas ligadas ao pastor.

Um dos depósitos, de R$ 30 mil, é tratado pela Polícia Federal como pagamento de propina e foi enviado para a conta do genro do religioso, Helder Bartolomeu. Outros R$ 20 mil foram depositados na conta do advogado Luciano Musse, “infiltrado” pelos pastores no Ministério da Educação.

Luciano Musse acompanhava os pastores em agendas no MEC. Em abril do ano passado, o advogado passou a trabalhar na pasta, como gerente de projetos. O homem de confiança dos pastores tinha acesso a dados privilegiados da pasta na Secretaria Executiva, o órgão que gerencia e administra a estrutura do ministério. Após a queda do ministro, Musse perdeu o cargo.

A PF também coloca sob suspeita um depósito de R$ 50 mil na conta de Myriam Ribeiro, mulher do ex-ministro. Como mostrou o Estadão, a defesa do casal alegou que o valor seria oriundo da venda de um carro e teria sido repassado por familiares do pastor Arilton Moura que compraram o veículo.

Os policiais federais dizem que o relatório entregue pela Controladoria, somado aos achados da investigação, “demonstram, documentalmente, o recebimento de vantagem solicitada pelos investigados”.

A Polícia Federal aponta que o ex-ministro concedeu “prestígio” à atuação dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura ao dar-lhes “honrarias e destaque na atuação pública da pasta”. Os religiosos acompanhavam Ribeiro em eventos oficiais do MEC pelo País.

“A infiltração de Luciano nos quadros de servidores da pasta demonstra a sofisticação da atuação agressiva da organização criminosa, que indica desprezo à probidade administrativa e fé pública. Helder teve sua conta utilizada para receber propina e também viajou com a comitiva dos pastores”, afirma a PF.

Genro de ‘pastor do MEC’ recebeu dinheiro em negociação de evento

O genro do pastor Gilmar Santos, investigado por operar um balcão de negócios no MEC (Ministério da Educação), também recebeu dinheiro a partir de tratativas de um encontro com o ex-ministro Milton Ribeiro no interior de São Paulo em agosto de 2021. Wesley Costa de Jesus, que também é pastor e já esteve com o presidente Jair Bolsonaro (PL), recebeu R$ 17 mil. O comprovante de pagamento de transferência foi entregue à CGU (Controladoria-Geral da União) pelo empresário José Edvaldo Brito.

As informações prestadas por Edvaldo fazem parte do processo que baseou a operação Acesso Pago, que prendeu Milton Ribeiro e os pastores Gilmar e Arilton Moura, além do ex-assessor do MEC Luciano Musse e de Helder Bartolomeu, que é genro de Arilton.

A Polícia Federal investiga o balcão de negócios no MEC. Os pastores, ligados a Bolsonaro e Milton Ribeiro, negociavam com prefeitos a liberação de verbas da educação mesmo sem cargos no governo.

Ribeiro deixou a Esplanada no fim de março, uma semana depois que a mídia revelou um áudio em que ele diz priorizar pedidos dos pastores sob orientação de Bolsonaro. A prisão de Ribeiro se tornou um grande desgaste político para Bolsonaro a menos de quatro meses da eleição.

A investigação foi remetida para o STF (Supremo Tribunal Federal) após o Ministério Público Federal apontar “indício de vazamento da operação policial e possível interferência ilícita por parte do presidente da República”.

O pagamento a Wesley Costa de Jesus não é citado, no entanto, na manifestação do Ministério Público Federal nem na decisão da Justiça Federal que determinou as prisões.

Wesley recebeu a transferência de R$ 17 mil no dia 5 de agosto de 2021. No mesmo dia, foram pagos R$ 20 mil para Luciano Musse e R$ 30 mil para Helder. Casado com a filha de Gilmar Santos, Wesley Costa de Jesus, 35, é tratado como presbítero. Ele vai frequentemente a eventos religiosos com o sogro.

Wesley Casta: tráfico de influência e pedido de propina

Os depósitos para Wesley, Musse e Helder somaram R$ 67 mil, valor citado por José Edvaldo Brito à CGU. Esses pagamentos foram realizados dias antes de um evento em Nova Odessa (SP) com a presença de Milton Ribeiro. Ocorrido em 21 de agosto, a reunião com prefeitos da região foi organizada pelos pastores e seu grupo de apoio.

O jornal Folha de S.Paulo mostrou em março que o prefeito de Piracibaba (SP) disse er recebido pedido de dinheiro para fazer um evento com Milton Ribeiro na cidade poucos dias antes do encontro ser confirmado em Nova Odessa. Foi o empresário Edvaldo Brito que negociou com os pastores a realização do evento após saber que ambos controlavam a agenda do MEC.

Eles se reuniram no hotel Grand Bittar em Brasília, onde também encontraram Luciano Musse (enquanto era assessor do MEC). Esse hotel era usado como QG das negociações dos religiosos e assessores do MEC com prefeitos.

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