Política

A pior traição de Lula

Diário da Manhã

Publicado em 18 de novembro de 2017 às 05:12 | Atualizado há 4 meses

O senador Cristovam Buar­que (PPS) está a todo va­por e rumo ao Palácio do Planalto. Intelectual do primei­ro time, economista de proa, pen­sador de um Brasil moderno, de­fensor inconteste da educação, Cristovam se licenciará do cargo brevemente e vai ouvir o povo em todos os rincões do País. Filiado ao PPS, do também pernambuca­no Roberto Freire, este é Geraldo Alckmin até debaixo d’água. Freire poderá assumir mandato de depu­tado federal no lugar de um aliado do governador de São Paulo, que deve ser nomeado para o governo.

Mesmo assim, Cristovam vai le­var seu discurso pelo País afora. En­trevistamos o senador, quando ele falou sobre seu posicionamento fir­me contra qualquer tipo de censura, inclusive a censura nas artes. Nesta seara ele comentou o voto decla­rado do artista plástico Siron Fran­co, que disse com todas as letras, ser eleitor de Cristovam para pre­sidente do Brasil. O senador fez co­mentário ainda sobre a Lei da Pal­mada, índios pelados, crianças que apanham com vara Brasil afora, co­tas para negros nas universidades, o lado social da economia, a tecno­logia de ponta na vida do cidadão. O parlamentar brasiliense aprovei­tou a reportagem, para dizer que apesar das lágrimas da saudosa Dona Marisa Inácio Lula da Silva, o ex-presidente Lula traiu o Brasil, quando não erradicou o analfabe­tismo. Veja a íntegra da entrevista

ENTREVISTA — CRISTOVAM BUARQUE

 

Siron Franco vota em Cristovam para presidente

Considerado um dos artis­tas plásticos mais importante do país, o autor da coleção de pintu­ras Madonas disse que Cristovam é o político mais preparado para ser presidente do Brasil. Sobre a afirmativa do artista, o senador respondeu: “Trata-se de um voto altamente qualificado. Tenho por Siron a maior admiração como pintor. Quando tivemos em Bra­sília a tragédia do índio Pataxó Galdino, o Siron nos deu o maior apoio. Ele ajudou a convencer os jovens de Brasília, da dimensão daquela tragédia. Junto com o fa­moso artista plástico, inaugura­mos uma praça em homenagem ao índio Pataxó e lá naquele local, ainda hoje, tem uma escultura fei­ta pelo Siron, que retrata aquela tragédia. Eu tenho o maior orgu­lho disso”, arrematou Cristovam. O Siron disse para a reportagem que terá um grande prazer em reu­nir, no atelier em Goiânia, artistas de todo o País e diversas tendên­cias no mundo das artes, para um encontro com Cristovam, oportu­nidade em que serão discutidos os novos rumos da cultura no país.

A censura começa com a nudez e termina na mudez

Mal entendido por alguns evan­gélicos, que acusaram o senador de apoiar a pedofilia; a esse respeito Cristovam respondeu de forma cal­ma e serena, mas foi enfático: “Sou contra qualquer tipo de censura, inclusive a censura nas artes. Con­tudo, um homem pelado morto ou vivo, para mim nunca foi arte. A questão de uma criança tocar o homem numa performance ocor­rida no Museu de Arte Moderna­-MAM, é para mim um absurdo e irresponsabilidade tamanha dos pais. Por isso existem as classifica­ções por faixa etária na participa­ção de eventos: cinema, teatro ou um evento como o que ocorreu no MAM. E mais, sou contra a censura sim, pois existe uma frase que diz “A censura começa com a nudez e termina com a mudez”. A partir da nudez ocorrem outros passos e mais outros, inclusive proibindo religiões. Neste sentido, o que mais me motivou fazer aquela frase foi a censura aos cultos afrobrasileiros. Tive a oportunidade de ver em um terreiro no Rio de Janeiro, quando foi invadido e o Pai de Santo foi obrigado a quebrar seus próprios objetos religiosos. Não posso con­cordar com esse tipo de coisa”, co­mentou o senador do PPS.

Lei da Palmada

Dentro do mesmo assunto e so­bre a afirmativa de um dos pasto­res, que discorda de seus posicio­namentos públicos, o parlamentar do PPS acrescentou: “Um dos pas­tores que me critica disse, que não concorda comigo por eu ser favo­rável a proposta de partido único na escola. Eu sou a favor de todos os partidos, por isso não concor­do com o partido único na esco­la. Outra coisa, refere-se a minha posição contrária à Lei da Palma­da. É uma lei que proíbe maltra­tar criança. Eu sou contra mal­tratar criança também. O pastor disse no artigo dele que educação é obrigação da família e não do Estado. Se aquela mãe que levou seu filho à exposição tem todo o poder, o pastor não poderia cri­ticar a mãe. A meu ver, a educa­ção é do pai, da mãe, da família e do Estado. O Estado tem o direi­to de interferir no processo educa­cional e, sempre que houver pais irresponsáveis que maltratam os filhos. Neste sentido, o Estado tem o direito e a obrigação de interfe­rir e é esta a contradição do pas­tor. Ele se posicionou contra o es­tado proibir maltrato das crianças por parte dos pais, só que ao mes­mo tempo, ele reclama do porquê a mãe fez aquilo. A mãe errou e o Estado tem que proibir e dizer qual é a idade que a criança pode as­sistir determinado tipo de evento”, disse Cristovam.

Índio no shopping center

Ainda sobre o mesmo assunto e o comportamento dos pais, o se­nador da República disse: “Certos pais e em algumas culturas têm o direito de sair e dizer que são di­ferentes. O Estado não pode por exemplo, proibir o índio de andar nu, lá na tribo dele! É claro que, o índio não vai poder andar nu no shopping center. Por isso o Estado tem que intervir”, explicou o pro­fessor da UnB Cristovam Buarque.

Crianças apanhando com vara

Nessa questão, o senador faz um esclarecimento sobre uma ci­tação bíblica. “O pastor que me criticou diz que a bíblia permite os pais baterem em criança com vara. O pastor tem que entender que vara citado na bíblia é no sen­tido metafórico, para mim a crian­ça tem que ser educada com pala­vra e a vara é a voz. Não se trata de palmadas, pancadas ou açoi­te”, disse Cristovam.

Lula traiu os valores socialistas

Questionamos o senador refe­rente ao motivo pelo qual ele não conseguiu viabilizar o seu proje­to como ministro da Educação do Lula, que propunha acabar com o analfabetismo no Brasil. Ele disse: “Quando fui ministro da Educação criamos um proje­to para erradicar o analfabetis­mo no Brasil, o que não quer di­zer zerar, pois existem pessoas que não vão aprender a ler: ou por de­ficiência, ou em outros casos pela idade avançada. Neste caso, eu já vi muitas pessoas com 80 anos ou mais aprendendo a ler nos cur­sos que implantei quando minis­tro da Educação. Trata-se de uma exceção. Vale ressaltar que é uma vergonha ver 13 milhões de anal­fabetos e adultos que não sabem decifrar o que está escrito em nos­sa bandeira: ordem e progresso. Se eu fosse escolher um dia o que eu acho pior em relação aos va­lores socialistas, por parte do go­verno comandado por Luiz Iná­cio Lula da Silva, eu diria que foi não ter erradicado o analfabetis­mo. Portanto, o ex-presidente Lula traiu os valores socialistas e conse­quentemente traiu o povo brasilei­ro. Participei de um certo evento na Confederação Nacional de In­dústria-CNI, oportunidade em que o Lula no seu discurso e olhando para mim disse o seguinte: ‘Cristo­vam, quem come apressado come cru. Nós não temos pressa para acabar com o analfabetismo no Brasil’. A minha mulher não me perdoa até hoje, por eu não ter re­nunciado ali naquele momento e diante de todo mundo. O Lula nunca se importou em erradicar o analfabetismo, embora eu te­nha visto a Dona Marisa com os olhos cheios de lágrimas, quando eu criei o labirinto do analfabetis­mo”, atacou Cristovam.

O movimento negro não luta por ensino médio de qualidade

A reportagem questionou o se­nador referente ao avanço das co­tas para a comunidade negra nas universidades no governo Lula. Ele argumentou: “Não tenho dúvidas que as cotas para a comunidade negra nas universidades avança­ram muito. Embora, não seja uma coisa só do governo Lula, mas foi ele efetivamente que se preocupou com a questão. Eu dou aula na UnB e é completamente diferente a cor da pele dos alunos 20 anos atrás e agora. Contudo, isso é um paliati­vo. Quero deixar claro, que sempre fui favorável ao sistema de cotas para afrodescendentes nas uni­versidades. O que sempre discor­dei do Movimento Negro, é que a cota só não basta! O que eu que­ria é que negros e brancos, pobres e ricos disputassem a universidade em condições de igualdade. Para isso basta que a escola seja igual para brancos e negros, pobres e ricos. Para mim o grande slogan do futuro é: ‘o filho do pobre na escola do filho do rico; o filho do negro na escola do filho do bran­co; o filho do trabalhador na es­cola do filho do patrão. A partir daí não precisaremos mais de co­tas. Eu sinto que o movimento ne­gro não luta por isso, ou seja para que a escola básica seja igual para negros e brancos. O movimento negro só luta pelas cotas para ne­gros nas universidades. Eu cobro muito isso do Frei Davi, que é um ícone da causa negra, que é no­bre e importante. O Frei Davi não luta pela erradicação do analfa­betismo na comunidade negra e nem pela melhora do ensino bá­sico. Só luta para colocar o negro na universidade. Acrescento ain­da que, o Neymar é um dos salá­rios mais altos do mundo. Claro, a bola é redonda para todo mun­do, independente da cor da pele. Depende só do talento e não pre­cisa de cotas para isso. A escola no Brasil infelizmente não é igual para todos”, ensinou Cristovam.

A economia e o social

Como economista de proa, per­guntamos para Cristovam sobre a importância da economia para a área social. Ele adorou a pergunta e respondeu de forma professoral: “Você trouxe o ponto-chave do meu projeto rumo ao Palácio do Planal­to. Sou pré-candidato à presidên­cia da República e vou perder voto por isso. Para que a economia aju­de o social é preciso que ela seja efi­ciente. É necessário que ela gere um produto tal, que precisa para fazer as reformas sociais. Um exemplo disso é que a escola seja boa para todos, que a saúde funcione. Que­rer mudar a sociedade por dentro da economia não deu certo. Todo mundo sabe que a economia ficou ineficiente e a sociedade paga o pre­ço disso. Aumentou o número de pobres no Brasil pelo fato da eco­nomia ter deixado de ser eficiente. Não é mudando a economia que a gente faz a sociedade justa. Não virá por dentro da economia, como se tentou com o socialismo no Les­te europeu que estatiza e distribui melhor o salário em vez do lucro. Temos que ter uma economia que funcione: uma relação salário, im­postos e lucro. Tem que ser defini­da tecnicamente e debaixo de re­gras éticas. Exemplo disso: não se pode ganhar dinheiro com drogas ilícitas; não pode ter trabalho es­cravo; não pode poluir a nature­za. Isso são valores éticos e debai­xo disso o que é eficiente. É com a referida eficiência que teremos re­cursos para construir uma socieda­de justa, inclusive garantindo ren­da para quem não tiver emprego, pois a economia não dará emprego para todos. Você não pode obrigar uma empresa dar mais emprego do que ela precisa, senão ela quebra e o empresário vai embora. O segre­do para a economia ser eficiente é o equilíbrio fiscal. Por isso a taxa de juro tem que ser baixa, diminuin­do a necessidade de endividamen­to. A taxa de juro não é alta porque os banqueiros querem, ela vai fi­car baixa porque o governo quer. A taxa de juros vai baixar, quando não se precisar tanto de emprésti­mos. O governo precisa reduzir as suas necessidades de gastos, o que diminui o empréstimo nos bancos, enquanto que nós temos que ser mais austeros comprando menos coisas. Um exemplo onde foi apli­cado esse sistema e deu certo foi nos países escandinavos e na Eu­ropa principalmente. Contudo, a grande revolução será o filho do trabalhador estudando na mes­ma escola do patrão. Vale ressal­tar que desta forma não vamos des­perdiçar nenhum cérebro no Brasil. Quando aproveitamos todos os cé­rebros num país de dimensões con­tinentais como o nosso, certamen­te a produtividade vai crescer de uma forma muito forte e a econo­mia se torna eficiente. Lembro ain­da que no Brasil tem pobreza por duas razões: uma é porque concen­tra renda e a outra é que a econo­mia é pobre e sua renda per capta é baixa. Não adianta fecharmos os olhos para isso”, orientou Cristovam.

Alta tecnologia em foco

Entusiasta da tecnologia de pon­ta, o senador deixou transparecer que em suas viagens pelo Brasil, no período em que for substituí­do no cargo de senador pelo pe­tista Wilmar Lacerda, um ponto forte para atrair o voto da juven­tude, certamente será o seu conhe­cimento e vontade de implemen­tar na administração pública do País, os últimos recursos que a tec­nologia de ponta poderá propi­ciar num Brasil do futuro. Nesta seara ele disse: “precisamos usar com eficiência as tecnologias que já existem. Hoje é possível fazer um exame de sangue completo com uma gotinha de sangue. Existe um aparelhozinho que custa 20 dóla­res. Em casa você coloca o apare­lho e com uma agulhinha retira a gota de sangue, que em trinta mi­nutos a pessoa recebe o resultado pelo celular. O governo pode dis­tribuir aparelhos desta natureza pelo o Brasil a fora”, exemplificou e finalizou Cristovam Buarque.

Acredito firmemente que o pro­fessor da UnB Cristovam Buarque, em sua empreitada na discussão do Brasil, tem tudo para acabar con­vencendo Roberto Freire e o PPS de que ele é um excelente candida­to para presidente da República.

A sua tese de que não existe mais esquerda e nem direita e que o im­portante são pessoas de bem, pode­rá arrebanhar seguidores. No caso de Brasília ele explicou, que tanto rorizistas como petistas, ou aque­les que navegam em outras ondas, precisam se unir na construção de uma cidade melhor. Da mesma for­ma, isso deve ocorrer no Brasil do futuro segundo Cristovam.

Claro que o senador do PPS sabe que seu projeto é difícil e encontrará opositores pelo caminho, dentro e fora de seu partido. Como um bom timoneiro pernambucano e acostu­mado aos grandes debates, o sena­dor tem tudo para levantar a au­toestima dos brasileiros e mostrar que o país tem jeito. Lembrando que muitos pensam em abando­nar o Brasil, devido a corrupção sem precedentes da classe política, com aval de nossas elites, que con­centram o capital na mão de pou­cos e deixam a maioria na miséria. O discurso do pernambucano bra­siliense, poderá surpreender. Artis­tas como Siron Franco e outros que acreditam no parlamentar do PPS, certamente podem ajudar a levan­tar a bola para o ex-governador marcar um gol de placa.


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