Aliados de Bolsonaro discutiram costura no STF com Tarcísio antes de ato que gerou prisão domiciliar
Redação Online
Publicado em 5 de agosto de 2025 às 08:45 | Atualizado há 1 hora
Bruno Ribeiro – Folha Press
Auxiliares de Jair Bolsonao (PL) vinham articulando uma proposta ao STF (Supremo Tribunal Federal) para evitar a prisão do ex-presidente e queriam Tarcísio de Freitas (Republicanos) como mensageiro, mas o governador de São Paulo relutava em aceitar a missão.
A ideia frustrada agora pela decisão do ministro Alexandre de Moraes de impor prisão domiciliar ao ex-presidente, por descumprimento de medidas cautelares era indicar aos ministros que o bolsonarismo abriria mão de derrubar a inelegibilidade de Bolsonaro, vigente até 2030 por decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Em troca, o Supremo não faria movimentos para impedir que o Congresso Nacional votasse um projeto de anistia para a tentativa de golpe e os atos de 8 de janeiro de 2023.
Na prática, o grupo tentava tirar de foco a disputa eleitoral de 2026 e apresentar uma proposta de paz à Corte, em meio à série de consequências imprevistas que a crise política trouxe ao país, como a sobretaxa de 50% a produtos brasileiros nos Estados Unidos e as sanções ao ministro Alexandre de Moraes.
Bolsonaristas tentaram trazer Tarcísio para as articulações na semana passada, diante do entendimento de que ele tem bom diálogo com a corte, mas o governador se esquivou, segundo relatos feitos à reportagem.
Tarcísio disse que precisaria que Bolsonaro, seus filhos e demais aliados o legitimassem na função, mas que não via esse movimento ocorrer o governador é frequentemente criticado por não ser um “bolsonarista raiz”.
Além disso, ele lembrou aliados que já havia tentado uma interlocução recente com ministros em nome de Bolsonaro, mas obteve um resultado adverso: sua movimentação foi classificada como esdrúxula, conforme a Folha de S.Paulo revelou.
O episódio se referia à tentativa de obter o passaporte de Bolsonaro para que o ex-presidente fosse aos Estados Unidos evitar o tarifaço, no dia 10 do mês passado, quando a sobretaxa foi anunciada. Aos interlocutores, Tarcísio nega ter pedido o documento e diz que as conversas com os ministros foram apenas uma prospecção de possibilidades. Por isso, temia que uma nova aproximação também tivesse efeito reverso.
Embora não quisesse o protagonismo nas negociações, Tarcísio dizia, contudo, que uma costura de paz era necessária, ainda segundo relatos coletados pela reportagem, citando os prejuízos que a crise com Trump pode trazer ao estado -a expectativa de fechamento de mais de 40 mil postos de trabalho e o governo já anunciou uma liberação emergencial de R$ 1,5 bilhão a exportadores por meio de créditos tributários.
Até esta segunda-feira (4), Tarcísio tinha marcada para esta semana a participação um evento em Brasília que contaria também com presença do ministro Gilmar Mendes. O entorno do ex-presidente esperava que o primeiro passo para a criação de um clima favorável a um acordo fosse dado lá.
Não havia, porém, previsão de encontro reservado entre os dois no evento, de acordo com o entorno do governador.
Conforme informou a CNN Brasil na semana passada, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o líder do partido na Câmara, Sóstenes Cavalcante, já haviam tido uma reunião com Gilmar para buscar aproximação, em um encontro na casa do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia. Segundo relatos, o ministro não gostou da iniciativa, e o movimento foi considerado contraproducente.
Tarcísio diz aos auxiliares que tenta se encontrar com Bolsonaro ao menos uma vez por mês. Agora, com a prisão domiciliar determinada por Moraes, o encontro entre ambos terá de ser autorizado previamente pelo Supremo.
Após a declaração da prisão, o governador se pronunciou. “A prisão de Jair Bolsonaro é um absurdo. A verdade é que Bolsonaro foi julgado e condenado muito antes de tudo isso começar. Uma tentativa de golpe que não aconteceu, um crime que não existiu e acusações que ninguém consegue provar”, escreveu nas redes sociais.
Neste domingo (3), durante o protesto bolsonarista na avenida Paulista, embora Tarcísio tenha sido alvo do pastor Silas Malafaia que criticou a ausência de governadores, dois dirigentes do PL disseram à Folha, sob reserva, que o distanciamento do governador da manifestação com críticas à corte era um fator positivo, diante da posição que esperavam dele.
O cálculo do grupo mirava a eventual prisão do ex-presidente como consequência da condenação no inquérito da trama golpista e a estratégia não levou em conta que a participação do ex-presidente nos atos, por meio de um chamada ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), poderia levá-lo a uma prisão domiciliar cautelar, como ocorreu nesta segunda (4).
Bolsonaro vinha sendo descrito, na semana passada, como abatido e com a saúde frágil. Por causa das complicações decorrentes do atentado que sofreu em 2018, ele tem episódios de crises que o impedem de falar e sente desconforto.
Toda a articulação, porém, estava sido feita de forma isolada do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Tarcísio e uma parcela do PL querem manter distância do filho do ex-presidente, diante da percepção de que ele é um dos responsáveis pelas pressões do governo Trump ao Brasil e do embate constante com o ministro Moraes.
No evento da Paulista, Eduardo foi defendido em discursos e faixas. Ainda assim, parte do bolsonarismo avalia que o deputado precisa ficar isolado para não contaminar todo o grupo.
Aliados de ambos têm tentado construir pontes entre Tarcísio e Eduardo. Já foi oferecido ao governador um encontro com o deputado nos Estados Unidos. Tarcísio, contudo, tem declinado da oferta, dizendo não saber se Eduardo o receberia bem.
O projeto de anistia é alvo de pressão da base bolsonarista sobre a cúpula do Congresso, e a redução da resistência no Supremo seria uma forma de facilitar sua aceitação. O texto tende a ser questionado no STF e existem dúvidas se crimes como tentativa de golpe ou abolição violenta do Estado democrático podem ser anistiados. Há entendimento que os ministros poderiam barrá-lo.
Qualquer tipo de negociação envolvendo aliados de Bolsonaro enfrenta hoje forte resistência no Supremo, dada a animosidade dos embates. Mas bolsonaristas veem em Tarcísio um interlocutor ideal para a negociação, pelo perfil moderado que o governador teria, na visão do grupo.
A prisão de Bolsonaro, contudo, é decorrente do inquérito que apura coação e obstrução a investigação que Eduardo teria cometido no exterior, e não pelo inquérito que apura a tentativa de golpe.