Política

CEI da Limpa Gyn ouve cooperativas em Goiânia

Léo Carvalho

Publicado em 9 de outubro de 2025 às 14:47 | Atualizado há 2 horas

Cooperativas relataram à CEI da Limpeza queda na renda, redução de cooperados e falta de transparência após a terceirização da coleta seletiva | Foto: Divulgação
Cooperativas relataram à CEI da Limpeza queda na renda, redução de cooperados e falta de transparência após a terceirização da coleta seletiva | Foto: Divulgação

Comissão Especial de Inquérito (CEI) que investiga o contrato entre o Consórcio Limpa Gyn e a Prefeitura de Goiânia ouviu, nesta terça-feira (7), representantes de cooperativas de reciclagem da capital. O encontro teve como objetivo entender os reflexos da terceirização da coleta seletiva no trabalho das cooperativas, que relatam queda na renda, redução de cooperados e falhas na medição do material reciclável.

Durante o encontro, os cooperados apontaram que a coleta seletiva em Goiânia sofreu um retrocesso. Segundo os relatos, o material destinado às cooperativas é avaliado de forma subjetiva — no “olhômetro” — e não por peso, mesmo que o pagamento seja feito por tonelada. Das 12 cooperativas cadastradas pela Prefeitura, apenas uma possui balança própria para aferição.

“É um retrocesso. Me sinto de volta a 2008, quando começamos”, afirmou Dulce Helena do Vale, da Cooper-Rama, há 19 anos no setor. Ela contou que a transição para o modelo terceirizado foi feita sem planejamento, deixando as cooperativas cerca de 20 dias sem material para trabalhar. Além disso, o volume de resíduos recebidos pela Cooper-Rama teria caído pela metade — de 60 para 30 toneladas — e o número de cooperados passou de 40 para 12.

Dulce também relatou que os materiais chegam frequentemente sujos, molhados e misturados a resíduos orgânicos. No início do novo contrato, segundo ela, recicláveis chegaram até a ser despejados junto com lixo comum no aterro sanitário. “Trabalhamos por anos para conscientizar a população. Hoje, estamos sem rumo”, lamentou.

Falta de transparência e apoio

Os cooperados também denunciaram a falta de transparência e de controle na coleta seletiva. Segundo eles, o Município não apresenta relatórios que comprovem o envio de materiais às cooperativas nem oferece suporte técnico ou financeiro. Campanhas educativas voltadas à separação correta do lixo também deixaram de ser realizadas.

O reciclador Claubi Teixeira de Lemos, da Cooperativa Beija-Flor, defendeu a criação de uma lei municipal que regulamente o trabalho dos catadores e recicladores, a exemplo de outros municípios goianos. Ele destacou ainda a inatividade do comitê gestor da coleta seletiva, vinculado à Secretaria de Governo, que só teria se reunido uma vez desde a terceirização.

Falhas de gestão

Os vereadores da CEI consideraram graves as falhas apontadas pelos depoentes. O presidente da comissão, Welton Lemos (Solidariedade), afirmou que não há controle eficiente sobre o volume de resíduos coletados. “Falta uma forma técnica e precisa de gestão. Um contrato desse porte precisa ser monitorado com base em dados e medidas reais”, declarou.

O vereador Sanches da Federal (PP) também criticou a forma de medição do lixo, classificando-a como “frágil e amadora”. Segundo ele, o uso do “olhômetro” pode gerar distorções nos pagamentos feitos ao consórcio. “Sem uma medição objetiva, abre-se margem para erros e até favorecimentos”, alertou.

Próximos passos

Ao final da reunião, a CEI aprovou requerimentos para aprofundar as investigações. O vereador Fabrício Rosa (PT) solicitou à Secretaria de Infraestrutura (Seinfra) o processo completo da licitação que resultou na contratação do Consórcio Limpa Gyn e pediu a convocação dos responsáveis pelo certame.

O relator da comissão, Willian Veloso (PL), requereu perícias técnicas e contábeis nos documentos apresentados pela Seinfra e pelo consórcio, para verificar as informações prestadas pelo diretor executivo do Limpa Gyn, Renan Andrade, ouvido no dia 30 de setembro.

As análises devem embasar o relatório final da CEI, que segue apurando possíveis irregularidades na terceirização dos serviços de limpeza urbana e coleta seletiva em Goiânia.


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