Política

“Conglomerados de comunicação atuam como partidos políticos”

Redação DM

Publicado em 19 de julho de 2016 às 01:27 | Atualizado há 9 anos

  •  Jornalista informa que a eleição direta para a Fenaj ocorre hoje, amanhã e depois

  •  Ela defende a democratização da mídia e a criação de marco regulatório da comunicação

  •  Condenação de proposta de extinção da EBC e defesa de Ricardo Mello compõem plataforma

  •  Profissional de mídia vê golpe no Brasil, ataca Michel Temer e denuncia desmonte do Estado

 

– Os grandes veículos abandonaram o jornalismo para assumir o papel de partido de oposição ao governo federal – de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff.

É o que afirma Maria José Braga, candidata à presidência da Federação Nacional dos Jornalistas. As eleições para a Fenaj ocorrem hoje, amanhã e depois, em todo o Brasil. Em Goiás, haverá também a eleição para o Sindicato dos Jornalistas.

– A democratização dos meios de comunicação é uma das nossas bandeiras históricas!

Após condenar a formação de monopólios e oligopólios, Maria José Braga quer a criação de um marco regulatório para as comunicações, exorciza a proposta de extinção da EBC e defende a legalidade da permanência de Ricardo Mello na presidência.

– É preciso criarmos o Conselho Nacional de Comunicação, como órgão regulador e fiscalizador. Ressalto que existe órgão semelhante em outros países do mundo, como Estados Unidos, Inglaterra, Espanha e Portugal.

Crítica, Maria José Braga diz que impeachment, sem crime de responsabilidade, é golpe. Mais: ela afirma que Michel Temer quer promover o desmonte do Estado. Até o Ministério Público Federal admite que pedalada fiscal não constitui crime, explica.

– Expansão da internet e baixa qualidade dos produtos ofertados à sociedade explicariam a queda vertiginosa da tiragem dos grandes jornais impressos no Brasil. O futuro do jornalismo é o jornalismo bem feito, independentemente da plataforma midiática.

 

Di­á­rio da Ma­nhã – Qual a sua pla­ta­for­ma à pre­si­dên­cia da Fe­de­ra­ção Na­ci­o­nal dos Jor­na­lis­tas?

Ma­ria Jo­sé Bra­ga – Mi­nha can­di­da­tu­ra à pre­si­dên­cia da Fenaj tem co­mo ob­je­ti­vo a con­ti­nui­da­de do tra­ba­lho que vem sen­do de­sen­vol­vi­do nos úl­ti­mos anos pe­lo gru­po po­lí­ti­co que es­tá à fren­te da nos­sa Fe­de­ra­ção. Es­te tra­ba­lho po­de ser di­vi­di­do em três gran­des ei­xos de lu­ta: de­fe­sa do Jor­na­lis­mo co­mo ati­vi­da­de es­sen­cial à de­mo­cra­cia; de­fe­sa do jor­na­lis­ta co­mo pro­fis­si­o­nal que faz Jor­na­lis­mo e de­fe­sa da de­mo­cra­ti­za­ção dos mei­os de co­mu­ni­ca­ção e das li­ber­da­des de ex­pres­são e de im­pren­sa. Ca­da gran­de ei­xo se des­do­bra em di­ver­sas fren­tes de tra­ba­lho. Ao de­fen­der o Jor­na­lis­mo co­mo ati­vi­da­de ne­ces­sá­ria so­ci­al­men­te, de­fen­de­mos a re­gu­la­men­ta­ção da ati­vi­da­de jor­na­lís­ti­ca, com a re­gu­la­men­ta­ção da pro­fis­são e tam­bém a cri­a­ção do Es­ta­tu­to do Jor­na­lis­mo Bra­si­lei­ro, com obri­ga­ções pa­ra a ca­te­go­ria pro­fis­si­o­nal, mas tam­bém pa­ra os em­pre­sá­rios que ex­plo­ram o Jor­na­lis­mo co­mo ne­gó­cio. Na de­fe­sa do jor­na­lis­ta, te­mos vá­ri­as ba­ta­lhas, que in­clu­em des­de a cri­a­ção do Pi­so Na­ci­o­nal da ca­te­go­ria até a ques­tão da se­gu­ran­ça dos pro­fis­si­o­nais, que têm si­do ví­ti­mas fre­quen­tes de vi­o­lên­cia no Bra­sil e em vá­rios paí­ses do mun­do. Em re­la­ção à de­mo­cra­ti­za­ção dos mei­os de co­mu­ni­ca­ção, as fren­tes de lu­ta são mui­tas, a co­me­çar pe­la re­gu­la­men­ta­ção do Ca­pí­tu­lo V da Cons­ti­tu­i­ção Fe­de­ral que, pre­vê, en­tre ou­tras coi­sas, a pro­i­bi­ção de mo­no­pó­li­os e oli­go­pó­li­os na área das co­mu­ni­ca­ções e a re­gi­o­na­li­za­ção da pro­du­ção ar­tís­ti­ca, cul­tu­ral e jor­na­lís­ti­ca. E, cla­ro, so­mos nós os jor­na­lis­tas e não as em­pre­sas de co­mu­ni­ca­ção que de­fen­de­mos de fa­to as li­ber­da­des de ex­pres­são e de im­pren­sa.

          

DM – Quan­do se­rá a elei­ção, quan­tas cha­pas em dis­pu­ta, on­de vo­tar e quem tem di­rei­to a vo­to?

Ma­ria Jo­sé Bra­ga – Pri­mei­ra­men­te, eu que­ria des­ta­car que a FE­NAJ é a úni­ca fe­de­ra­ção sin­di­cal do mun­do que faz elei­ções di­re­tas pa­ra a es­co­lha de seus di­ri­gen­tes. Is­so é um gran­de de­sa­fio, mas é a me­lhor for­ma de ga­ran­tir o de­ba­te de­mo­crá­ti­co e a par­ti­ci­pa­ção de to­da a ca­te­go­ria no pro­ces­so elei­to­ral. To­do jor­na­lis­ta sin­di­ca­li­za­do e em dia com sua en­ti­da­de sin­di­cal po­de vo­tar. As elei­ções são or­ga­ni­za­das por uma Co­mis­são Elei­to­ral Na­ci­o­nal, es­co­lhi­da pe­lo Con­se­lho de Re­pre­sen­tan­tes da FE­NAJ, e pe­las co­mis­sões re­gi­o­nais/lo­ca­is, cons­ti­tu­í­das pe­los 31 Sin­di­ca­tos de Jor­na­lis­tas exis­ten­tes no pa­ís. Du­as cha­pas es­tão na dis­pu­ta e as elei­ções vão ocor­rer nos di­as 19, 20 e 21. Em Go­i­ás, na Ba­hia, no Ce­a­rá, em Per­nam­bu­co, no mu­ni­cí­pio do Rio de Ja­nei­ro e no Rio Gran­de do Sul ocor­rem si­mul­ta­ne­a­men­te elei­ções pa­ra a re­no­va­ção das di­re­to­ri­as dos Sin­di­ca­tos.

 

DM – A de­mo­cra­ti­za­ção da mí­dia, no Bra­sil, com­põe a sua agen­da?

Ma­ria Jo­sé Bra­ga – A de­mo­cra­ti­za­ção dos mei­os de co­mu­ni­ca­ção é uma das ban­dei­ras his­tó­ri­cas da FE­NAJ e, cla­ro, vai con­ti­nu­ar no cen­tro da nos­sa lu­ta. Já ci­tei a ne­ces­si­da­de de re­gu­la­men­ta­ção do Ca­pí­tu­lo V da Cons­ti­tu­i­ção Fe­de­ral, mas de­fen­de­mos o que cha­ma­mos de no­vo Mar­co Re­gu­la­tó­rio das Co­mu­ni­ca­ções, que po­de ser com­pos­to por um con­jun­to de leis que ga­ran­tam mais de­mo­cra­cia no se­tor. No Bra­sil, as em­pre­sas de co­mu­ni­ca­ção têm um po­der mui­to gran­de e a so­ci­e­da­de não tem di­rei­to al­gum, quan­do se tra­ta de co­mu­ni­ca­ção so­ci­al. O ci­da­dão e a ci­da­dã bra­si­lei­ra pre­ci­sam ter me­ca­nis­mos pa­ra en­fren­tar a atu­a­ção mui­tas ve­zes abu­si­va des­ses mei­os de co­mu­ni­ca­ção. Por is­so, de­fen­de­mos a cri­a­ção do Con­se­lho Na­ci­o­nal de Co­mu­ni­ca­ção, co­mo ór­gão re­gu­la­dor e fis­ca­li­za­dor. E res­sal­to que exis­te ór­gão se­me­lhan­te em ou­tros paí­ses do mun­do, co­mo Es­ta­dos Uni­dos, In­gla­ter­ra, Es­pa­nha e Por­tu­gal. Por­tan­to, não se tra­ta de cen­su­ra – co­mo sem­pre di­zem os re­pre­sen­tan­tes das em­pre­sas de mí­dia -, mas de uma re­gu­la­ção e fis­ca­li­za­ção de­mo­crá­ti­ca.

 

DM – O que a se­nho­ra pen­sa so­bre a pro­pos­ta de ex­tin­ção da EBC?

Ma­ria Jo­sé Bra­ga – A Em­pre­sa Bra­sil de Co­mu­ni­ca­ção (EBC) es­tá ame­a­ça­da pe­lo go­ver­no gol­pis­ta. Em to­do mun­do, os sis­te­mas pú­bli­cos de co­mu­ni­ca­ção con­tri­bu­em pa­ra a de­mo­cra­ti­za­ção da co­mu­ni­ca­ção e pa­ra a cri­a­ção de pa­ra­dig­mas na pro­du­ção ar­tís­ti­ca, cul­tu­ral e jor­na­lís­ti­ca. A BBC é o mai­or e mais co­nhe­ci­do exem­plo de em­pre­sa pú­bli­ca de co­mu­ni­ca­ção. A PBS nos Es­ta­dos Uni­dos tem um gran­de pa­pel na di­vul­ga­ção da cul­tu­ra da­que­le pa­ís. No Bra­sil, in­fe­liz­men­te, te­mos uma gran­de pre­pon­de­rân­cia do sis­te­ma pri­va­do e is­so pre­ci­sa mu­dar. A EBC foi cri­a­da pe­lo ex-pre­si­den­te Lu­la e já mos­trou sua im­por­tân­cia em pou­quís­si­mo tem­po de vi­da. Jus­ta­men­te por seu pa­pel pú­bli­co, es­tão ame­a­çan­do-a. A ame­a­ça é re­al. Mi­chel Te­mer po­de mo­di­fi­car a lei que a cri­ou a EBC co­mo uma em­pre­sa pú­bli­ca, pa­ra re­du­zi-la a uma em­pre­sa go­ver­na­men­tal.

 

DM – O man­da­to de Ri­car­do Mel­lo é le­gal e de­ve ou não ser de­fen­di­do?

Ma­ria Jo­sé Bra­ga – O man­da­to do pre­si­den­te da EBC é le­gal e de­ve ser de­fen­di­do. A Fenaj foi a pri­mei­ra en­ti­da­de a de­nun­ci­ar que o go­ver­no gol­pis­ta es­ta­va des­res­pei­tan­do a lei ao des­ti­tuí-lo e fo­mos ao Mi­nis­té­rio Pú­bli­co Fe­de­ral pe­din­do uma ação em de­fe­sa do res­pei­to à lei que cri­ou a EBC. Es­ta lei pre­vê man­da­to de 4 anos pa­ra o pre­si­den­te, que so­men­te po­de ser des­ti­tu­í­do por de­ci­são do Con­se­lho Cu­ra­dor da em­pre­sa. Mi­chel Te­mer che­gou ao Pla­nal­to e ime­di­a­ta­men­te des­ti­tu­iu o pre­si­den­te. Fe­liz­men­te a Jus­ti­ça fez pre­va­le­cer a lei e o pre­si­den­te Ri­car­do Me­lo vol­tou ao seu pos­to.

 

DM – Os gran­des con­glo­me­ra­dos de co­mu­ni­ca­ção, no Bra­sil, im­pri­mi­ram uma co­ber­tu­ra éti­ca so­bre a cri­se que afas­tou Dil­ma Rous­seff?

Ma­ria Jo­sé Bra­ga – De­fi­ni­ti­va­men­te, não. A Fenaj, des­de 2015, vem de­nun­ci­an­do a atu­a­ção par­ti­da­ri­za­da dos gran­des ve­í­cu­los de co­mu­ni­ca­ção. Os gran­des ve­í­cu­los aban­do­na­ram o Jor­na­lis­mo pa­ra as­su­mir o pa­pel de par­ti­do de opo­si­ção ao go­ver­no fe­de­ral. Is­so foi in­clu­si­ve as­su­mi­do pu­bli­ca­men­te pe­la ex-pre­si­den­te da As­so­cia­ção Na­ci­o­nal dos Jor­nais (ANJ) Ju­dith Bri­to, exe­cu­ti­va do jor­nal Fo­lha de S. Pau­lo. Ain­da no go­ver­no Lu­la, ela afir­mou em en­tre­vis­ta que a im­pren­sa ti­nha as­su­mi­do o pa­pel de opo­si­ção ao go­ver­no, por­que os par­ti­dos de opo­si­ção es­ta­vam mui­to fra­cos.

 

DM – Im­pe­achment, sem cri­me de res­pon­sa­bi­li­da­de, po­de ser clas­si­fi­ca­do co­mo gol­pe?

Ma­ria Jo­sé Bra­ga – Não te­mos dú­vi­das de que es­ta­mos vi­ven­do um gol­pe no Bra­sil. O im­pe­achment é uma far­sa mon­ta­da pa­ra dar um ar de le­ga­li­da­de ao gol­pe. Até o Mi­nis­té­rio Pú­bli­co Fe­de­ral já re­co­nhe­ceu que as cha­ma­das pe­da­la­das fis­cais não cons­ti­tu­em cri­me de res­pon­sa­bi­li­da­de. En­tão, o úni­co ar­gu­men­to con­tra a pre­si­den­ta Dil­ma caiu por ter­ra. A mí­dia fi­cou em si­lên­cio, por­que faz par­te do gol­pe em an­da­men­to, as­sim co­mo ig­no­ra as inú­me­ras ma­ni­fes­ta­ções po­pu­la­res con­tra o gol­pe que têm ocor­ri­do em to­do o pa­ís.

 

DM – O que es­pe­rar das re­for­mas – Pre­vi­den­ci­á­ria e Tra­ba­lhis­ta – anun­ci­a­das por Mi­chel Te­mer?

Ma­ria Jo­sé Bra­ga – O pi­or. O go­ver­no gol­pis­ta e in­te­ri­no tem a mis­são de des­man­te­lar o Es­ta­do bra­si­lei­ro, en­tre­gar nos­sas ri­que­zas – prin­ci­pal­men­te o pré-sal – e re­ti­rar os di­rei­tos con­quis­ta­dos pe­la clas­se tra­ba­lha­do­ra. Há al­guns anos, a di­rei­ta bra­si­lei­ra (que é cons­ti­tu­í­da pe­la eli­te eco­nô­mi­ca do pa­ís), ten­ta eli­mi­nar os di­rei­tos tra­ba­lhis­tas ga­ran­ti­dos pe­la CLT. Os tra­ba­lha­do­res têm re­sis­ti­do e im­pe­di­do o re­tro­ces­so. Mas o go­ver­no gol­pis­ta, apoi­a­do por es­se Con­gres­so Na­ci­o­nal con­ser­va­dor, tem pres­sa em pro­mo­ver o des­mon­te da CLT, as­sim co­mo tem pres­sa em fa­zer a re­for­ma pre­vi­den­ci­á­ria, que na­da mais é do que re­ti­rar di­rei­tos dos tra­ba­lha­do­res. Te­mos de re­sis­tir.

 

DM – Co­mo ex­pli­car a que­da ver­ti­gi­no­sa na ti­ra­gem dos gran­des ve­í­cu­los de co­mu­ni­ca­ção do su­por­te im­pres­so?

Ma­ria Jo­sé Bra­ga – Es­sa não é uma aná­li­se fá­cil e, acre­di­to, tem vá­rios fa­to­res as­so­cia­dos. O prin­ci­pal de­les, sem dú­vi­da, é a ex­pan­são da in­ter­net. É mui­to mais ba­ra­to fa­zer um jor­nal ou uma re­vis­ta na pla­ta­for­ma vir­tu­al. Pa­pel cus­ta ca­ro, im­pres­são cus­ta ca­ro e a lo­gís­ti­ca de dis­tri­bui­ção tam­bém é ca­ra e len­ta. Por is­so, mui­tos jor­nais e re­vis­tas dei­xa­ram de exis­tir em pa­pel e es­tão so­men­te na in­ter­net. Mas exis­tem ou­tros fa­to­res, co­mo a bai­xa qua­li­da­de dos pro­du­tos ofer­ta­dos à so­ci­e­da­de.

 

DM – O fu­tu­ro do jor­na­lis­mo é a in­ter­net?

Ma­ria Jo­sé Bra­ga – Cos­tu­mo di­zer que o fu­tu­ro do Jor­na­lis­mo é o Jor­na­lis­mo bem fei­to, in­de­pen­den­te­men­te da pla­ta­for­ma mi­di­á­ti­ca. A te­le­vi­são, o rá­dio, a in­ter­net e mes­mo o im­pres­so po­dem e de­vem ser pla­ta­for­mas bem uti­li­za­das pa­ra a di­fu­são da in­for­ma­ção jor­na­lís­ti­ca.

 

 



Proibição de monopólios e oligopólios na área das comunicações e a regionalização da produção artística”

Maria José Braga,Jornalista

 

Perfil

Nome: Maria José Braga

Idade: 52 anos

Formação: Graduada em Jornalismo e em Filosofia pela Universidade Federal de Goiás e mestre em Filosofia pela mesma universidade.

Onde trabalha: É jornalista concursada do Instituto Federal de Goiás (IFG), foi repórter do jornal O Popular e atuou como assessora de imprensa em diversas entidades.

 

 

 


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