Daniel desautoriza Maguito e toca projeto, contra tudo e contra todos
Diário da Manhã
Publicado em 5 de maio de 2018 às 01:30 | Atualizado há 7 anos
Maguito Vilela continua criando dificuldades para o candidato a governador pelo MDB, o deputado federal Daniel Vilela. Abusando de suas prerrogativas de pai do postulante, Maguito tem dado declarações aos jornais e às emissoras de rádio sem antes combinar as falas com Daniel. E o resultado é que Maguito fala e logo depois Daniel o desmente.
Maguito se arrogou a função de porta-voz e coordenador principal do projeto de Daniel, e ainda age isoladamente como se fosse o dirigente máximo do MDB goiano. Ele nem sequer é membro da Executiva do partido. Ademais, o candidato é Daniel, mas o grande líder do MDB ainda é Iris Rezende.
Pegou muito mal nos arrarais da oposição a entrevista de Maguito traçando diretrizes políticas de ação partidária. Ele diz que está dialogando com José Eliton e Marconi Perillo. É um segredo de polichinelo. Todas as torcidas, do Vila Nova – a maior de Goiás – , a do Atlético, do Goiânia, do Goiás e da Aparecidense sabem que há tempos Maguito bate papo com o Palácio das Esmeraldas e sonha em fazer uma coligação MDB/PSDB. É direito dele sonhar.
A maneira como Maguito quer realizar este sonho é que causa espécie, e está virando o pesadelo de Daniel. Maguito, conquanto líder de peso e de respeitável passado, não fala pelo MDB. Existem outros líderes que deveriam ser consultados a respeito. Um deles, caso Maguito não saiba quem é, atende pelo nome de Iris Rezende.
O problema de Maguito é achar que, com diálogo, tudo se resolve. Nem tudo. Primeiro é preciso catequizar os peemedebistas. Convencer os peemedebistas a sentar-se à mesa com os marconistas. Segundo: é preciso definir uma pauta. Afinal, sobre o que mesmo Maguito quer conversar com José Eliton – ou com Caiado. Terceiro: Maguito não é nenhuma criança para saber que não tem como trazer Caiado para sentar-se à mesa com José Eliton. Ele tem que escolher: ou bem conversa com os tucanos ou prioriza diálogo com Caiado.
O diálogo precisa ser presidido pela boa-fé. Maguito precisa apresentar aos seus interlocutores uma proposta que eles não ousariam recusar, como diria Dom Corleone. Nem Caiado nem José Eliton, que estão confortáveis em suas respectivas siglas partidárias, vão abrir mão de ser candidato a governador para abraçar a pretensão de Daniel.
Daniel, abrindo mão de sua candidatura, talvez viabilizasse negociações com um lado ou com outro. Mas a questão é: Maguito tem poderes para dispor das pretensões de Daniel? Não tem. As declarações de Daniel taxando de “especulações” a proposta de Maguito, de abrir negociações com o PSDB, deixam evidentes que o venerando progenitor não tem procuração do filho pouco obediente para entrar em tratativas com o adversário.
Muito pelo contrário, até. O jovem e presunçoso deputado emedebista deu declarações a O Popular fazendo troça da situação. Disse que só vai conversar com Zé Eliton depois das eleições, dais quais garante sair vencedor, para tratar da transição. E aproveita para dar uma cutucada: a nomeação de Sérgio Cardoso para o TCE, dando a entender que vai explorar amplamente a mancada do governador entrante.
MARGENS ESTREITAS
Toda essa ansiedade de Maguito talvez se explique pelo crescente isolamento de Daniel Vilela na constelação oposicionista. Neste momento, é inegável o favoritismo de Caiado. Já Daniel corre o risco de ficar atrás de Zé Eliton. A disputa tenderá a ser entre Caiado e Zé Eliton. Seria temerário neste momento prever vitória em primeiro turno. Ou eleição decidida no primeiro. Os dados estão rolando.
O problema de Daniel é que ninguém o quer como aliado. Fontes caiadistas informam que tanto Caiado como seus alidados peemedebistas não querem mais acordo com o jovem deputado federal. Não o querem na chapa. Também já desistiram da ideia de tomar a convenção peemedebista de assalto. Avaliam que não terão poderes para isso. É que Daniel vem usando seus poderes quase absolutos de presidente da sigla para dissolver diretórios e nomear comissões provisórias, a velha técnica dos donos de partidos nanicos para controlar as siglas. Técnica muito usada, diga-se de passagem, por Ronaldo Caiado para controlar o DEM. A ala caiadista do MDB vai abandonar o partido e se filiar em alguma sigla amigável. José Nelto, o ex-líder do MDB na Assembleia Legislativa, foi o primeiro a abandonar a canoa furada.
Enfim, Daniel vai transformando o MDB em partido nanico. Os últimos vestígios de democracia interna se perderam. Uma queixa amarga que se faz é que ele decide tudo autocraticamente, sem consultar sequer a executiva do partido. Com isso, ele acabou perdendo o apoio daquelas forças que o levaram a eleger-se presidente regional do MDB.
A condição de apoiar uma chapa que era malvista por Iris era que Daniel só tomasse decisões colegiadas, e que até seu posicionamento na Câmara fosse discutido com os camaradas. Daniel é criticado por ter aceitado a relatoria da reforma trabalhista, por ter patrocinado projeto de lei que entregou o patrimônio das União às teles, e outras cositas más.
José Nelto apoiou a deposição de Dilma. Mas, raciocinando em linha de rigor pragmático, ele observa que Daniel deveria ter sido leal à ex-presidente, pois, observa ele, foi graças ao apoio dos governos petistas, concedendo generosamente verbas para Aparecida de Goiânia, é que ali Maguito pôde fazer uma administração modelar e bem avaliada. Nelto acha que os Vilela estão sendo ingratos, cuspindo no prato em que comeram. E esse tipo de deslise moral é reparado pelo eleitor.
Mas talvez Daniel queira emancipar-se politicamente, escapar da tutela de Maguito, afirmar sua maioridade. E tenta passar a imagem de que ele, Daniel, é uma coisa, e seu pai, Maguito, outra entidade. Daniel faz o que quer, não o que Maguito manda.
MAIORIDADE
Na sua busca pela maioridade política, Daniel acaba às vezes fazendo bobagens. Ameaçar de expulsão os prefeitos caiadista é uma delas. Não que eles não mereçam. São uns quinta-colunas. É que, do ponto de vista da legalidade interna, não cometeram delito. A pretensão egocêntrica de Daniel de ser candidato do MDB não é lei universal. Ainda não existe uma posição oficial do partido, que só poderá ser definida em convenção. Até lá, os prefeitos caiadistas têm todo o direito de propor à convenção do partido outra linha eleitoral.
Daniel, de resto, é a última pessoa legitimada a cobrar o alinhamento dos caiadistas do MDB com sua candidatura. Ainda está fresca na memória de todos que Daniel foi contra a expulsão de Júnior Friboi, apesar de ser aquele expurgo legitimado pelos Estatutos, pois Friboi rebelou-se contra decisão orgânica, aprovada em convenção.
Na avaliação dos aliados de Caiado, o projeto de Daniel vai desmoronar antes de agosto. Talvez ele até consiga manter o domínio da sigla. Mas terá que marchar sozinho, coligado apenas com partidecos de terceira linha, admitidos à aliança para prover ao candidato alguns segundos de televisão, que serão usados pelos marqueteiros para encher linguiça.
Até agora não se sabe sequer quem vai compor a chapa dele. Quem irá de vice? Cadê os candidatos a senador? Enquanto do lado de Caiado e de Zé Eliton briga-se para entrar na chapa majoritária, no MDB nenhum político de prestígio se apresenta para o sacrifício. Já o prefeito de Goiânia, Iris Rezende, embora tenha declarado formalmente apoio a Daniel, tem confidenciado que não vai entrar na campanha. Também não vai articular apoio. Vai ficar na dele, cuidando de suas obrigações municipais.
Uma vez que Caiado não vai segurar em alça de caixão emedebista, e posto que o PT também já deixou claro que com Daniel não vai caminhar, resta a desesperada tentativa de aliança com o tradicional adversário, o marconismo. Não seria mau negócio de Daniel estivesse disposto a fazer concessões e a rebaixar suas pretensões. Mas Daniel não parece disposto a descer das nuvens.
Na sua busca pela maioridade política, Daniel acaba às vezes fazendo bobagens. Ameaçar de expulsão os prefeitos caiadista é uma delas. Não que eles não mereçam. São uns quinta-colunas”